sexta-feira, outubro 18, 2024

Caminhoneiro de aplicativo cai com droga na PRF

DestaqueCaminhoneiro de aplicativo cai com droga na PRF

Sempre que você vai viajar para um voo internacional, antes de colocar a bagagem na esteira, uma série de perguntas são feitas pelos funcionários do aeroporto.

Umas até são, aparentemente, meio bobas, mas contam com um fundo de verdade, pois fazem você admitir que em suas malas não há armas, drogas, líquidos inflamáveis, entre outras coisas. Porém, e quando caminhoneiro aceita carga de aplicativo e ele cai com droga na PRF, a culpa é de quem?

Caminhoneiro aceita carga de app e cai na PRF

Acontece que inúmeros golpes acontecem, principalmente no mundo do tráfico das drogas e das armas, onde pessoas mal intencionadas se aproveitam dos outros para transitar os produtos ilegais. Cada dia é inventada uma maneira para ludibriar as autoridades.

Já teve ou tem a época da droga na barriga, no casco do navio, no meio da soja e assim por diante.

O grande problema de tudo isso é que na maioria das vezes, na hora do flagrante, quem acaba pagando é o “laranja”, o motorista, e nunca o traficante.

Entenda caminhoneiro que aceita carga de app com droga

Depois da pandemia, Wender da Silva, 42 anos, decidiu financiar um caminhão para trabalhar como autônomo, uma vez que o próprio negócio que ele tinha acabou falindo por conta da covid-19.

Ou seja, o caminhão passou a ser uma nova ferramenta de trabalho e de sustento. Segundo o motorista autônomo, a retomada começou acontecer aos poucos, conforme as viagens iam ocorrendo, por meio de aplicativos.

Virada de mesa e a surpresa do caminhoneiro no posto da PRF

Porém, em setembro de 2023, a vida de Silva virou do avesso, a partir do momento em que ele retirou um compressor de ar em um endereço no Mato Grosso do Sul, por meio de um anúncio encontrado na plataforma Fretebras.

A viagem ocorreu bem e as paradas foram feitas das maneiras recomendadas. Foi quando, no Rio de Janeiro, em Seropédica, o caminhoneiro foi parado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). A principal alegação do agente era de que o motorista havia praticado direção perigosa. 

Revista da carga e o cão farejador 

Sabendo que não havia feito nada grave, o motorista colaborou com a fiscalização. Abriu o baú, emprestou ferramentas para desembalar a carga do plástico bolha e tudo mais. 

Porém, após a abertura do plástico, os cachorros apontaram para uma boa quantidade de maconha inserida dentro do compressor de ar. Ou seja, os policiais efetuaram o flagrante.

“Meu chão sumiu. Peguei o produto, uma embalagem e em nenhum momento eu suspeitei, afinal, a plataforma me parecia confiável e ela nunca tinha falhado”, explica o motorista.

Cão da PRF e Sequência da apreensão
Cachorro da PRF e sequência de como foi a apreensão. Entorpecentes estavam escondidos dentro do compressor de ar

PRF me levou para uma cadeia em péssimas condições 

Depois do flagrante, o caminhoneiro lembra que passou pelos piores dias de sua vida.

“Lembrava do meu filho com altismo e da minha esposa. Pensava como eu poderia sair dessa. Fiquei preso e depois, para piorar, transferido para uma cela com sete pessoas”, um horror, comenta ele.

“Além de apertado, a cela tinha ratos e baratas. Fiquei sem comer todos os dias. Um absurdo que não vou esquecer”, explica. 

O restabelecimento e o pedido de apoio negado 

O cenário só começou a aliviar depois que Silva foi amparado por um bom advogado. “O cara é tão ponta firme que não está me cobrando os honorários iniciais. Ele também já foi à Brasília para reforçar o meu habeas corpus. Agora é recolher os cacos de um trauma que não sei como superar”, lamenta o caminhoneiro.

O advogado, Eurípedes Batista da Cunha, conseguiu expedir um alvará de soltura e, agora, está lutando contra o Estado para retirar o caminhão do pátio, uma vez que ele foi retido.

O jurista defende que Wender acabou caindo em uma cilada por conta do aplicativo e que a ideia a empresa deve devolver a normalidade ao motorista.

Ambos também entraram com uma ação contra a Fretebras, empresa que afirma fiscalizar todos os prestadores de serviço da plataforma.

O Pé na Estrada tentou conversar com a empresa em que Wender fez a retirada do equipamento, mas não houve resposta. “Muito, provavelmente, só abrem a empresa de fachada para fazer o despacho. Isso é comum acontecer, mas a plataforma deveria fiscalizar toda a empresa que se cadastra”, reforça Cunha.

O que disse a Fretebras 

Por nota, a empresa disse que se solidariza com a vítima e está totalmente à disposição das autoridades para apoiar com informações que possam ajudar a encontrar os responsáveis pelo crime.

A empresa ressalta que o ocorrido foi em setembro de 2023 e naquela época já atuou com as análises necessárias e suporte ao caminhoneiro, que não foi aceito por ele.

A Fretebras reforçou que valida todas as empresas que se cadastram em seu site para publicar cargas e aprova, em média, apenas 30% delas, seguindo um processo rigoroso com 8 etapas de segurança.

Por que Wender não aceitou ajuda?

Wender confirmou que ocorreu uma conversa entre ele e a empresa digital. Na ocasião foi oferecido três cestas básicas com produtos não lácteos para que tudo ficasse em ordem. Ele disse que não era o suficiente, afinal o caminhão continua apreendido e que isso é muito longe de tudo que ele passou.

O que diz a lei brasileira sobre transporte de drogas

No Brasil, o crime de tráfico de drogas está previsto no artigo 33 da Lei 11.343/2006, onde é proibido qualquer tipo de venda, compra, produção, armazenamento, entrega ou fornecimento, mesmo que gratuito, de drogas sem autorização ou em desconformidade com a legislação pertinente. A pena prevista é de 5 a 15 anos de reclusão e pagamento de multa.

caminhão no pátio da PRF
Caminhão VW, amarelo, de Wender continua abandonado no pátio. Ele estava financiado e as prestações continuam sendo negociadas

O artigo descreve, além de outros, que a compra, guarda ou porte de drogas sem autorização estão sujeitos às penas de advertência sobre efeitos do uso de entorpecentes, prestação de serviços à comunidade e participação obrigatória em programa educativo.

Em 2019, o plenário aprovou o PL 2.114/2019, que prevê a apreensão de veículos usados em crimes relacionados ao tráfico de drogas, mesmo que adquiridos de forma legal.

O projeto também inverte o ônus da prova, para que o dono do bem demonstre sua licitude, retirando esse custo do Estado. O veículo ficam, então, sob custódia do Estado.

Aguardando um desfecho justo

Atualmente, Wender da Silva trabalha como motorista de ônibus em Juiz de Fora, vai prestar contas à justiça do Rio de Janeiro a cada dois meses, e tenta colar os cacos.

Ele e o advogado acreditam que houve uma emboscada, sendo ele a isca para desviar a atenção da fiscalização de uma carga maior. “Apesar de acreditarmos nisso, sabemos que é impossível provar”, acrescenta ele. 

Disse que vai escrever um livro, após o resultado final do processo. “Espero que tenha um final feliz”. Afinal, de quem é a culpa do caminhoneiro que aceitou carga de aplicativo e que cai com droga na PRF.

Veja mais: Caminhão com drogas e armas é apreendido após perseguição na BR-364

Saiba também: Indenizações de carga passam de duzentos milhões em 2024

Jornalista do Pé na Estrada, Rodrigo Samy

Jornalista especializado em veículos e apaixonado por motores desde criança. Começou a carreira em 2000, como repórter, nas revistas Carro e Motociclismo. Atuou por mais de 10 anos em assessorias de imprensa ligadas ao mundo motor. Foi editor do Portal WebMotors e repórter do Estado de S.Paulo. Hoje, trabalha com repórter e editor do Portal Pé na Estrada.

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