Na quarta-feira, 8 de dezembro, o Copom aumentou a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, alcançando a marca de 9,25%. Essa foi a sétima subida seguida da taxa e o valor é o maior desde julho de 2017. Mas e daí, como a taxa Selic influencia a vida do caminhoneiro? Em outras palavras, por que o motorista precisa se preocupar com essa informação?
O que é a taxa Selic?
Selic quer dizer Sistema Especial de Liquidação e Custódia, mas o que importa é saber que essa é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ou seja, é ela que vai nortear as taxas que bancos e outras instituições usarão.
Quem define Selic é o Copom. Essa sigla quer dizer Comitê de Política Monetária, ou seja, um grupo de pessoas que se reúne para analisar a situação atual da economia e decidir os próximos passos do governo em relação ao momento. Esse comitê faz parte do Banco Central.
Por que a Selic varia?
A taxa de juros é uma das formas que o governo tem de controlar a inflação ou estimular a economia. Ele vai usar para uma ou outra coisa dependendo do momento. Atualmente, um dos grandes problemas do Brasil é a alta da inflação. Quando isso acontece, o Banco Central sobe a Selic para que empréstimos, consórcios, financiamentos e o crédito em geral fique mais caro. Com o crédito mais caro, as pessoas gastam menos. Gastando menos, os preços tendem a parar de subir.
Em compensação, quando o governo quer estimular a economia, ele baixa a Selic. Com Selic mais baixa as pessoas compram mais, tomam mais empréstimos, os empresários investem mais e tudo isso aquece o mercado.
Com o mercado aquecido, os preços podem voltar a subir, a inflação pode voltar a incomodar e aí o Copom pode decidir aumentar a Selic de novo. Ou seja, um ciclo puxa o outro, por isso ela varia bastante.
E como a taxa Selic influencia o mercado de transporte e o caminhoneiro?
Essa mudança afeta o estradeiro de forma direta e indireta. Até o mês de março e Selic estava em 2% ao ano. Os bancos usavam essa base para definir taxas de empréstimo, consórcio e financiamentos. Com o aumento gradativo da Selic desde então, as taxas cobradas pelos bancos também aumentaram.
A mesma coisa ocorre com o crédito para comprar pneus ou outros elementos necessários à manutenção do caminhão. Ou seja, o primeiro impacto direto do aumento da Selic é o aumento nas taxas de financiamento e crédito no geral. Veja abaixo a evolução da Selic e das taxas de juros para compra de veículos.
Além disso, existe ainda o impacto indireto. Por exemplo, se uma empresa pensava em contratar um empréstimo para aumentar a produção, com juros mais altos ela pode decidir não fazer isso agora. Se ela aumentasse a produção, geraria maior demanda de transporte, que traria mais trabalho ao caminhoneiro.
E ainda, essa empresa geraria mais empregos, diminuindo o desemprego e aumentando o poder de compra dessas pessoas que agora estariam empregadas. Essas pessoas então poderiam consumir mais, com isso aquecer a economia e, por fim, gerar mais demanda de transporte. Ao não aumentar a produção, todo esse fluxo descrito não acontecerá. Isso, obviamente, não afeta apenas o caminhoneiro, mas a economia do País como um todo.
Tem algo de positivo nesse aumento de juros?
Sim, sempre tem. O primeiro ponto é controlar a inflação. Este ano ela já acumula alta de 10,67% nos últimos 12 meses. Isso quer dizer que se algo custava R$ 100 um ano atrás, agora está custando R$ 110,67. A meta do governo era que a inflação fechasse o ano em 3,75%, ou seja, ela está muito acima do saudável e o governo precisa agir para segurá-la.
Outro ponto positivo é que quem tem dinheiro investido em renda fixa vai ver o dinheiro render um pouco mais. A poupança sai de 70% do valor da Selic e agora renderá 0,5% ao mês, o que dá 6,17% ao ano. Isso fica abaixo da inflação e da própria taxa Selic. Já os títulos do Tesouro Selic, que qualquer um pode investir e são mais seguros que a poupança, acompanham a taxa, ou seja, ficam agora em 9,25% ao ano.
Por fim, vale destacar que o Copom sinalizou no relatório que acompanha o comunicado que deve subir a Selic em mais 1,5 ponto no próximo encontro, daqui a 45 dias. Assim, é necessário também acompanhar as notícias de economia, já que todos esses fatores estão sempre influenciando a vida do estradeiro.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
MUITO ESCLARECEDOR, PAULA TOCO, PARABÉNS!