Apelidada de “rodovia da morte”, a BR 251 foi projetada em 1970, com o objetivo de ligar o Nordeste a Goiás. Apesar do tempo, a rodovia nunca foi concluída. Hoje, ela é fragmentada e perigosa.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que, entre janeiro e junho deste ano, 180 pessoas foram vítimas de acidentes na rodovia, e, entre elas, 23 morreram. A média é de uma pessoa ferida por dia e uma morte por semana.
Os problemas vão desde a falta de pavimentação até a má qualidade do asfalto, falta de planejamento e sinalização. Somente em Minas Gerais, a rodovia é composta de quatro trechos distintos, que alternam pavimentação e terra.
Veja também: Obras em trechos perigosos reduzem fatalidades em 23% em São Paulo
Este mês, um acidente envolvendo 11 veículos chamou atenção para os problemas da rodovia. O engavetamento matou pelo menos 8 pessoas e deixou 53 feridas e 3 desaparecidas, num total de 64 vítimas, no Km 474 na Serra de Francisco Sá, no Norte do estado. As informações são do Hoje em Dia.
O acidente foi o estopim para que a própria população da região resolvesse se manifestar contra o atraso das obras e pedir soluções ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Trechos perigosos
O trecho da BR 251 que liga as cidades de Montes Claros e Salinas, em Minas Gerais, é considerado um dos mais perigosos da rodovia. Segundo dados oficiais, circulam por ali aproximadamente 10 mil veículos por dia. O trecho é traiçoeiro, cheio de curvas e estradeiros reclamam do asfalto, que é muito liso, facilitando acidentes.
Já o trecho em que o engavetamento envolvendo 11 veículos aconteceu, em Francisco Sá, também é palco de muitos acidentes. A própria população atribui o fato à imprudência de motorista, além dos problemas da BR 521.
A BR 251 registrou aumento de 138% no número de mortes em 2017 na comparação com o ano anterior. Foram 50 contra 21. Este ano, os números já são assustadores. Um dos acidentes mais graves ocorreu logo nos primeiros dias de janeiro. Seis veículos se envolveram num acidente perto de Bocaina, entre os municípios de Francisco Sá e Salinas, deixando 13 mortos e mais de 30 feridos.
Histórico de falta de verba
Em 2013, o Dnit informou ao Estado de Minas que estava em fase de aprovação projeto que prevê intervenções na BR 251, nos 340,5 quilômetros entre o Km 197,3 (BR 116) e o Km 537,8 (Montes Claros).
Na época, estava previsto edital dividido em dois lotes, com custo estimado em R$ 800 milhões e prazo de execução de 36 meses. Cinco anos depois, nada saiu do papel.
O Dnit informou ontem, por meio de nota, que o trecho da rodovia BR 251 onde ocorreu o acidente tem contrato de manutenção vigente. “Tanto o pavimento quanto a sinalização (horizontal e vertical) estão em boas condições”, afirma o texto.
O departamento acrescentou que tem projeto executivo para obras de grande vulto do entrocamento com a BR-116 até Montes Claros – Km 197,3 ao Km 526,1, numa extensão de 328,8 quilômetros.
Entre as intervenções, estão previstos a mudança de traçado na Serra de Francisco Sá e a implantação de 110 quilômetros de terceira faixa ao longo da rodovia. O investimento tem valor de R$ 1 bilhão e depende de dotação orçamentária do governo federal, segundo o Dnit.
Quais são os planos?
No último dia 25, a população se reuniu com representantes do Dnit para debater sobre as necessidades da BR 251. O Ministério Público, que deveria enviar representantes para a reunião, fez um pronunciamento por telefone e participou do debate a distância.
Ambos os órgãos concordaram com obras para correção e melhoras nos trechos mais críticos da BR 251. A conversa com a população girou entorno de uma ação na Justiça pedindo ao governo para liberar a verba necessária para efetuar essas correções em trechos específicos.
Entramos em contato com o Dnit para saber mais sobre os planos para essa rodovia. Na íntegra, a resposta foi:
“O Dnit vem promovendo as ações de manutenção no trecho entre Montes Claros e a BR 116 procurando manter a pista em boas condições de trafegabilidade.
As melhorias operacionais e estruturais na rodovia dependem da contratação dos serviços de adequação, cujo projeto está aprovado e carece de recurso.”
Assista: Dia a dia no trecho, um caminhoneiro tem seus pneus destruídos depois de passar pela BR 251
Por Pietra Alcântara