“A redução na emissão de CO2 é, provavelmente, o maior desafio da humanidade atualmente. Isso afeta um grande e complexo ecossistema, e o transporte é parte central disso.” foi com essas palavras que Andreas Renschler, executivo chefe do Grupo Traton, abriu o Innovation Day (dia da inovação), no dia 02 de outubro, na Suécia. Foi ali também que o grupo, formado pelas marcas MAN, Scania e Volkswagen Caminhões e Ônibus, apresentou sua visão de como a chegada dos veículos comerciais elétricos deve mudar a dinâmica do transporte.
Mudança começa no desenvolvimento
Para Christian Levin, chefe de operações do grupo Traton, a eficiência no uso da energia será a chave do sucesso, pois baterias são pesadas e caras, então, quem fizer com que elas durem mais e entreguem mais quilômetros por carga, terá o melhor produto no longo prazo.
Porém, não é só isso:
“Não dá para pedir que o cliente mude sua operação porque nós desenvolvemos um produto novo. Nós é que temos que garantir que a nova tecnologia supra as necessidades do cliente.”
David Holmgren, Líder de engenharia da MAN
E, segundo a Volkswagen Caminhões e Ônibus, as necessidades dos clientes serão outras na era da eletrificação. Hoje, você, e todo mundo, já sabe como funciona o transporte. Alguém precisa de um caminhão, pesquisa, negocia, compra, abastece pelo caminho, encontra um parceiro para manutenção, revende e o ciclo recomeça.
Entretanto, a montadora acredita que para veículos comerciais elétricos teremos que nos fazer algumas perguntas antes: de quanta autonomia meus veículos precisam? Onde serão feitas as recargas? Como será o desgaste de peças? Aliás, quais componentes ainda serão necessários e quais novos entrarão na jogada? Quanto tempo durará a bateria e o que fazer com ela depois?
Por conta de todas essas mudanças é que a Volkswagen afirma que o uso que cada cliente fará do caminhão tem que ser entendido, para que o projeto seja desenhado para ele. E por projeto, entende-se desde a fabricação até o abastecimento do dia a dia.
E-Consórcio (Modular)
A montadora acredita que a chave do sucesso está na parceria, nesta etapa, na parceria com fornecedores. Já há muitos anos, a Volkswagen trabalha o conceito de Consórcio Modular em sua fábrica de Resende/RJ. Ali, seus fornecedores trabalham dentro da fábrica, montando cada um a parte que lhe cabe. A ideia da montadora agora é expandir esse modelo para além de seus portões, englobando, além da montagem, o abastecimento, toda a vida útil dos veículos comerciais elétricos e seu descarte posterior.
Alguns parceiros para esta nova etapa, chamada de E-Consórcio, já estão confirmados:
- Siemens, para fornecimento de infraestrutura, carregadores e energia para clientes.
- CATL e Moura, para fornecimento, gerenciamento, distribuição e manutenção de baterias.
- Bosch, WEG e Semcon, para desenvolvimento e fornecimento de componentes.
Prova de que o E-Consórcio facilita a adaptação do produto para cada necessidade foi o veículo mostrado durante o Innovation Day. A Volkswagen apresentou para o mercado europeu o e-Delivery, já conhecido dos brasileiros por seus testes com o cliente parceiro Ambev, porém, o veículo testado pelos jornalistas na Suécia tinha uma diferença, seu motor era Hino, empresa parceira da Traton, o que demostra como as partes do veículo podem receber peças pensadas para cada aplicação ou local.
Feito sob medida para cada necessidade
Quando a montadora diz que cada cliente terá que ser entendido, é porque, por exemplo, cada um precisará de uma infraestrutura de carregamento. Então, a Siemens, que é o parceiro encarregado dessa etapa, estudará se a infraestrutura para isso será instalada na garagem do cliente, em postos em sua rota ou de outra forma mais conveniente.
O mercado de peças também terá que se readaptar pois, segundo a Volkswagen, as necessidades serão outras. O motor, por exemplo, não terá mais combustão e não precisará mais de óleo lubrificante. Os freios, como o do e-Delivery atual, funcionam com um sistema de reaproveitamento de energia, isso diminui o desgaste de lonas e pastilhas, podendo aumentar muito o intervalo de troca. Por exemplo, se hoje a troca é feita a cada 40 mil km, ela pode se expandir para até 400 mil km.
A montadora calcula que a primeira bateria terá que ser trocada após 6 anos, aí então entrarão outros novos parceiros, que reciclem essa bateria ou a reaproveitem em outras aplicações mais leves.
Mas o Brasil está pronto para veículos elétricos?
Para o mercado de passeio, já existem muitos híbridos rodando por aí, porém, veículos comerciais demandam muito mais. Uma bateria de veículo de passeio, por exemplo, é feita para mais ou menos 3 mil recargas. Já a de um veículo comercial tem que durar pelo menos 10 mil.
“Nós esperávamos que o Brasil demorasse muito mais para chegar à eletrificação, mas agora ele faz parte do desenvolvimento dela.” afirma Christian Levin.
“Acredito que para o urbano há boas oportunidades no elétrico. Custo de operação, manutenção e autonomia já são suficientes nos veículos elétricos fabricados hoje. No rodoviário já é diferente, por uma questão de infraestrutura.”
Roberto Cortes, CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Porém, o grupo acredita que a demanda também dependerá dos clientes parceiros e de seu comprometimento com a redução do CO2, como a Ambev, que tem uma meta interna de diminuir suas emissões em 25% até 2025. Isso passa por gerar sua eletricidade de forma sustentável e também pelo objetivo de ter 1/3 de sua frota composta por veículos não poluentes até 2023. Lembrando que a empresa já se comprometeu a trocar 1.600 de seus caminhões de entrega atuais pelos e-Deliverys.
Os modelos de 11 e 14 toneladas devem começar a ser produzidos na linha de montagem a partir do final de 2020.
Do Brasil para o mundo
Para a Volkswagen, o Brasil não só está pronto para a eletrificação como fará parte de seu desenvolvimento, isso porque o e-Delivery, produto nacional desenvolvido pelo time de engenharia da fábrica de Resende/RJ, tem potencial para rodar na Europa e em outros continentes.
“Nós esperamos que o e-Delivery venha sim para a Europa. Teremos a resposta em novembro. Se a Volkswagen conseguir nos entregar um modelo de 17 toneladas, o que eles disseram que conseguem, isso atenderá às regulamentações europeias.” afirmou Christian Levin.
“Pela primeira vez, podemos assumir protagonismo em tecnologia em nível mundial.” comemorou Rodrigo Chaves, vice-presidente de engenharia da Volkswagen Caminhões.
E os veículos autônomos?
Na IAA de 2016 eletrificação e automação eram as duas palavras chaves. Na IAA 2018 a automação até apareceu, mas de maneira muito mais tímida, dando lugar de destaque aos veículos movidos a energia alternativa. No Innovation Day também só se falou em eletrificação e, quando perguntado, Christian Levin, chefe de operações do grupo Traton, explicou que no começo todo mundo ficou muito empolgado, mas agora percebe-se a complexidade desse assunto.
“Muita gente deu uma freada nos projetos porque o nível de segurança tem que ser muito alto. Se algo der errado, a culpa é do fabricante, e não do motorista, por isso, as operações devem começar em locais confinados, como mineradoras, e pretendemos aprender aí com clientes parceiros.”
Se nos autônomos a coisa esfriou, no mundo do combustível alternativo a coisa está esquentando. A Fenatran deve trazer ainda mais novidades no assunto.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
[…] 2 de outubro deste ano a Volkswagen apresentou o e-Delivery na Suécia para que jornalistas de diversas partes do mundo pudessem testá-lo e, segundo Roberto Cortes, CEO da montadora, existe interesse real no produto […]
[…] Leia também: Como veículos comerciais elétricos podem mudar a dinâmica do transporte? […]
[…] Como veículos comerciais elétricos podem mudar a dinâmica do transporte? […]