Pedágio caro, diesel alto, frete baixo, tudo isso virou problema menor para Fernando Pitanga. Caminhoneiro desde a adolescência, Pitanga ficou conhecido pelo pessoal do trecho ao vencer a edição de 2010 do Melhor Motorista de Caminhão do Brasil, competição promovida pela Scania. O concurso mudou sua vida. Deixou de ser motorista empregado e passou a autônomo porém, em 2016, aos 41 anos, sua vida mudou novamente. O diagnóstico de melanoma, um tipo agressivo de câncer de pele, interrompeu os planos de quitar o caminhão.
Fernando retirou o câncer em 2017 entretanto, ele voltou. O caminhoneiro descobriu a metástase este ano, no fígado e pulmão. Neste estágio não é possível operar e tanto quimio quando radioterapia são ineficazes. Existe porém um recurso relativamente novo disponível, a imunoterapia, contudo o tratamento foi negado pelo SUS.
Imunoterapia e burocracia
O tratamento já era considerado primeira linha nos EUA e Europa há algum tempo, mas no Brasil, apenas em junho de 2017 conseguiu liberação na Anvisa. Entretanto, o SUS ainda não o inclui entre os medicamentos distribuídos a população. Ou seja, quem precisa dele, ou consegue por seu plano de saúde, ou compra por conta própria. Fernando, como a maior parte dos caminhoneiros autônomos, não tem plano de saúde. Tem menos ainda condições de comprar sozinho, já que cada dose custa quase R$ 18mil e é preciso tomar uma a cada 15 dias.
A família busca na justiça o direito de receber o remédio de forma gratuita (você pode ajudar assinando a petição neste link), mas o tempo continua passando e Fernando talvez não aguente esperar tanto por uma resposta. Amigos e outros companheiros da estrada também estão fazendo uma vaquinha para começar o tratamento, o que daria a ele mais tempo para esperar pela justiça. Se quiser ajudar com qualquer valor, as doações estão sendo recebidas neste link.
INSS
Além do remédio negado pelo SUS, o caminhoneiro ainda teve o benefício do auxílio doença negado pelo INSS. A perícia entendeu que Pitanga não tinha impedimentos e o liberou para trabalhar. Como precisava da renda, o motorista continuou a dirigir, o que agravou seu quadro.
A família entrou na justiça e ganhou a causa, mas o INSS ainda não fez os pagamentos. Agora Fernando já não consegue trabalhar, e uma família que fez a sua parte pagando a previdência em épocas de saúde, agora precisa se virar, pois não conta com a contrapartida do Estado.
Personagem de livro
Fernando Pitanga também abriu as portas de sua boleia para a jornalista Paula Toco. A viagem pelo Nordeste a bordo de um caminhão tanque deu origem ao livro “E se eles sumirem?”, um diário de bordo que conta o dia a dia do caminhoneiro, com os problemas e também o lado positivo da profissão. O livro está a venda no site eseelessumirem.com, e toda a renda agora é voltada para o tratamento de Fernando.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.