A greve dos caminhoneiros não chamou só a atenção da população brasileira. As paralisações foram notícia também em jornais internacionais e tem repercutido em outros países, como a Argentina. Por isso, o governo argentino teme paralisação de caminhoneiros à brasileira.
Depois de caminhoneiros autônomos bloquearem algumas das principais vias de acesso a Buenos Aires, o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros, Hugo Moyano, ameaçou convocar uma greve nacional do setor. Os caminhoneiros autônomos protestaram contra o reajuste de 13,4% no preço de pedágios em março e de 5% no diesel no início do mês.
Já Moyano incluiu entre as reivindicações uma renegociação salarial com o governo do presidente Mauricio Macri. Ele alega que o reajuste salarial deve ser de 27%, e não 15%, como acordado anteriormente, dado o aumento da expectativa de inflação. Se não houver resposta do governo até terça-feira, promete paralisação nacional na próxima quinta-feira.
O risco é real
Thomaz Favaro, da consultoria Control Risks, enfatiza que a Argentina pode ter uma greve parecida com a do Brasil. “O risco de uma paralisação se estender por um período de tempo maior e afetar as cadeias produtivas é real”, afirma.
Pablo Knopoff, do Instituto Isonomía, diz que nos últimos 15 anos o poder do Sindicato dos Caminhoneiros cresceu muito, pois parte do transporte de carga antes feito por navios e trens passou aos caminhões. “Num país de agroindústrias, os caminhões são parte vital da economia. Uma paralisação significaria não só problemas de abastecimento de alimentos, mas também de combustível.”
Mariano Lamothe, diretor da consultoria Abeceb, não crê que a Argentina será palco de uma greve de caminhoneiros como a brasileira. “Será uma paralisação de um ou dois dias, e não algo longo”, disse. Mas ele prevê que os próximos meses serão de agitação sindical e conflito social. “A economia vai mal, e não sabemos o que acontecerá pós-acordo com o FMI”, diz.
Além da redução da previsão de crescimento do PIB de 2,5% para 1,7% neste ano, a expectativa de inflação também mudou. Em janeiro, a previsão era que a inflação encerrasse o ano em 15%. No início da semana, o Banco Central publicou nova estimativa, agora de 27,1%.
Além da ameaça de paralisação feita pelo Sindicato dos Caminhoneiros, a CGT e Central de Trabalhadores da Argentina (CTA, outra central sindical) convocaram uma greve de 24h para a próxima semana, ainda sem uma data definida. O governo chamou a CGT para uma reunião hoje. “Atravessamos um dos piores momentos econômicos do país, e o acordo com o FMI vai deixar as coisas ainda piores. É uma situação muito débil”, conclui Pablo Micheli, secretário-geral da CTA.
Por Pietra Alcântara com informações do Valor Econômico