O segmento fora de estrada é extremamente importante para um país como o Brasil. Como aqui temos ainda muitas atividades ligadas à matéria-prima, como madeira, grãos e mineração, esse segmento tende a crescer. Então, pensando nisso e com a proposta de trazer maior segurança com menor custo operacional, a Mercedes-Benz trouxe para o Brasil o caminhão fora de estrada Arocs 8×4.
Arocs – um caminhão fora de estrada brasileiro?
O Arocs já roda há alguns anos na Europa e, também, em nossa vizinha Argentina. No Brasil, quem cobria esse segmento era o Actros 4844. O Actros era importado da Europa, ou seja, não tinha uma adaptação para as condições de rodagem e uso daqui. Além disso, por ser importado, não tinha direito de entrar nos planos de financiamento como o Finame.
Para o Arocs chegar ao formato do caminhão fora de estrada brasileiro, a Mercedes-Benz escolheu o segmento de mineração para mercado de entrada, isso porque a mineração é um ramo altamente severo e profissional. Dessa forma, se o veículo funciona nesse setor, será mais fácil levá-lo para outros depois.
Foram 3 anos e 9 mil horas de testes internos e em clientes. Uma grande diferença com o modelo que roda na Europa é o próprio uso. Lá, um caminhão 8×4, como é o Arocs, costuma atuar nas operações de apoio, como pipa ou lubrificador. Já o Brasil usa os caminhões 8×4 na produção mesmo. Por isso, precisam estar prontos para receber esse peso e trabalhar tantas horas seguidas.
Por conta de toda essa adaptação ao mercado interno e por ser produzido aqui, a situação do Arocs é diferente da do Actros. Ou seja, o Arocs está apto a participar de programas de financiamento como o Finame. Nas operações com o Actros 4844, a Mercedes-Benz também levantou diversos pontos de melhora e os incorporou ao Arocs. Esses pontos você irá conhecer a seguir.
Arocs – detalhe a detalhe
Motorização e câmbio
O Arocs vem equipado com motor Mercedes-Benz OM 460 LA de 13 litros, o mesmo do Novo Actros. Ele oferece potência de 510 cv a 1.800 rpm, com torque de 2.400 Nm a 1.100 rpm.
O câmbio é Mercedes PowerShift G340 de 12 marchas, automatizado, sem pedal de embreagem. A Mercedes-Benz afirma que desenvolveu o câmbio de última geração PowerShift 3 para o mercado brasileiro fora de estrada. A marca promete entregar inteligência embarcada, com destaque para trocas de marchas mais rápidas e eficientes.
Como um caminhão fora de estrada precisa ser robusto, o Arocs promete caixa de câmbio reforçada, com engrenagens mais largas, aumentando resistência e vida útil. Não possui anéis sincronizadores, ou seja, gera menos manutenção.
Além disso, o câmbio vem com três módulos de condução. O Economy foi feito principalmente para quando o caminhão está rodando vazio e em terreno bom e plano. A função Standard, que é a palavra em inglês para “padrão”, é exatamente para isso, ou seja, para o uso padrão. Já o módulo Power Off-road é para aplicações mais severas, com pavimento de baixa aderência, rampas íngremes e caminhão carregado.
O Arocs 8×4 também vem equipado com embreagem bidisco de 440 mm, com torque máximo de até 3.300 Nm, uma solução consagrada na mineração. A espessura de cada disco é de 3 mm. De acordo com a montadora, essa embreagem oferece longa vida útil e mais disponibilidade do veículo, ou seja, mais rentabilidade para o cliente.
Suspensão e eixos traseiros
A suspensão dianteira do Arocs é formada por molas parabólicas de 4 lâminas assimétricas, com capacidade de carga de 9 toneladas para cada um dos dois eixos dianteiros direcionais. Dessa forma, a montadora assegura maior capacidade de carga e melhor distribuição de carga no veículo, além de maior conforto de suspensão e estabilidade de direção.
A marca afirma que projetou e testou as molas especificamente para condições extremas off-road, com barras estabilizadoras no primeiro e no segundo eixos. As molas, amortecedores e estabilizadores ganharam buchas de metal-borracha livres de manutenção.
Já a suspensão traseira do Arocs foi otimizada. Ela conta com molas parabólicas reforçadas com 100 mm de largura. A ideia é trazer melhor estabilidade, maior rigidez e, portanto, vida útil mais longa. Também dispõe de barras estabilizadoras reforçadas e amortecedores de dupla ação. As suspensões independentes têm fixação com “jumelo”.
Capacidade de carga, segurança e basculamento
Na mineração, a quantidade de peso que um caminhão precisa aguentar é grande. Sua capacidade técnica é de 58 toneladas se operado até 40km/h e 48 toneladas caso seja acima dessa velocidade, algo que não é o uso comum. Entretanto, a capacidade máxima de tração (CMT) é de 150 toneladas.
Para garantir a segurança de um veículo tão pesado, o Arocs conta com o Hill Holder e Hold. Hold quer dizer segurar em inglês, ou seja, essas funções fazem com que o veículo não volte em rampas. E quando o motorista desliga o motor, a função é automaticamente ativada. O freio de estacionamento eletrônico também é ativado caso alguém abra a porta quando o caminhão está parado.
A pedidos de clientes, o Arocs conta com retarder a óleo. Em combinação com os demais sistemas de freio, o retarder Voith R115 HV oferece cerca de 900 cv de potência de frenagem a 2.300 rpm. Isso traz mais segurança e menos manutenção.
O basculamento é um dos pontos críticos dessa operação, por isso, para aumentar a segurança nessa hora, o basculamento só pode ser feito se respeitadas quatro condições:
1 – portas fechadas,
2 – caminhão em neutro,
3 – inclinômetro na posição correta e
4 – tomada de força acionada.
Detalhes específicos para operação fora de estrada
Os caminhões off-road operam, em média, 16h por dia/ 7 dias por semana. Cada minuto parado sai muito caro, por isso, um dos focos foi diminuir paradas técnicas para pequenos reparos. A Mercedes-Benz acompanhou diversas operações dos clientes e estudou mudanças que eles faziam nos caminhões para evitar essas paradas.
Um dos maiores índices de indisponibilidade era gerado por tampas do tanque de combustível e arla avariadas por pedras. A Mercedes-Benz resolveu esse problema com uma tampa protetora de ferro em todos os tanques.
Aliás, os tanques de combustível do Arocs são fabricados em material plástico de alta resistência e têm capacidade de 400 litros de diesel e de 25 litros de arla. Eles suportam pequenos impactos sem sofrer ruptura e sem deformações residuais.
Também a pedido dos clientes, a Mercedes-Benz instalou os tanques de combustível e de ARLA do mesmo lado do caminhão, facilitando as operações nas condições severas da mineração.
Com o piso irregular, é comum que o torque das rodas se desalinhe. Com uma pecinha simples, onde uma porca aponta para a outra quando o torque está correto, a equipe de manutenção pode rapidamente identificar onde está o desalinhamento e resolver o problema.
O escapamento também é adaptado para o mundo off-road. O escapamento comum é voltado para baixo, pois em uma rodovia existem veículos ao redor, logo, se ele fosse jogado para o lado, atrapalharia os demais. Em uma mina isso não existe e o escapamento para baixo levanta mais poeira. Já o tubo de escape vertical acabava ficando muito grande e dava trincas e problemas de manutenção. Pensando nisso, o Arocs vem com escapamento apontoado para o lado.
Cabine e conforto do motorista
O conforto do operador foi uma das maiores demandas dos clientes de mineração. Por isso, a Mercedes-Benz garante que o Arocs é um caminhão compacto, fácil de manobrar e dimensionado para qualquer terreno. Considerando a altura do caminhão e a estatura do brasileiro, a versão brasileira ganhou um degrau extra e flexível no estribo, assim, garantindo mais conforto de acesso para o motorista.
Alguns itens da cabine são específicos para operações off-road: para-sol externo, espelho de aproximação, tampa de acesso externo ao compartimento de ferramentas, degrau e corrimão de acesso à báscula (opcional), janela na parede traseira, cobertura dos degraus, para-choque com cantos em aço e protetores de faróis, pino para reboque, protetor do cárter, mosquiteiro na frente do radiador, isolamento de ruído e bandeja contra poeira no motor.
Dentro da boleia são 2,2 metros de largura, 1,6 metro de altura em frente aos bancos e túnel baixo de 170 mm. A montadora desenvolveu a cabine com o conceito de célula de sobrevivência e atende à norma ECE-R29. Ou seja, mais segurança para o motorista.
O volante é multifuncional, possui piloto automático, chave com controle remoto, display do painel com tela de 10,4 centímetros, ar-condicionado de série (digital opcional), alavanca de marcha na coluna de direção e banco do motorista pneumático com cinto de segurança integrado.
Além disso, a cabine vem equipada com rádio MP3 com Bluetooth e conector USB, tomada de ar comprimido para limpeza interna, tapetes de borracha, redes para objetos na traseira, preparação para câmera de ré e para rádio PX, teclas adicionais para implementos e dois porta-objetos internos com tampa atrás dos bancos com capacidade total de 430 litros (2 x 215 litros).
Na mineração, tudo é em horas e o Arocs promete menos horas paradas
Enquanto os segmentos rodoviários marcam tudo em quilômetros, nas minas tudo é marcado em horas, por isso, tanto o caminhão quanto os planos de manutenção foram pensados para refletir essa característica.
Por exemplo, ao invés do contador de quilometragem, o que importa mesmo nesse mercado fora de estrada é o horímetro. Antes, os clientes instalavam esse “reloginho” logo que pegavam o caminhão, entretanto, o Arocs já vem com ele.
O plano de manutenção para esse off-road também é em horas e a Mercedes-Benz garante que, ao longo de um ciclo de três anos, o Arocs terá 22 paradas a menos, o que dá 49% menos paradas programadas que os demais veículos da categoria. Segundo Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas e Marketing de caminhões da marca, esse número não é propaganda, é de fato manual do proprietário contra manual do proprietário da concorrência.
Segundo a montadora, essa diminuição vem de diversos itens como um basculamento mais rápido, a caixa de mudança saiu de 16 litros para 9, o que agiliza na hora da troca. Aliás, a troca do óleo lubrificante subiu de 500 para mil horas. Ou seja, o caminhão demora o dobro do tempo para precisar parar. Além disso, as tampas reforçadas nos tanques que já destacamos acima também cooperam.
Concessionária dentro da mina
Os caminhões fora de estrada têm pneus específicos para o off-road, por isso, não podem ficar pegando a estrada e indo para a concessionária quando apresentam problemas. Além disso, o custo de um caminhão parado por um dia pode ser maior que o valor do próprio caminhão. Sendo assim, a Mercedes-Benz criou maneiras diferentes de prestar assistência às mineradoras.
A montadora fez parcerias com várias implementadoras para deixar o veículo pronto, tanto física quanto eletronicamente, para receber o implemento sem maiores dificuldades ou necessidade de mexer no caminhão.
Para quem possuir a partir de 20 veículos, será possível instalar um Truck Off Center, que é como uma mini concessionária no local. Para quem não tem tantos caminhões também é possível ter loja de peças na empresa ou uma oficina ou mecânico dedicado.
Outra novidade é óculos de realidade virtual, que irá auxiliar o mecânico na hora da manutenção. Com esses óculos ele consegue acessar documentos das partes que estão sendo vistoriadas e ainda pode contatar a consultoria online da fábrica. O especialista do outro lado pode ver o que o mecânico estiver vendo e ainda mostrar para ele como fazer a manutenção, tudo através dos óculos, deixando as mãos livres para o trabalho. Mais um fator que ajuda a ganhar tempo, já que a mineração conta tudo em horas.
ESG – governança ambiental, social e coorporativa
Cada vez mais as grandes empresas, como as da mineração, precisam seguir as regras de ESG, que é uma sigla em inglês, mas que se preocupa com a governança ambiental, social e coorporativa. Segundo a Mercedes-Benz, o Arocs também pode contribuir para isso.
A disponibilidade de peças Renov, que é a linha remanufaturada da montadora, contribui para menor agressão ao meio ambiente, já que reaproveita carcaças e diminui o uso de matérias-primas e descartes. Além disso, o custo das peças é, em média, 40% menor. Soma-se a isso o uso do Fleetboard, sistema de telemetria da Mercedes-Benz, que ajuda a controlar as emissões de CO2, outro importante fator para esse índice.
Preço e mercado
A Mercedes-Benz espera que o mercado off-road gire em torno de 600 caminhões neste ano de 2021. Segundo a montadora, já são 200 pedidos de unidades do Arocs. Para 2022 espera-se um mercado de mil unidades. O objetivo da marca é recuperar a liderança nesse segmento no Brasil. A empresa acredita que a grande diminuição de horas paradas (menor TCO) irá ser o diferencial para alcançar esse objetivo.
Além disso, a montadora acredita que os caminhões fora de estrada fabricados aqui podem ser exportados para todos os 47 países que a fábrica brasileira já atende.
O Arocs chega ao mercado ao preço de R$ 1.100.000,00 (um milhão e cem mil reais).
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
Gostaria de ser presenteado com um curso para operar uma maquina dessa.
Ja trabalhei com caçamba traçado, mas sendo veiculo urbano.