O Grupo Risa abriu oficialmente a colheita de soja no Piauí, na cidade de Baixa Grande do Ribeiro. O grupo foi o primeiro produtor do estado a plantar a safra atual e agora é também o primeiro a colher. Nos primeiros dias de abertura, a ideia da Risa é quebrar o recorde de toneladas de soja colhidas em um só dia. Para isso, a empresa conta com 20 colheitadeiras e 50 caminhões Mercedes-Benz.
A colheita de soja no Piauí e no interior do Nordeste
Bater o recorde de colheita não é uma questão de vaidade para a Risa, e sim uma forma de chamar atenção para o grau de desenvolvimento das lavouras do Nordeste. Quando se pensa em grãos, e principalmente em novas fronteiras agrícolas, pensa-se principalmente na região Centro- Oeste. A ideia da grande colheita é mostrar como o cultivo no Nordeste, e especialmente no Piauí, está evoluído.
Segundo José Antônio Gorgen, o Zezão, diretor presidente do Grupo Risa, a produção na região é igual a do Mato Grosso, só que com metade da chuva. Segundo ele, o nível de qualidade do grão também é o mesmo. Zezão ainda diz que falta entendimento do mundo do agro, já que as pessoas vão ao supermercado e veem tudo organizado na gôndola. Elas não imaginam os processos e as dificuldades transpostas para chegarem até ali, e muito menos identificam que muito desse alimento pode ter vindo do interior do Nordeste.
Matopiba
Matopiba é a região do Nordeste que se destaca na produção de grãos, principalmente a soja. Ela é composta por Maranhão (MA), Tocantins (TO), Piauí (PI) e Bahia (BA). O terreno plano, o solo profundo e o clima favoreceram o crescimento do agronegócio na área. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os quatro estados são responsáveis por quase 12% de toda a produção nacional de soja, o que equivale a mais de 15 milhões de toneladas.
Só o Grupo Risa, que atua no Maranhão e Piauí, plantou 44.828,05 hectares de soja, com previsão de produção de 161.649 toneladas, uma produtividade de 3,6 toneladas por hectare. Segundo Zezão, o ciclo da soja, entre plantio e colheita, varia de acordo com a cultura, mas gira entre 105 e 120 dias. Como este ano a temperatura foi mais baixa, o ciclo se alongou em torno de 10 dias.
Apesar da crescente produção e do bom preço da soja, o diretor comercial da Risa, Anderson Gorgen, afirma que o momento não é de lucro para o produtor, e sim de repor o prejuízo de anos anteriores. Segundo ele, o agricultor veio se endividando nos últimos tempos e agora está conseguindo equilibrar a balança.
Anderson afirma ainda que a agricultura é uma indústria a céu aberto, onde não é possível controlar todas as variáveis, por isso, o produtor precisa fazer o melhor possível a sua parte para poder aproveitar ao máximo o sol e a chuva. Entretanto, mesmo com toda preparação, se não fizer sol e não chover na hora certa, de nada adianta.
A reportagem comprovou isso na prática. No dia em que fomos gravar a colheita, o evento durou apenas uma hora, pois a chuva interrompeu a colheita, que só poderia ser retomada no dia seguinte.
Maquinário personalizado
Para o campo
E para aproveitar ao máximo o sol e a chuva, o grupo Risa acredita em inovação e parcerias. Começando pela colheitadeira, a colheita de soja no Piauí abriu com a estreia da maior colheitadeira do mundo, de 62 pés. A própria Risa teve a ideia do produto, e a GTS abraçou. Além dessa, ainda em teste, outras colheitadeiras de 40 e 45 pés são usadas na lavoura.
Jodeil Fernandes de Sousa, que opera máquinas agrícolas na empresa e estava a bordo de uma Case com plataforma de 45 pés, explica que a máquina consegue colher e processar pouco mais de 180 sacos de 60 kg por vez. Após a máquina atingir essa capacidade máxima, ele descarrega a soja nos caminhões graneleiros e volta para colher mais. As máquinas podem rodar até 24h por dia, com troca de operador.
“Sempre que chega um máquina nova a gente tem um treinamento para poder operar e tirar o melhor possível dela,” afirma Sousa.
Para a estrada
Quando Jodeil descarrega, ele faz isso em implementos Librelato, também desenvolvidos em parceria com a Risa. “Nós queríamos tritrens ao invés do bitrem tradicional, pois tem menor gasto de pneu e melhor manobrabilidade. Além disso, tínhamos muito problema com tombamentos de caçambas, por isso queríamos um implemento que basculasse lateralmente. Quando procuramos as implementadoras com esse pedido, a maior parte delas queria nos vender o que já estava pronto e não desenvolver algo baseado em nossa necessidade. Quando mostramos interesse em adquirir 50 unidades, a Librelato topou esse desafio. Por isso que gosto da palavra parceria.” afirma Zezão.
E para puxar os implementos, são necessários caminhões. Nesse caso, quem embarcou na parceria com a Risa foi a Mercedes-Benz. A empresa comprou 50 novas unidades do Actros e Novo Actros 2651 6×4. “A linha Actros foi escolhida para as nossas operações porque nos oferece força, baixo consumo de combustível e conforto para os motoristas com cabine leito teto alto, além da manutenção, que é fácil”, afirma Anderson Gorgen, “Além disso, o 2651 transporta 50 toneladas de soja por viagem com o tritrem, operando tanto na fazenda quanto na estrada, porque a composição de 9 eixos e 74 toneladas de PBTC, com 26 metros de comprimento, atende à Lei da Balança”.
Até 2017 a Risa não possuía nenhum caminhão Mercedes-Benz, mas além da parte técnica, o relacionamento fez diferença na entrada da montadora na empresa. “A Mercedes-Benz quis vender pra gente, e quando a empresa realmente mostra interesse, ouve o que a gente precisa, a gente compra com mais gosto”, afirma Zezão.
Somando as unidades já adquiridas em 2018 e os caminhões menores de apoio, hoje são 186 veículos Mercedes-Benz na Risa, algo em torno de 80% da frota.
“Eu acredito que empresas inovadoras atraem empresas inovadoras, e é assim que a Risa encontra seus parceiros.” diz Anderson Gorgen.
Desafios
Zezão afirma que um dos motivos para a escolha do Mercedes-Benz é que a montadora “abrasileirou” seus veículos, tornando-os próprios para rodar nas difíceis condições de nossas estradas. Segundo ele, se os políticos passassem uma semana acompanhando a plantação e o transporte, entenderiam a necessidade de melhores condições.
Um exemplo é a própria rota que os caminhões percorrem entre as fazendas da Risa e o porto de São Luís do Maranhão, por onde a soja é exportada. O percurso é cheio de buracos, pavimentação ruim e sinalização precária em vários trechos. Inclusive, por isso os caminhões precisam ser robustos para aguentar a viagem.
“Nos Estados Unidos, os caminhões fazem o mesmo percurso em quilômetros três vezes mais rápido. Na Alemanha, o governo faz obras para reduzir os aclives e declives pensando em melhorar a logística. Já aqui, mesmo em locais que nem têm serra, não é possível manter uma boa velocidade média”, afirma o gerente da regional Norte/Nordeste da Mercedes-Benz.
Agronegócio x preservação do meio-ambiente
Mesmo tendo que vencer tantos desafios, Zezão diz que muitas vezes o agronegócio e o produtor são vistos com maus olhos, pois são acusados de destruírem a natureza. Segundo ele, essa imagem é prejudicial e não condiz com a realidade. Ele afirma que os desmatamentos não são feitos por produtores sérios e que isso, inclusive, os prejudica.
“O Brasil não precisa desmatar mais nada. É possível triplicar a produção sem desmatar. Primeiro, com aumento de produtividade, e também com a mudança dos pastos para a agricultura. O gado está migrando para o confinamento, deixando grandes áreas já desmatadas livres para a lavoura, que inclusive recupera essas áreas. O que falta é uma educação que estimule esse cultivo nas áreas de pastagem,” afirma “Com ou sem pandemia, as pessoas sempre vão continuar comendo, e hoje nós não somos mais responsáveis apenas por alimentar o nosso povo, mas diversos povos do mundo, por isso o agronegócio é tão importante.”
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.