Todo mundo viu, na semana passada, o vídeo do caminhoneiro que dormiu ao volante, bateu em um carro e provocou um sinistro (antigamente chamado de acidente) que resultou na morte do advogado que guiava o carro. Esse caso se soma a muitos outros vistos recentemente de caminhões que prensam veículos menores e causam tragédias diversas nas rodovias brasileiras. Diante de tantas ocorrências, não há como não se questionar: por que os caminhoneiros dormem tanto ao volante?
Algumas respostas:
– Porque muitas transportadoras escolheram abastecer seus caminhões nas próprias sedes, com isso, os postos passaram a precisar restringir seus pátios, logo, o caminhoneiro não pode simplesmente parar quando está cansado, como o motorista de carro faz, ele só pode parar em locais específicos. Se ficar cansado antes de chegar lá, ele que lute.
– Porque a empresa pede para ele continuar rodando. As vezes esse “pedido” vem em forma de comissão, ou seja, ele só ganha um percentual da carga de entrega. E se um cliente demora pra receber a carga? Problema do motorista. Ele que rode extra pra compensar o tempo perdido.
– Porque muito embarcador demora horas pra soltar a nota, quando solta, mesmo que o motorista esteja já na hora de descansar, ele obriga o motorista a sair de suas dependências e ele que se arranje pra dormir.
– Porque diversos embarcadores obrigam o motorista a cumprir horário de agendamento, mas quando ele chega lá, na verdade passa o dia todo puxando uma fila, sem poder descansar. Se bobear, perda a vez.
– Porque a sociedade segue sem entender que essa profissão é fundamental para que a economia gire, por isso acha normal tratar mal motorista.
– Porque o próprio caminhoneiro não entende que ele precisa impor seus limites. Ao aceitar jornadas além de suas capacidades, ele se coloca e coloca a todos em perigo.
– Porque na profissão de caminhoneiro, assim como em todas, existem bons e maus profissionais. Alguns realmente são irresponsáveis ao volante. Mas antes de achar que esse é o caso de todos, considere os porquês acima.

Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.