O sinal de que o Carnaval e o primeiro bimestre do ano já passaram, para muitos, é ver as prateleiras do mercado lotadas de ovos de Páscoa, anunciando que o feriado se aproxima. Quem as vê não imagina o esforço logístico e de planejamento necessários para que o produto esteja nos pontos de venda em perfeito estado e no período e quantidade certas.
Toda essa logística envolve três estruturas: os fabricantes, as distribuidoras e o varejo. Tudo começa com pelo menos um ano de antecedência, quando as estratégias comerciais e de marketing são pensadas, definindo e projetando os volumes dos ovos de Páscoa e outros produtos típicos da época a serem produzidos.
Com base nisso, o planejamento logístico para distribuição e entrega dos produtos é feito, abrangendo toda movimentação da mercadoria desde a fábrica, até os centros de distribuição e, por fim, o abastecimento dos pontos de venda. Os primeiros produtos, em geral, costumam ser distribuídos em dezembro, com a maior parte dos volumes sendo entregues até um mês antes da Páscoa. Se necessário, podem ser feitas entregas extras até o final de semana do feriado.
Armazenamento e transporte
Devido ao prazo, os centros de distribuição devem estar devidamente equipados para estocar os ovos de Páscoa e mantê-los nas condições ideais até que possam seguir viagem até os pontos de venda. Maurício Almeida, diretor sênior de operações da DHL Supply Chain, explica que as condições da estocagem e do transporte devem ser precisas. “Nos centros de distribuição geridos pela DHL, a temperatura e umidade também são controlados e monitorados por meio de antenas espalhadas por toda a área de estocagem”, ele conta. Almeida ainda acrescenta que, os pallets dos ovos, devido sua fragilidade, não podem ser empilhados, sendo dispostos lado a lado – o que demanda um espaço grande de armazenagem que pode chegar a 15.000 m². Para o transporte, a temperatura indicada fica entre 14 a 20°C.
Por que é mais caro?
Cláudio Czapski, superintendente da ECR Brasil, conta que todos esses quesitos exigidos para o transporte e armazenamento dos ovos de Páscoa são os fatores que encarecem o produto, quando comparado às barras de chocolate. “Uma barra de chocolate ocupa volume muito menor em comparação aos ovos de Páscoa, além da embalagem que é mais barata”, explica. Cláudio ainda esclarece que as vendas da Páscoa são ações pontuais, pois é um produto que tem saída somente em um período do ano específico. “A barra é um produto que pode ser vendido o ano todo. Mesmo que não pareça, os ovos e as barras de chocolate são produtos bem diferentes, quando pensamos na logística que os leva até os pontos de venda”, conclui.
Durante todo o período de recolhimento, estocagem e distribuição dos produtos, o pico das operações ocorre a partir de 60 dias antes da data oficial e se intensifica na semana que antecede o domingo de Páscoa. “Chegamos a contratar 100 pessoas nos períodos mais críticos”, comenta Almeida, falando sobre as operações da DHL.
O varejo também fica atento aos cuidados especiais exigidos pelos produtos destinados à Páscoa, fazendo o possível para que os estoques tenham o máximo de saída. Mesmo assim, quando há sobra dos produtos, os próprios pontos de venda se encarregam de ações como promoções e descontos especiais, para que não haja desperdício.
Os ovos e a crise
A instabilidade financeira do país tem refletido em todos os setores, e os dos produtos destinados à Páscoa não ficam para trás. Nos últimos dois anos, o diretor sênior de operações da DHL conta que a distribuidora tem enfrentado como desafio a diversificação dos pontos de venda, que demanda um maior fracionamento da armazenagem para que os produtos e volumes certos cheguem a cada parceiro varejista. “Esse crescimento reflete a tendência do mercado como um todo de chegar cada vez mais próximo ao consumidor”, explica.
Outro desafio tem sido o aumento da variedade de produtos para a Páscoa, além da preferência do consumidor por produtos mais baratos, como barras de chocolate. De acordo com um levantamento feito pelo ISV – Instituto Soluções Varejo em parceria com a FCDLESP, 60% da expectativa de vendas para essa Páscoa se concentra em barras de chocolate, bombons e outros presentes alternativos para a época.
Caminhoneiro da páscoa
O coelhinho leva o crédito, mas é o caminhoneiro que traz um ovo, dois ovos, três ovos assim. Pelas embalagens bem feitas e pela exigência de não se empilhar paletes, nem os buracos da via são um problema para o motorista. Mas se não forem carregados de forma correta , os ovos podem sofrer avarias, e aí perdem valor de mercado, afinal, ninguém quer ganhar ovo quebrado.
Segundo o caminhoneiro Carlos Alberto Carcará, se o carregamento não for feito na ordem da entrega, eles precisarão tirar um palete pra pegar um mais de trás, depois colocar de volta, e é nesse mexe-mexe que acontecem as avarias. “Já comecei em Imperatris -MA e terminei em Boa Vista… depois de 8 entregas em Manaus… imagine a bronca!”.
Os ovos podem ser uma simples brincadeira de criança no domingo, mas são assunto complexo de adulto no resto do ano.
Por Pietra Alcântara