Estar atento às situações perigosas nas rodovias é essencial para a segurança no trecho. Mas, na prática, muitos condutores deixam essa prática de lado, o que acaba acarretando diversas ocorrências nas pistas. Então, para entender essa situação, fomos até motoristas e especialistas em trânsito para questionar: Por que a falta de atenção dos condutores é um problema recorrente nas estradas brasileiras?
Os números apontam: A irresponsabilidade virou rotina
Com base no Anuário da Polícia Rodoviária Federal de 2021, levantamos algumas informações sobre as ocorrências ligadas a imprudências de condutores no trecho durante o ano passado, em prol de uma análise sucinta de como a irresponsabilidade nas estradas e rodovias brasileiras é um problema de difícil solução no momento.
Vale destacar que o Anuário é um levantamento de informações levantadas pela PRF de rodovias federais concessionadas ou não.
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Tipos de Acidentes/Colisões: Quanto mais perto, pior
Realizamos uma filtragem entre os tipos de colisões ocasionadas por uma possível falta de atenção dos condutores e constatamos que 38.442 acidentes ocorreram nas estradas brasileiras.
Os números analisados apontam que a colisão traseira foi líder em acidentes causados por desatenção do condutor no Brasil no ano passado. De acordo com a PRF, 12.297 incidentes foram registrados nas rodovias do país, sendo que a ocorrência também aparece no topo em relação a feridos com 13.418 acidentados.
Em relação a esses altos números de colisões traseiras, o motorista Clemer Brito Oliveira (QRA: De Menor) afirma que a falta de atenção dos condutores com o aparelho celular, acaba gerando ocorrências no trecho, como a aproximação excessiva entre os veículos:
“A tendência era andar um pouco mais longe, mas as pessoas ainda andam muito ‘coladas’. Muitas vezes o motorista acaba se distraindo no trecho, falo de novo do celular que acaba prejudicando muito. O certo é o motorista manter a distância um do outro, prestar mais atenção e usar menos o celular para gerar menos imprudência.”
Conversamos também com o Doutor Alysson Coimbra, médico especialista em medicina do tráfego e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA) para sanar algumas dúvidas sobre o tema. Ele também ressalta as consequências do uso de celular ao volante e destaca os tipos de distração que podem acontecer com os condutores ao utilizar o aparelho:
“As colisões traseiras são o exemplo mais claro da falta de atenção ao conduzir. O uso do celular é a falha de atenção ao conduzir mais prevalente no trânsito. Os motoristas, com o uso do celular, possuem três mecanismos: A distração visual, quando fica oscilando olhar para a estrada e para a tela do celular; A distração manual, onde uma mão que deveria manipular o volante está no celular; e a distração intelectual, que é o pensar no que vai se redigir, a interpretação das informações que o condutor recebe e que tem acesso. Essas três distrações não devem acontecer para o motorista ao volante.”
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Reações tardias ou desatentas: Falta foco no trecho
Vale destacar também que a demora na reação ou a realização de manobra de maneira inadequada pelo condutor é um grande gerador de incidentes no país. Em nossa análise, constatamos que a ocorrência foi líder em acidentes (6.888 casos) e em número de feridos (7.755 casos) em 2021 no Brasil. Além disso, transitar na contramão foi a principal causa de mortes nas rodovias brasileiras no ano passado, com 636 óbitos registrados.
Outro ponto importante é que nas cinco principais causas de acidentes, todas são consequência da falta de atenção dos condutores nas estradas: Reação tardia ou ineficiente do condutor (6.888); Ausência de reação do condutor (5.593); Acessar a via sem observar a presença dos outros veículos (5.193); Condutor deixou de manter distância do veículo da frente (5.108); e Manobra de mudança de faixa (3.710).
“Essa reação tardia ou ineficiente é um mecanismo que o motorista por estar distraído ou por não estar atento, por mais que ele pense, a execução do movimento é ineficaz para evitar esse desfecho desfavorável que pode ser uma colisão, uma saída de pista, um tombamento, um capotamento, um desvio de obstáculo. Tudo isso são causas dessa reação tardia.” afirma o Dr. Alysson.
O caminhoneiro Edson Elísio Teixeira também destaca o celular como um grande motivo de desatenção aos condutores e cita o possível cansaço dos motoristas como agravante nas estradas:
“Eu acredito que se soma a falta de atenção e o uso do celular. Acho que as pessoas com celular ao volante ajuda muito nessas colisões e a falta de atenção com aqueles caras ‘abusadinhos’ que gostam de andar ‘colado’, né? […] O cansaço às vezes ‘ajuda’ nisso, acredito que faz parte. Mas, muito por conta da falta de atenção do próprio condutor, porque alguma coisa que tire a atenção hoje, como o celular, que com o uso do whatsapp por empresas e particulares, acaba atrapalhando bastante a gente.”
Por falar no cansaço, o condutor José Romildo da Costa Carminati (QRA: Bida) destacou que a falta de uma boa noite de sono após uma longa viagem, também pode ser um grande problema, assim gerando desvio de atenção nas rodovias. Ele acabava de retornar de uma viagem a Recife, capital pernambucana:
“O cansaço pode ser um motivo dos descuidos. Fui a Recife, gastei cinco dias para vir de lá pra cá, parava às onze horas da noite e dormia até quatro, cinco horas da manhã. O corpo acaba não reagindo bem aquela quantidade de sono que você dormiu, aí gera a fadiga.”
Já o Dr. Alysson apontou o excesso de estresse para um possível apagão dos estradeiros ao volante. Ele afirma que as preocupações do dia a dia acabam gerando consequências a saúde dos condutores:
“A gente sabe que as jornadas dos motoristas estão cada vez maiores e com remunerações menores do que era antes, por conta desse aumento dos insumos. Então, a vida do caminhoneiro está muito difícil, com uma alimentação irregular, doenças que interferem nas condições dos condutores. Os motoristas podem ter uma espécie de apagão quando estão dirigindo.”
Como tornar o condutor mais consciente de seus atos?
Com todos estes pontos sobre a mesa, é importante ressaltar que é extremamente necessário que o usuário das rodovias seja consciente dos riscos que a falta de atenção nas estradas pode trazer a ele e ao seu próximo nas pistas. Estar atento nas vias sempre foi e sempre será algo essencial para uma maior segurança nas rodovias.
“Infelizmente, o trânsito foi o espaço coletivo mais afetado pelos resquícios da pandemia com a alteração da capacidade mental e psicológica dos motoristas que estão mais agressivos, imprudentes, impacientes com uma dificuldade clara de convivência com os demais integrantes, sejam eles motoristas, pedestres, ciclistas e pessoas com mobilidade reduzida. E mais do que isso, a certeza da impunidade vem sendo um grande dificultador para reduzir os episódios de infrações e desrespeito que inevitavelmente causam acidentes, ferimentos graves e mortes. […] “A resolução desses problemas vai passar pela composição de fatores como a educação para o trânsito, a presença do poder público, maior eficiência e rigor nas fiscalizações com o aumento de patrulheiros rodoviários para melhorar o patrulhamento ostensivo, melhoria da frota, aprimoramento dos métodos de fiscalização.” destaca o Dr. Alysson.
Em relação a fala do doutor sobre a efetividade da fiscalização, questionamos a Polícia Rodoviária Federal sobre o excesso de imprudência nas rodovias federais e como vêm sendo realizadas as ações nas rodovias brasileiras. Recebemos a seguinte nota:
“As ações de fiscalização são direcionadas de acordo com os dados estatísticos de acidentalidade. A PRF considera o período do ano, os dias de semana e horários do dia, as principais causas e os locais de maior incidência de acidentes graves. Desta maneira é realizado o planejamento das ações de prevenção de acidentes que englobam tanto fiscalização quanto educação para o trânsito. A PRF está presente nas rodovias federais nas 24 horas do dia e em todos os dias da semana, independente de finais de semana e feriados. As ações integradas são uma constante na PRF que se integra com os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito e demais instituições afetas à temática da segurança viária.”
Em resumo, enfatizamos que manter a velocidade estipulada na via, ter atenção em situações como ultrapassagens e sinalizar corretamente qualquer tipo de ação nas vias são ações básicas e de suma importância para maior segurança do próprio condutor e de seu próximo.
Por Daniel Santana com informações do Anuário da Polícia Rodoviária Federal 2021 e AMMETRA/MG