Como brasileiros, a gente já conhece o procedimento: as montadoras europeias desenvolvem seus caminhões e mandam para os engenheiros brasileiros fazerem as adaptações necessárias para que eles rodem aqui. Não desta vez… A Volkswagen Caminhões e Ônibus juntou seu time de engenheiros em Resende/RJ e desenvolveu o primeiro caminhão elétrico brasileiro que pode rodar na Europa.
Caminhão elétrico e não a combustão
O caminhão você já conhece, é o e-Delivery, desenvolvido em parceria com o cliente Ambev, que tem testado e aprovado os resultados até agora (veja mais abaixo). A grande diferença é a possibilidade de levar esse produto para outros países. Nos motores a combustão isso nunca foi possível, já que a Europa sempre esteve mais avançada que o Brasil em legislação antipoluente. Enquanto aqui estamos no Euro V e o Euro VI deve chegar apenas em 2023, lá ele já vale desde 2014. Porém, quando falamos em veículos elétricos, que não geram poluição, essa limitação deixa de existir.
Em 2 de outubro deste ano a Volkswagen apresentou o e-Delivery na Suécia para que jornalistas de diversas partes do mundo pudessem testá-lo e, segundo Roberto Cortes, CEO da montadora, existe interesse real no produto brasileiro.
Christian Levin, chefe de operações do grupo Traton (do qual fazem parte, além da Volkswagen Caminhões e Ônibus, MAN e Scania), afirmou: “Nós esperamos que o e-Delivery venha sim para a Europa. Teremos a resposta em novembro. Se a Volkswagen conseguir nos entregar um modelo de 17 toneladas, o que eles disseram que conseguem, isso atenderá às regulamentações europeias.”
O modelo testado na Europa
Para o teste europeu a Volkswagen aproveitou seu modelo de e-Consórcio e o montou com motor Hino, empresa parceira do grupo. Conheça o modelo apresentado na Suécia:
O modelo de 4 toneladas é ideal para operações urbanas de distribuição com cargas mais volumosas. Seu trem de força entrega em torno de 85 kW e torque máximo de 280 Nm, associado a uma redução de 12:1. O motor é de alta rotação, alcançando 8.000 rpm para produzir toda a potência necessária à operação. Sua autonomia pode chegar a 200 quilômetros com seu conjunto de baterias de íon de lítio.
Sua configuração se diferencia dos demais modelos e-Delivery porque a tração é dianteira. Baterias e sistemas auxiliares estão localizados na porção central e traseira, mostrando a flexibilidade da arquitetura da VWCO.
Conta ainda com sistema de resfriamento e aquecimento do conjunto de baterias para garantir uma maior vida útil. Também incorpora todas as soluções de inteligência já disponíveis no restante da linha e-Delivery, como modo de carregamento rápido, função de economia de energia, freio regenerativo, auxílio para partida em rampas, suspensão independente, entre outros.
Como novo atributo, está o carregador embarcado, que viabiliza a recarga AC e pode se caracterizar como alternativa quando não houver infraestrutura disponível. O VW e-Delivery de 4 toneladas vem ainda com pneus de baixo atrito específico para veículos elétricos, com menor resistência ao rolamento para maior duração de cada carga na bateria.
Os testes da Ambev no e-Delivery
A Ambev, que hoje responde por 30% de toda a cerveja fabricada no mundo, tem um objetivo interno de se tornar uma empresa mais sustentável, por isso assumiu o compromisso de diminuir suas emissões de CO2 em 25% até 2025. Isso passa por gerar sua eletricidade de forma sustentável e também pelo objetivo de ter 1/3 de sua frota composta por veículos não poluentes até 2023. Para alcançar esse objeto é que a empresa pretende ter 1.600 e-Deliverys em sua frota até essa data.
Os testes nas primeiras unidades já duram 1 ano e os resultados, segundo a empresa, são satisfatórios.
- Mais de 15 mil quilômetros em testes de engenharia e condições reais na distribuição de bebidas em São Paulo
- mais de 11 toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas na atmosfera
- o e-Delivery deixou de consumir mais 3.300 litros de diesel
- 43% de sua energia foi proveniente do próprio sistema regenerativo de freios do veículo
- A experiência também gerou evoluções no desenvolvimento do modelo de 11 toneladas
- Aperfeiçoamentos em seu sistema como o processo de resfriamento e aquecimento do conjunto de baterias, por exemplo, proporcionam uma maior durabilidade para o sistema, o que eleva inclusive sua capacidade de carga.
O único problema, segundo os motoristas, é que o silêncio faz com que as pessoas não percebam a proximidade do veículo, por isso, o motorista precisa de mais atenção.
Características do veículo:
Localizado na porção traseira, seu trem de força oferece até 200 kW de potência, com máximo de 2.150 Nm mesmo em baixas rotações e dispensa o uso de transmissão devido a seu alto torque transmitido de forma imediata ao eixo trativo. Parte em rampas de 30% sem qualquer dificuldade.
Na parte central, vem o conjunto de baterias de íon de lítio que propicia em torno de 200 quilômetros de autonomia, variando de acordo com a configuração do veículo para atender à aplicação do cliente. Nessa contabilidade, não se considera a extensão viabilizada com a energia recuperada com o freio regenerativo de três estágios, que recarrega as baterias.
Para o melhor custo operacional, o modelo conta com um controle inteligente que pode programar a recarga apenas para os horários de menor consumo na rede elétrica e, consequentemente, tarifas reduzidas.
Os sistemas auxiliares como compressores de ar, ar-condicionado, bomba de direção e de água ficam a cargo de motores elétricos controlados de forma independente, otimizando o consumo de energia dos mesmos. Esses componentes estão localizados no módulo dianteiro do veículo, assim como a cabine, desenhada para ser a mais moderna do mercado de caminhões leves do mundo.
Alia-se a esse trabalho o esforço para manter ao máximo os componentes tradicionais da linha Delivery, ganhando economia de escala e consequente redução de custos.
O e-Delivery, nas versões 11 e 14 toneladas, deve entrar em linha de produção no final de 2020, mas você poderá conhecê-lo na Fenatran 2019.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
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