A história de que uma fatia de pão industrial pode deter um motorista no teste do bafômetro ganhou espaço na mídia. O alvoroço foi tanto que órgãos públicos se pronunciaram a respeito da história, afinal, a maioria começou a pensar em não entrar mais na fila do pão.
Será que o pão te barra no bafômetro?
O despertar da associação etílica surgiu quando a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) identificou teores alcoólicos acima do permitido em marcas de pão vendidas no Brasil.
Isso ocorre porque para fabricar pães, em geral, são necessários diversos processos, sendo um deles o da fermentação, onde os açúcares da massa são transformados em álcool e gases (CO2).
Grande parte desse álcool é evaporado com as altas temperaturas, já os gases ajudam no crescimento da massa.
Exite álcool além da conta dentro do pão
A análise aponta que há teores elevados de álcool em algumas marcas de pães de forma mais consumidas do Brasil. Seis delas, por exemplo, têm teores que a classificariam em produtos alcoólicos se existisse uma equivalência com as bebidas, que estabelecem um limite de até 0,5% para não ser alcoólica.
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Outras duas marcas poderiam ser consideradas fitoterápicas, por marcar a presença etílica, mas abaixo da marca das bebidas para maiores de 18 anos.
Álcool só no tanque de combustível
Após os testes, a associação enviou um ofício com os resultados para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugerindo o estabelecimento de um percentual máximo de álcool nos pães e a realização de ações de fiscalização.
Mas afinal, consumir pão de forma poderia indicar presença de álcool no sangue em um teste do bafômetro, tornando a pessoa inapta a dirigir?
O Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) da Polícia Militar do Distrito Federal fez testes públicos para mostrar que não é bem assim. O pão de forma, de fato, pode “aparecer” no bafômetro. Mas apenas se o teste for feito imediatamente após o consumo, o que não acontece nas abordagens policiais.
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A corporação mostrou em uma apresentação na internet que produtos, como enxaguantes bucais e sprays de própolis, também podem influenciar momentaneamente o bafômetro. O Portal Pé na Estrada também já fez a mesma experiência com o enxágue bucal. Veja baixo:
“Existe uma fase que precede a aplicação do teste, a entrevista. A abordagem começa justamente tendo uma entrevista com o condutor, conversando com ele, procurando saber se ele ingeriu bebida alcoólica, se ele eventualmente estava em uma festa e consumiu álcool, para poder entender o contexto que se apresenta ali naquela situação”, explica o major Wanderson Roldão. “O próprio tempo de conversa já é um tempo razoável para que esse álcool presente na boca da pessoa se dissipe”, acrescenta.
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Pelos testes da PMDF, no caso de a pessoa ter consumido uma fatia de pão — de uma marca específica —, três minutos já seriam suficientes para que essa fatia não mais afetasse o bafômetro. “A gente repetiu os testes de minuto a minuto até ver em qual momento em que ele apresenta o resultado zero no equipamento. No terceiro teste, o equipamento já trouxe o resultado zerado”, aponta o terceiro-sargento Arthur Salgueiro.
A legislação prevê multa de dez vezes o valor da infração gravíssima e suspensão do direito de dirigir por 12 meses a quem for flagrado conduzindo sob efeito de bebida alcoólica. Se o bafômetro acusar mais do que 0,34 miligramas de álcool por litro de ar, o motorista também sofre sanções penais, sendo conduzido à delegacia.
“Na verdade, o que a gente mais quer é que as pessoas não morram nas vias distritais. A busca da fiscalização é justamente perceber aquelas pessoas que estão sob influência de álcool. Então, a avaliação é feita a partir do ar do pulmão e não daquela concentração que possa haver na mucosa da boca. A gente já tem essa percepção e o sentido é efetivamente promover justiça”, arremata o major Roldão.
Por Rodrigo Samy, com informações da Proteste e Agência Brasília
Jornalista especializado em veículos e apaixonado por motores desde criança. Começou a carreira em 2000, como repórter, nas revistas Carro e Motociclismo. Atuou por mais de 10 anos em assessorias de imprensa ligadas ao mundo motor. Foi editor do Portal WebMotors e repórter do Estado de S.Paulo. Hoje, trabalha com repórter e editor do Portal Pé na Estrada.