Apesar de todos os pedidos da sociedade para o caminhoneiro rodar com combustível mais limpo, pouco se faz por ele, o motorista. Ideias mirabolantes existem de monte, porém ninguém pergunta. Você encararia cruzar o Brasil em um caminhão a gás ou elétrico? Ou, você arriscaria uma carga ou sua vida por conta de uma pane seca?
Pois é, a decisão da União Europeia de permitir, a partir de 2035, o registro apenas de veículos novos com “emissão zero” provocou reações positivas e negativas na indústria.
De qualquer forma, o Brasil está muito longe dessa discussão, uma vez que construiu um modelo próprio de descarbonização com base em biocombustíveis como etanol e biodiesel.
Camilo Adas, conselheiro de Tecnologia e Transição Energética da SAE Brasil propõe que a transição energética seja guiada por critérios técnicos com escala global e flexibilidade regional.
“A transição energética precisa ser tão global quanto possível, mas tão regional quanto necessária para ser viável do ponto de vista ambiental, econômico e social”, destaca o conselheiro.
Brasil e o caminhão a gás
O fato é que a transição energética está crescendo, porém, nenhuma solução ainda vence o disponível diesel.
O GNV, por exemplo, está até avançando mais que os elétricos, mas, a dúvida, é onde abastecer ou aonde encontrar um lugar para abastecer? Outra questão é a autonomia. Ela não é tão boa quanto o do diesel.
Mas uma pitada de refresco está chegando nas bolhas desse gás, chamada de biometano, gás renovável obtido a partir do biogás, que por sua vez, é produzido na decomposição de matéria orgânica, resíduos agrícolas, dejetos animais, lixo orgânico, esgoto e outras condições controladas.
É tudo muito bonito na teoria, mas, na prática, está restrito a poucos. No Brasil existem, mais de 1700 postos de combustíveis que vendem GNV Gás Natural veicular.
Para Renata Isfer, Presidente da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o país está evoluindo, mas ainda há muito espaço para o biometano crescer.
“A gente vive um momento de sinergia, principalmente entre as empresas que tem frota e as empresas que lidam com logística de gás e que viabilizam o abastecimento”, explica a Renata.
“Porque você tem aí uma situação hoje do ovo e da galinha, onde o caminhoneiro, especialmente aquele autônomo, que vai comprar um caminhão, mas que não tem onde abastecer. E também nem sabe se vai chegar ao destino ou voltar para sua origem”, acrescenta a executiva.
“E do mesmo lado, o dono da revenda do posto, vai dizer assim: colocar bioetanol? Não tem essa demanda, pois os caminhões ainda são a diesel, né?”, finaliza argumentando que o segmento está crescendo, mas que é preciso o esforço de todos.
Ao volante de um caminhão a gás
Para o motorista instrutor, Eduardo Chaga, a principal diferença do GNV em relação ao diesel é o silêncio: “Não parece, mas a viagem se torna menos cansativa”.
De qualquer forma, há limitações. Chaga diz que existem algumas regiões que a empresa não consegue atender por conta da ausência de postos disponíveis. “Nossas rotas são determinadas, onde não arrisca ocorrer um pane seca”, finaliza ele.
O motorista é instrutor na Jomed, Transporte & Logística, que inaugurou um ponto de abastecimento de biometano dentro da unidade de Guarulhos (SP).
Ele reforça que há algumas regiões que a empresa não consegue atender por não ter postos disponíveis.

Dicas para rodar de caminhão a gás no Brasil
Defina origem/destino e consulte mapas dos fornecedores (Use mapas para montar lista de postos)
Monte rotas por corredores confirmados (Evite trajetos que dependam de postos isolados)
Planeje folga de autonomia (reservas e, se possível, tanques extras ou pontos de apoio) — por segurança, considere margem ≥20–30% de autonomia.
Verifique calendário de implantação — muitos postos e corredores foram anunciados entre 2023–2025; confirme se os pontos aparecem nos mapas oficiais (alguns anúncios são projetos, não postos operacionais).
Contato prévio: telefone com o posto/central para confirmar operação e disponibilidade de abastecimento para peso e tipo de bico (alta vazão para caminhões).
Considere contratos com fornecedores de GNL
Conclusão: Sim, até dá para rodar com caminhão a gás no Brasil. Porém, é necessário criar rotas dentro de corredores existentes (Sudeste e Sul) ou onde há iniciativas privadas. Para viagens longas e arbitrárias pelo país, a infraestrutura ainda não é universal e exige planejamento rigoroso.

Jornalista especializado em veículos e apaixonado por motores desde criança. Começou a carreira em 2000, como repórter, nas revistas Carro e Motociclismo. Atuou por mais de 10 anos em assessorias de imprensa ligadas ao mundo motor. Foi editor do Portal WebMotors e repórter do Estado de S.Paulo. Hoje, trabalha como repórter e editor no Portal Pé na Estrada.