Há dois anos a Mercedes-Benz apresentou o conceito de Caminhão do Futuro (clique aqui para relembrar). Porém, o transporte de cargas não é o único desafio das empresas para os próximos anos. A quantidade de pessoas nas cidades vem crescendo e isso gera um grande problema para o deslocamento, causando engarrafamentos, perda de tempo, estresse e aumentando o custo desse tipo de transporte. Muitos especialistas ao redor do mundo apostam no BRT como saída para tudo isso (leia aqui para entender melhor o sistema BRT). A Mercedes-Benz também aposta nele, mas ela foi além e desenvolveu um novo conceito de veículo para rodar nesses corredores, o Ônibus do Futuro.
Ônibus do Futuro – um conceito de segurança e economia
Com o aumento do número de pessoas e veículos nas vias ao redor do mundo, aumentaram também os acidentes de trânsito. A partir daí, a segurança viária virou prioridade. É por isso que o Ônibus do Futuro, ou Future Bus, como foi apresentado ao mundo, tem a segurança como principal preocupação.
Assim como o caminhão, o Ônibus do Futuro chega com um conceito de direção semi-autônoma, chamada CityPilot, ou seja, motorista e computador dividem o controle do veículo. Mas o motorista tem seu papel repensado. Ele se torna, de fato, um gestor de unidade de transporte de passageiros. Isso porque praticamente todo o trabalho de dirigir será feito de forma autônoma pelo próprio veículo, que vai “chamar” o motorista quando for preciso (mais sobre o papel do motorista ao final do texto).
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Como deve funcionar?
O motorista vai continuar em seu posto, inclusive o sistema tem um sensor que não permite o funcionamento do veículo sem a presença dele. Porém, ele pode fazer sua partida da garagem, colocá-lo no corredor destinado aos ônibus e então acionar o piloto automático. A partir daí, o computador assume. Ele decidirá a velocidade, a aceleração, a desaceleração, fará as curvas, identificará os faróis e inclusive realizará as paradas nos pontos.
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Mais segurança
A máquina foi feita para se equiparar aos melhores condutores, por isso a falta de segurança provocada por motoristas ruins será eliminada. A máquina fará acelerações e desacelerações mais suaves, o que é ótimo para quem está em pé no ônibus. A parada no ponto também muda, pois o sistema está preparado para se posicionar a 10 cm da guia. Essa distância é muito confortável para o passageiro, mas difícil para motoristas, ainda mais os inexperientes. Já a máquina faz de forma eletrônica, sem perigo de bater na guia e danificar rodas, pneus, etc.
Os sensores também ficam o tempo todo monitorando o que está ao redor do veículo. Enquanto o motorista tem apenas dois olhos, o ônibus do futuro terá dezenas de sensores que ficam atentos a todo momento. Com isso, o veículo consegue identificar, por exemplo, se um pedestre ou um ciclista atravessa em frente a ele.
Também está prevista a interação com a via, com sensores que medem desde 20 cm a frente até mais de 200 metros. Tudo isso para ir identificando outros veículos, placas, pessoas, etc. Os GPSs permitem que o veículo saiba sua posição a todo momento. Quando o GPS fica sem sinal, são as câmeras que assumem o controle. Ele também memoriza a rota para facilitar nas próximas vezes em que passar pelo local. Ao ir identificando os objetos a sua frente, ele vai mostrando tudo no painel, então o motorista pode avaliar se a máquina está fazendo a leitura do entorno de forma correta.
A interação mais importante na via é com os semáforos. São dois sistemas possíveis. O de câmeras, que reconhece quando o sinal está vermelho ou verde, e a conexão por wifi. Essa segunda opção permite que o ônibus “converse” com o semáforo. Além de saber se está aberto ou fechado, o veículo ainda recebe a informação de por quanto tempo ele seguirá assim. Ele pode então, por exemplo, tomar a decisão de desacelerar para que quando chegue ao farol ele já esteja abrindo e assim o ônibus não precise parar por completo.
O uso da tecnologia ainda vai permitir usar os dados gerados ao longo da rota, por exemplo quanto tempo o ônibus fica parado em um certo ponto. Isso ajudará aos administradores a fazer melhorias constantes nas linhas e pontos.
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Mais economia
Assim como os veículos com câmbios automatizados, a tecnologia do ônibus do futuro permite nivelar por cima os motoristas. O fato de acelerar e desacelerar de maneira uniforme já traz economia. Como conversa com os semáforos, pode programar para chegar a eles na hora em que vão abrir, assim evita-se parar por completo o veículo e depois ter que colocá-lo em movimento de novo. Um dos momentos em que mais se gasta combustível é esse. Se o computador lê que não será possível chegar ao semáforo com ele aberto, o sistema também evita a aceleração para tentar pegá-lo verde e já desacelera de longe. Isso gera mais economia.
Deixar o carro em casa e optar pelo ônibus também evita emissões de poluentes. Quem vai de ônibus também não precisa estacionar, e esse momento de mover lentamente o carro é um dos mais “gastões” e poluidores de todos.
Ônibus do Futuro – um conceito de design e conforto
Mas mesmo com tantas vantagens, ele continua sendo ônibus e a maioria das pessoas, em qualquer lugar do mundo, só pega ônibus se precisar, nunca por vontade. Pensando nisso, a Mercedes-Benz se lançou um desafio: fazer com que a população de fato se sinta bem dentro do veículo e opte por ele por vontade própria. Para isso acontecer, a montadora repensou todo o conceito da experiência dentro de um ônibus.
A ideia da MB é criar um ambiente agradável, quase um ponto de encontro. Com essa ideia em mente, os designers foram para a prancheta. Como o importante era a experiência dentro do veículo, o desenho foi feito primeiro para a parte de dentro.
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Interior
Estar perto da natureza faz o homem mais feliz e o deixa mais produtivo. Você pode até não se dar conta disso, mas o seu cérebro sim. Então a ideia da Mercedes é de que você se sinta em um parque. O primeiro desenho, de 2012, mostra bem esse conceito.
A medida que o projeto foi evoluindo, a natureza foi se tornando mais abstrata, mas ela continua lá. Muitas vezes a gente não percebe, ou até acha que é bobagem ficar vendo árvore no cano de segurar perto da porta, mas o ambiente como um todo nos agrada e isso acontece graças ao trabalho dos desenhistas, que pensaram em cada curva, cada textura e cada formato do veículo.
Depois de 4 anos de trabalho, o resultado final foi este.
As portas amplas ficam no meio, que também é a área destinada a quem vai passar pouco tempo no veículo. Quase não tem bancos, é mais para quem vai ficar de pé e descer logo. A parte da frente é a chamada área de serviço, para quem precisa pedir informações ao motorista, por exemplo. Nesse caso o motorista pode tranquilamente conversar com o passageiro, pois o sistema autônomo é que está no controle. Na parte traseira ficam mais bancos, área desenhada para quem passará mais tempo no ônibus.
O veículo vai oferecer ainda wifi, sistema de entretenimento, telas de 43 polegadas com informações sobre a rota e espaços publicitários e até carregador de baterias sem fio.
O sistema de iluminação também foi criado pensando em tornar o ambiente mais agradável e ainda indicar aos passageiros o modo de condução no momento. Se as luzes estiverem brancas, o motorista está no controle. Se as luzes estiverem azuis, o veículo está em modo autônomo.
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Exterior
As janelas são bem grandes para que os passageiros vejam o lado de fora com clareza. A iluminação do tipo de condução também aparece no lado de fora, seja na frente, atrás, ou nas laterais. Dessa forma quem está na rua ou no ponto pode saber quem está dirigindo, o motorista ou o CityPilot.
Qual o papel do motorista?
Como mencionamos anteriormente, o motorista terá seu papel repensado, mas continua totalmente necessário na operação. Um ponto importante é que lidar com gente, cachorro, bicicleta, farol, curva e tudo que compõe o ambiente urbano é muito complexo, por isso o Ônibus do Futuro foi pensado para funcionar em sistemas BRT, com faixas exclusivas e menor intervenção de outros fatores. Fora desse sistema, o motorista continua totalmente no controle. Outra coisa importante é que o sistema não funciona sem que o motorista esteja ocupando o seu lugar. Aliás, se o motorista tocar nos pedais ou segurar o volante, ele retoma a direção do veículo.
O próprio sistema pode sentir a necessidade do condutor e então pedir que ele assuma. Tudo isso prova que o papel do condutor muda, mas não desaparece.
E vai rodar onde? Quando?
Ainda existe um longo caminho para que esse modelo chegue às ruas. As tecnologias precisam ficar mais baratas, as legislações precisam permitir esse tipo de veículo, muitos outros testes precisam ser feitos, etc. A Mercedes-Benz espera que o produto esteja disponível para compra no início da próxima década, mas aos poucos as tecnologias já vão sendo inseridas nos produto atuais.
Como o tipo de uso do ônibus também varia de região para região, é impossível que ele consiga manter seu conceito em todos os locais. Nas regiões onde o BRT serve como transporte de alta capacidade, como no Brasil, os conceitos de segurança e economia inseridos no CityPilot serão muito bem-vindos, mas o design é inviável. Nossa demanda por transporte de massa é muito grande e esse tipo de veículo não daria conta. A montadora sabe disso, então afirma que é totalmente possível adaptar o sistema de condução autônoma para veículos articulados.
O futuro do Ônibus do Futuro
Segundo a Mercedes-Benz, o conceito apresentado está no nível 3 de uma escala até 6 no quesito autonomia. Isso quer dizer que ainda existirá muito campo para melhora até que máquinas tomem totalmente o controle da direção. Hartmut Schick, executivo da montadora, acredita que os motoristas estarão ainda no controle por mais uns 30 anos. Isso nos países desenvolvidos. Por aqui a tecnologia 100% autônoma ainda parece coisa de filme.
No futuro, além de não terem condutores, os veículos também não deverão usar combustível fóssil. Primeiro porque ele polui. Segundo porque ele vai acabar, então outras opções terão que ser encontradas. Os veículos elétricos são os mais cotados para as próximas décadas. A Mercedes-Benz deve apresentar as suas versões movidas a eletricidade em 2018. Estaremos atentos. Até lá, a gente continua dando uma cafungada no monóxido de carbono e matando tempo no trânsito das grandes cidades.
Veja abaixo um vídeo do teste feito em Amsterdã/Holanda. Mais informações no Pé na Estrada do dia 31/07/2016. O material completo publicado pela Daimler por ser visto neste link. Disponível apenas em inglês e alemão.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
[…] Ninguém. A verdade é que as pessoas usam ônibus porque precisam. Mesmo na Europa, onde o transporte público é muito melhor que no Brasil, o ônibus não é utilizado por opção, e sim por falta dela. Segundo a Mercedes-Benz, 50% das rotas urbanas no mundo poderiam ser feitas por ônibus, mas apenas 15% o são de fato. E se as pessoas não querem andar de ônibus, são mais carros na rua. Mais carros na rua é sinônimo de mais trânsito. E trânsito é sinônimo de estresse, poluição e perda de qualidade de vida (clique aqui e conheça o Ônibus do futuro da Mercedes-Benz). […]
Nossa, muito bom o que a Mercedez-Benz está preparando.