sexta-feira, novembro 22, 2024

Autônomos debatem com deputados a política de preço da Petrobras

MercadoAutônomos debatem com deputados a política de preço da Petrobras

A Câmara dos Deputados recebeu na quarta-feira (08) uma sessão aberta para discutir os problemas do transporte rodoviário de cargas. Estavam presentes deputados, representantes dos caminhoneiros autônomos, das transportadoras, da ANTT e também do Ministério do Trabalho. O secretário do ministério expôs o trabalho da pasta com o setor, já os transportadores mostraram a insatisfação do meio com a política de preço da Petrobras.

Política de Preço da Petrobras

O preço do diesel tem sido o grande pesadelo dos transportadores desde que a Petrobras mudou sua política de preços em 2017. A partir de então, o valor do combustível passou a variar quase que diariamente, tornando dificílima a atividade de cobrar corretamente pelo frete. Uma vez que o transportador fecha um valor de frete hoje, pensando no combustível com o preço de hoje e, no final da viagem, daqui uma semana talvez, esse preço já subiu, por exemplo, 5%. Essa alta comeria todo o lucro da viagem.

Vander Francisco Costa (CNT).“Estivemos na Petrobras em dezembro de 2017. Não com o presidente, mas com uma diretoria, quando alertamos que a continuidade da política de volatilidade de ajustes frequentes poderia provocar uma greve, como de fato aconteceu. Nós falamos, alertamos, documentamos e eles continuaram a promover a paralisação no Brasil.” – afirma Vander Francisco Costa – Presidente da Confederação Nacional do Transportes (CNT).

Depois da força mostrada em 2018, agora o governo tenta evitar ao máximo uma nova greve. Em março, a petroleira adaptou sua política e garantiu uma estabilidade de 15 dias para o valor do diesel, ou seja, o preço do óleo só muda de 15 em 15 dias. Porém, a medida não é suficiente, segundo os transportadores.

Nós não temos a capacidade técnica de suportar aumentos de preço diários, quinzenais ou até mesmo mensais. A gente faz a proposta que as variações que acompanham o mercado internacional sejam feitas num intervalo mínimo de 90 dias.” – pede o representante da CNT

O mesmo afirma Dilmar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), “Previsibilidade de ajuste a cada 15 dias não surte nenhum efeito para a categoria, é muito pouco.”

Quem também se posicionou sobre o tema foi o Presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM), José da Fonseca Lopes. Ele afirmou que a situação do autônomo é desesperadora no momento e que o governo precisa sim seguir com suas políticas a médio e longo prazo, mas algo precisa ser feito agora, pois a categoria não consegue esperar mais. E o preço do diesel é esse fator que precisa ser mudado agora.Presidente da ABCAM, José da Fonseca Lopes

O caminhoneiro autônomo é que está sendo penalizado por isso. Ele está morrendo a míngua. Alguma coisa precisa ser feita urgentemente.

 

O autônomo Carlos Alberto Litti, na reunião representando a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística, destacou que o diesel está voltando aos mesmos patamares da época da greve de 2018 e que os caminhoneiros estão se movimentando. “A insatisfação é crescente. A mesma onda de 21 de maio está começando a se agitar novamente”, afirma.

Formação do preço é questionada

Presentes na sessão da Câmara
Presentes na sessão da Câmara

Os presentes na mesa questionaram também a própria formação de preço da petroleira.

“O custo da Petrobras não vem exclusivamente do preço internacional. Sabemos o Brasil é um grande produtor de petróleo e a Petrobras tem uma grande capacidade de refino (…) então quando ela quer praticar o preço internacional, ela está fazendo uma política de maximizar os resultados, o que é legítimo da iniciativa privada. Eu falo isso com bastante tranquilidade, porque a Petrobras, pro preço do óleo diesel, ela pratica a paridade com o mercado internacional, mas pro preço do gás natural, não. O preço do gás natural vendido pela Petrobras no Brasil é muito superior do preço médio do mercado internacional. É uma decisão política da Petrobras que a gente respeita, mas é preciso deixar claro que em situações análogas, ela toma decisões diferentes.” – afirmou Vander Francisco Costa da CNT.

Carlos Alberto Litti também criticou a diminuição da produção de combustível internamente, o que beneficiaria apenas os acionistas e não a população como um todo e especialmente o caminhoneiro:

Carlos Alberto Litti, na reunião representando a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística38% das ações da Petrobras estão na mão das petroleiras, aí o governo anuncia a venda das refinarias, daquilo que poderia dar o suporte para que nossos preços fossem mais baratos. Também sucateia e não permite que se aumente o refino. Hoje, 60% da capacidade de refino da Petrobras está ociosa. Por quê? Porque atende a demanda dos grandes petroleiros e investidores internacionais que têm a necessidade de que o preço do barril cheio possa dar lucro pra esse investidor.

José da Fonseca Lopes criticou ainda o montante de impostos sobre o diesel. “O ICMS é diferente em cada estado. Se o óleo diesel é o que move o País, por que não tem uma coisa única no Brasil para diminuir o custo do produto?”

Cartão do Caminhoneiro

Outra medida criticada foi o Cartão Caminhoneiro, anunciado pelo Petrobras juntamente com o prazo de 15 dias para a mudança do preço. Segundo a política, o caminhoneiro poderia carregar previamente o cartão e depois usar o saldo para abastecer ao longo da viagem, garantindo o valor do dia da recarga.

Dilmar Bueno, presidente da (CNTA), Dilmar Bueno deixou claro que ninguém sabe ainda exatamente como funcionará o cartão, já que a Petrobras não deu novas explicações desde o anúncio da medida, mas ainda assim não acredita na efetividade do dispositivo. Ele destaca que nem sempre o caminhoneiro recebe um adiantamento alto o suficiente para que ele imobilize tanto dinheiro no cartão. O saldo do frete só virá depois da viagem e aí já não adianta carregar o cartão. Além disso, a forma de pagamento está restrita aos postos BR (até onde se sabe), o que tiraria do motorista a escolha de onde parar ao longo da viagem. Já José da Fonseca chamou de engodo o Cartão Caminhoneiro.

Não havia representantes da Petrobras na sessão, algo que foi duramente criticado pelos participantes e visto como falta de interesse empresa nas discussões do setor.

Eu vou fazer um repúdio ao presidente da Petrobras pela falta de senso ou espírito público. A Petrobras não poderia deixar de estar presente. Se o presidente não pudesse estar presente, ele tem várias pessoas que poderiam substitui-lo.” – afirmou o deputado Bosco Costa (PR/SE), presidente da sessão.

Para ver a sessão completa em vídeo, clique aqui

Por Paula Toco

Jornalista Paula Toco sentada em banco do motorista de caminhão pesado

Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.

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