Em 2019, a economia do Brasil se encontrava em processo de recuperação. Por isso, as previsões da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para o ano de 2020 eram otimistas, diferentemente das previsões para este ano. Para a Anfavea, haverá uma recuperação lenta em 2021.
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Ninguém contava com a vinda da pandemia e o surto da covid-19, que interrompeu um ciclo de 3 anos de recuperação após outra crise, a de 2015/2016.
Para autoveículos em geral, a projeção da Anfavea era de 9,4% de aumento no licenciamento para 2020. O ano terminou com queda de 26,2%, o que mostra que a pandemia teve um impacto profundo no mercado e recuou ao patamar de 2016, auge da última crise econômica brasileira.
No acumulado do ano, os números apresentaram quedas acentuadas, mas não tão drásticas como se projetava no início da pandemia. Recursos emergenciais injetados na economia pelo governo e o agronegócio ajudaram a amenizar as perdas do segundo trimestre, quando boa parte das fábricas e lojas permaneceram fechadas.
Caminhões
No mês de dezembro de 2020, foram vendidas 9,8 mil unidades, contra 8,5 mil vendidas no mesmo mês de 2019, contabilizando aumento de 14,4%.
No acumulado, houve queda de 11,5%. Em 2020, foram 89.678 unidades vendidas, contra 101.335 em 2019. O segmento que mais vendeu em 2020, assim como em 2019, foi o de pesados. Porém o segmento que teve menos queda nas vendas foi o de caminhões semipesados, com 0,5% de redução. Isso mostra uma tendência de investimento em caminhões menores, que percorrem trajetos mais curtos.
Já falamos por aqui sobre motoristas que estão migrando para o transporte urbano com caminhões leves, devido as vantagens de fazer viagens de tiro curto. Mais uma evidência disso são as vendas de caminhões semileves em 2020, que tiveram o segundo menor percentual de queda durante o ano da pandemia.
2020 | 2019 | % | |
Total caminhões | 89.678 | 101.335 | -11,5 |
Semileves | 4.859 | 5.079 | -4,4 |
Leves | 9.049 | 11.242 | -19,5 |
Médios | 8.357 | 10.069 | -17 |
Semipesados | 23.120 | 23.227 | -0,5 |
Pesados | 44.293 | 51.718 | -14,4 |
Em relação às montadoras, a Ford Caminhões já vinha com um histórico de queda nas vendas desde 2019, causadas pelo encerramento das operações da marca na América Latina. Em 2020, a montadora foi a que mais teve redução nas vendas, com percentual de redução de 91%.
A montadora que mais vendeu em 2020 foi a Mercedes-Benz, seguida da MAN, que foi a que teve menor percentual de queda no licenciamento.
A Iveco fica em destaque por ter tido aumento de 30,2% nas vendas durante o ano da pandemia, o maior percentual de crescimento em comparação com as concorrentes.
2020 | 2019 | % | |
Agrale | 18 | 58 | -69 |
Caoa (Hyundai) | 226 | 258 | -12,4 |
DAF | 3.831 | 3.247 | 18 |
Ford | 579 | 6.458 | -91 |
Iveco | 5.064 | 3.889 | 30,2 |
MAN (Volkswagen) | 25.586 | 26.740 | -4,3 |
Mercedes-Benz | 26.758 | 29.951 | -4,4 |
Peugeot Citroën | 253 | 347 | -27,1 |
Scania | 8.712 | 12.757 | -31,7 |
Volvo | 14.976 | 16.844 | -11,1 |
Nas exportações, o ano terminou com déficit de 2,3%, contabilizando 13,2 mil unidades exportadas contra 13,5 mil em 2019. O mês de dezembro deste ano teve 9,8 mil unidades exportadas, representando 14,4% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado.
Ônibus
Um dos setores mais afetados pela pandemia, foram 13.931 unidades vendidas em 2020, o que no acumulado representa queda de 33,4%, sendo o pior resultado desde 1999.
As marcas que mais venderam ônibus, assim como o setor de caminhões, foram a Mercedes-Benz e MAN.
2020 | 2019 | % | |
Agrale | 1.614 | 2.229 | -27,6 |
Iveco | 603 | 253 | 138,3 |
MAN (Volkswagen) | 4.246 | 5.509 | -22,9 |
Mercedes-Benz | 6.446 | 11.146 | -42,2 |
Scania | 394 | 901 | -56,3 |
Volvo | 444 | 744 | -40,3 |
Nas exportações de ônibus, houve redução de 42,3% no acumulado, comparando os anos de 2020 e 2019. Em dezembro deste ano, foram 492 unidades exportadas, contra 775 no mesmo período do ano passado, o que representa queda de 36,5%
Máquinas agrícolas
O agro é um dos fortes da economia brasileira e, ao longo dos meses de 2020, foi um setor que seguiu firme apesar da pandemia. Em 2019, as máquinas agrícolas tiveram queda nas vendas em 8,4%.
Já neste ano, houve crescimento de 7,3% no acumulado, com 47 mil unidades vendidas contra 43,8 mil no ano passado. Somente em dezembro deste ano, foram 5 mil unidades licenciadas, contra 3,3 mil em dezembro de 2019, o que representa crescimento de 49,8%.
A Anfavea destaca que o setor segue aquecido apesar da pandemia devido fatores como crédito no BNDES e opções de financiamento disponibilizadas pelo governo.
Já as exportações diminuíram 33,3% no acumulado do ano. Em 2020 foram 8,5 mil unidades exportadas, contra 12,8 mil em 2019.
Expectativa para 2021
“Nunca foi tão difícil projetar os resultados de um ano, pois temos uma neblina à nossa frente desde março, quando começou a pandemia”, explica Luiz Carlos Moraes, presidente da associação.
A Anfavea prevê aumento de 15% no licenciamento de autoveículos, 9% nas exportações e 25% na produção. Os índices são insuficientes para a retomada a patamares de 2019, pré-pandemia. Por isso, é esperada uma recuperação lenta em 2021.
Para máquinas agrícolas, a expectativa é de crescimento de 7% nas vendas, 9% nas exportações e 23% na produção.
“Observamos uma segunda onda de covid-19 em países do hemisfério norte, que parece ter chegado também ao Brasil. E sabemos que uma imunização pela vacina será um processo demorado, que tomará quase todo o ano, impedindo uma retomada mais rápida da nossa economia”, acrescenta.
Outros desafios citados são a fragilidade do mercado de trabalho devido ao período de pandemia e aumento da carga tributária no país. Antes mesmo da pandemia, Moraes já citava problemas estruturais e relacionados a burocracia como impedimentos para a economia do Brasil.
Para a Anfavea, questões como taxa de juros para exportações e problemas de infraestrutura devem ser resolvidos para que a economia cresça consideravelmente.
Apesar da recuperação lenta em 2021, existem fatores positivos apontados, como o aumento do PIB em 3,5% e crédito com condições favoráveis com a Selic subindo para 3%, que podem ajudar na retomada. Para a associação, ela será lenta a curto prazo, mas poderá se tornar mais intensa após o início da vacinação.
Veja abaixo as previsões da Anfavea para 2021:
Por Pietra Alcântara