Estima-se que o mercado de óleo lubrificante falso corresponde a, aproximadamente, 10% de todo o volume global distribuído, e, no Brasil, a história não é diferente e vem impactando de maneira crescente consumidores e mecânicos.
O problema é que, diferentemente do combustível adulterado, o lubrificante age de maneira silenciosa, estragando os componentes do motor aos poucos e sem deixar um sinal imediato.
O Comércio do óleo lubrificante falsificado
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, no Brasil, no período de 01 de janeiro até 31 de dezembro de 2023, foram apreendidos 83.451 litros de óleo lubrificante por não conformidade com as resoluções da ANP.
A principal causa das apreensões é lubrificante produzido sem registro na ANP, normalmente por empresas não autorizadas. Há ainda casos de falta de aditivação e problemas na viscosidade.
No ano, também foram apreendidos 144.000 litros de óleo lubrificante usado ou contaminado (OLUC). O OLUC é o nome dado ao lubrificante que já foi utilizado e que precisaria ser descartado de forma correta, junto a empresa coletora autorizada pela ANP. Vale dizer que ele pode passar por reciclagem por meio do rerrefino, mas o OLUC não pode ser comercializado aos consumidores diretamente.
Além das ações de fiscalização, a ANP possui o Programa de Monitoramento de Lubrificantes (PML), que avalia a qualidade dos óleos lubrificantes automotivos comercializados no país e a regularidade de seus registros. As não conformidades identificadas são comunicadas ao setor de fiscalização da ANP para adoção das medidas cabíveis.
As amostras são coletadas em pontos de revenda tais como: postos revendedores, supermercados, lojas de autopeças, oficinas mecânicas, concessionárias de veículos, distribuidores e atacadistas. A análise dos registros dos produtos, a execução dos ensaios físico-químicos e a avaliação dos resultados são realizadas pelo Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas (CPT) da Agência, em Brasília.
Prejuízos à vista
Conforme Cleber William Gomes, professor de Engenharia Mecânica da FEI (Fundação Educacional Inaciana), os prejuízos ao usar óleos lubrificantes falsos surgem a longo prazo.
Segundo ele, os veículos atuais possuem motores de grande complexidade e avançada tecnologia. O óleo lubrificante do motor segue esta mesma condição para garantir o bom funcionamento dos sistemas e não prejudicar a eficiência energética do motor. Por isso, Gomes alerta que é essencial seguir a recomendação do fabricante do veículo.
“O óleo lubrificante é composto por um óleo básico, mas um conjunto de aditivos, que são o fator principal de tecnologia do óleo lubrificante, com inclusive o uso de nano tecnologia para garantir a continuidade das proteções necessárias para o motor, mesmo após horas de funcionamento do motor.
O desenvolvimento dos motores envolve milhares de horas de teste e estas especificações são a consequência de estudos muito elaborados para determinar o tipo de óleo lubrificante, as recomendações de intervalo de troca e não seguir estas indicações podem gerar um grande prejuízo”.
Como identificar o óleo lubrificante falso?
A Mobil Delvac, referência em óleo lubrificante para os pesados, conta que na própria embalagem é possível identificar quando o produto não tem boa procedência. Dentre as medidas antifraude estão:
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Selo de garantia contra violação na tampa:
Todos os frascos de 1L possuem um selo em suas tampas que auxilia em:
* Evidência de violação;
* Proteção contra contaminação;
* Maior segurança durante o transporte e manuseio.
Os selos são feitos de camadas de alumínio, filme de polietileno e papelão e são muito difíceis de rasgar. Uma vez rasgados ou perfurados, não podem ser recolocados.
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Etiquetas não-removíveis:
Todos os frascos de 1L possuem uma série de pequenos cortes feitos durante a fabricação da etiqueta e ajudam a torná-la mais difícil de ser removida sem rasgar ou danificar a etiqueta, ou o produto. Isso ajuda a desencorajar a violação ou remoção não autorizada da etiqueta.
Dessa forma, as etiquetas não podem ser substituídas e as versões falsificadas são mais fáceis de identificar. Esses pequenos cortes estão presentes tanto na etiqueta frontal quanto na etiqueta traseira.
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Código QR da versão da etiqueta:
Todos os frascos de 1L possuem um pequeno Código QR tanto na etiqueta frontal, quanto na etiqueta traseira, que representa a versão mais recente daquele produto.
Embora o código SKU possa permanecer o mesmo durante uma mudança de formulação ou uma atualização de apresentação, o Código QR muda para representar a versão mais recente do produto. Ele também representa uma maneira de verificar internamente se, dado o número do lote, o produto está correto.
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Data de lote e validade marcados a laser na etiqueta:
Todos os frascos de 1L têm sua data de lote e validade transferidas por calor na etiqueta frontal. Uma das maneiras pela qual a gravação a quente dessas informações ajuda contra a falsificação é que ela cria uma textura e profundidade distintas que não podem ser replicadas por outros métodos de impressão, como impressão a jato de tinta ou a laser.
Além de dificultar a reprodução da etiqueta, gravar o número do lote na etiqueta também ajuda a garantir a autenticidade e rastreabilidade do produto.
Transporte de óleo lubrificante usado
O óleo lubrificante usado tem o descarte correto e não deve ser usado novamente no caminhão, sem antes o devido tratamento. Veja na matéria de Pedro Trucão em dia a dia no trecho, como é feito o transporte do óleo lubrificante com todos os cuidados para que não caia nada na natureza.
Veja também: Posso mudar a especificação do lubrificante?
Por Thaís Corrêa
Filha de caminhoneiro, recém-formada em jornalismo, resolveu usar a comunicação para manter a classe bem informada e, com isso, formar novas gerações de motoristas profissionais cada vez melhores para o futuro do país.