sexta-feira, novembro 22, 2024

Colheita de soja no Piauí abre buscando quebra de recorde e mostrando tecnologia

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O Grupo Risa abriu oficialmente a colheita de soja no Piauí, na cidade de Baixa Grande do Ribeiro. O grupo foi o primeiro produtor do estado a plantar a safra atual e agora é também o primeiro a colher. Nos primeiros dias de abertura, a ideia da Risa é quebrar o recorde de toneladas de soja colhidas em um só dia. Para isso, a empresa conta com 20 colheitadeiras e 50 caminhões Mercedes-Benz.

 

A colheita de soja no Piauí e no interior do Nordeste

 

Bater o recorde de colheita não é uma questão de vaidade para a Risa, e sim uma forma de chamar atenção para o grau de desenvolvimento das lavouras do Nordeste. Quando se pensa em grãos, e principalmente em novas fronteiras agrícolas, pensa-se principalmente na região Centro- Oeste. A ideia da grande colheita é mostrar como o cultivo no Nordeste, e especialmente no Piauí, está evoluído.

Segundo José Antônio Gorgen, o Zezão, diretor presidente do Grupo Risa, a produção na região é igual a do Mato Grosso, só que com metade da chuva. Segundo ele, o nível de qualidade do grão também é o mesmo. Zezão ainda diz que falta entendimento do mundo do agro, já que as pessoas vão ao supermercado e veem tudo organizado na gôndola. Elas não imaginam os processos e as dificuldades transpostas para chegarem até ali, e muito menos identificam que muito desse alimento pode ter vindo do interior do Nordeste.

Plantação de soja em Baixa Grande do Ribeiro/PI
Imagem: Paula Toco

Matopiba

 

Matopiba é a região do Nordeste que se destaca na produção de grãos, principalmente a soja. Ela é composta por Maranhão (MA), Tocantins (TO), Piauí (PI) e Bahia (BA). O terreno plano, o solo profundo e o clima favoreceram o crescimento do agronegócio na área. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os quatro estados são responsáveis por quase 12% de toda a produção nacional de soja, o que equivale a mais de 15 milhões de toneladas.

Só o Grupo Risa, que atua no Maranhão e Piauí, plantou 44.828,05 hectares de soja, com previsão de produção de 161.649 toneladas, uma produtividade de 3,6 toneladas por hectare. Segundo Zezão, o ciclo da soja, entre plantio e colheita, varia de acordo com a cultura, mas gira entre 105 e 120 dias. Como este ano a temperatura foi mais baixa, o ciclo se alongou em torno de 10 dias.

Apesar da crescente produção e do bom preço da soja, o diretor comercial da Risa, Anderson Gorgen, afirma que o momento não é de lucro para o produtor, e sim de repor o prejuízo de anos anteriores. Segundo ele, o agricultor veio se endividando nos últimos tempos e agora está conseguindo equilibrar a balança.

Anderson afirma ainda que a agricultura é uma indústria a céu aberto, onde não é possível controlar todas as variáveis, por isso, o produtor precisa fazer o melhor possível a sua parte para poder aproveitar ao máximo o sol e a chuva. Entretanto, mesmo com toda preparação, se não fizer sol e não chover na hora certa, de nada adianta.

A reportagem comprovou isso na prática. No dia em que fomos gravar a colheita, o evento durou apenas uma hora, pois a chuva interrompeu a colheita, que só poderia ser retomada no dia seguinte.

Céu carregado e colheitadeiras funcionando
Diversas colheitadeiras fazendo a colheita de soja em Baixa Grande do Ribeiro/ Piauí Imagem: Paula Toco

Maquinário personalizado

 

Para o campo

E para aproveitar ao máximo o sol e a chuva, o grupo Risa acredita em inovação e parcerias. Começando pela colheitadeira, a colheita de soja no Piauí abriu com a estreia da maior colheitadeira do mundo, de 62 pés. A própria Risa teve a ideia do produto, e a GTS abraçou. Além dessa, ainda em teste, outras colheitadeiras de 40 e 45 pés são usadas na lavoura.

Jodeil Fernandes de Sousa, que opera máquinas agrícolas na empresa e estava a bordo de uma Case com plataforma de 45 pés, explica que a máquina consegue colher e processar pouco mais de 180 sacos de 60 kg por vez. Após a máquina atingir essa capacidade máxima, ele descarrega a soja nos caminhões graneleiros e volta para colher mais. As máquinas podem rodar até 24h por dia, com troca de operador.

“Sempre que chega um máquina nova a gente tem um treinamento para poder operar e tirar o melhor possível dela,” afirma Sousa.

Operador de máquina agrícola fazendo a colheita
Jodeil Sousa operando colheitadeira de 45 pés
Imagem: Paula Toco

Para a estrada

Quando Jodeil descarrega, ele faz isso em implementos Librelato, também desenvolvidos em parceria com a Risa. “Nós queríamos tritrens ao invés do bitrem tradicional, pois tem menor gasto de pneu e melhor manobrabilidade. Além disso, tínhamos muito problema com tombamentos de caçambas, por isso queríamos um implemento que basculasse lateralmente. Quando procuramos as implementadoras com esse pedido, a maior parte delas queria nos vender o que já estava pronto e não desenvolver algo baseado em nossa necessidade. Quando mostramos interesse em adquirir 50 unidades, a Librelato topou esse desafio. Por isso que gosto da palavra parceria.” afirma Zezão.

E para puxar os implementos, são necessários caminhões. Nesse caso, quem embarcou na parceria com a Risa foi a Mercedes-Benz. A empresa comprou 50 novas unidades do Actros e Novo Actros 2651 6×4. “A linha Actros foi escolhida para as nossas operações porque nos oferece força, baixo consumo de combustível e conforto para os motoristas com cabine leito teto alto, além da manutenção, que é fácil”, afirma Anderson Gorgen, “Além disso, o 2651 transporta 50 toneladas de soja por viagem com o tritrem, operando tanto na fazenda quanto na estrada, porque a composição de 9 eixos e 74 toneladas de PBTC, com 26 metros de comprimento, atende à Lei da Balança”.

Até 2017 a Risa não possuía nenhum caminhão Mercedes-Benz, mas além da parte técnica, o relacionamento fez diferença na entrada da montadora na empresa. “A Mercedes-Benz quis vender pra gente, e quando a empresa realmente mostra interesse, ouve o que a gente precisa, a gente compra com mais gosto”, afirma Zezão.

Somando as unidades já adquiridas em 2018 e os caminhões menores de apoio, hoje são 186 veículos Mercedes-Benz na Risa, algo em torno de 80% da frota.

“Eu acredito que empresas inovadoras atraem empresas inovadoras, e é assim que a Risa encontra seus parceiros.” diz Anderson Gorgen.

caminhão Actros rodando em fazenda para a colheita de soja em Baixa Grande do Ribeiro/ Piauí
Caminhão Actros atua na colheita de soja em Baixa Grande do Ribeiro/ Piauí Imagem: Paula Toco

Desafios

 

Zezão afirma que um dos motivos para a escolha do Mercedes-Benz é que a montadora “abrasileirou” seus veículos, tornando-os próprios para rodar nas difíceis condições de nossas estradas. Segundo ele, se os políticos passassem uma semana acompanhando a plantação e o transporte, entenderiam a necessidade de melhores condições.

Um exemplo é a própria rota que os caminhões percorrem entre as fazendas da Risa e o porto de São Luís do Maranhão, por onde a soja é exportada. O percurso é cheio de buracos, pavimentação ruim e sinalização precária em vários trechos. Inclusive, por isso os caminhões precisam ser robustos para aguentar a viagem.

“Nos Estados Unidos, os caminhões fazem o mesmo percurso em quilômetros três vezes mais rápido. Na Alemanha, o governo faz obras para reduzir os aclives e declives pensando em melhorar a logística. Já aqui, mesmo em locais que nem têm serra, não é possível manter uma boa velocidade média”, afirma o gerente da regional Norte/Nordeste da Mercedes-Benz.

cruz indicando que alguém morreu nessa curva
Cruz a beira de curva perigosa homenageando alguém que perdeu a vida neste trecho
Imagem: Paula Toco

Agronegócio x preservação do meio-ambiente

 

Mesmo tendo que vencer tantos desafios, Zezão diz que muitas vezes o agronegócio e o produtor são vistos com maus olhos, pois são acusados de destruírem a natureza. Segundo ele, essa imagem é prejudicial e não condiz com a realidade. Ele afirma que os desmatamentos não são feitos por produtores sérios e que isso, inclusive, os prejudica.

“O Brasil não precisa desmatar mais nada. É possível triplicar a produção sem desmatar. Primeiro, com aumento de produtividade, e também com a mudança dos pastos para a agricultura. O gado está migrando para o confinamento, deixando grandes áreas já desmatadas livres para a lavoura, que inclusive recupera essas áreas. O que falta é uma educação que estimule esse cultivo nas áreas de pastagem,” afirma “Com ou sem pandemia, as pessoas sempre vão continuar comendo, e hoje nós não somos mais responsáveis apenas por alimentar o nosso povo, mas diversos povos do mundo, por isso o agronegócio é tão importante.”

caminhões sendo carregados na colheita da soja no Piauí
Caminhões sendo carregados na colheita da soja no Piauí
Imagem: Paula Toco

Por Paula Toco

Jornalista Paula Toco sentada em banco do motorista de caminhão pesado

Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.

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