Praticamente todos os setores sofreram as consequências da pandemia de Covid-19, alguns mais, outros menos. O mercado de ônibus foi, com certeza, um dos que mais sofreu. Com a população parando de circular, seja a trabalho ou lazer, a cadeia do transporte coletivo viu suas vendas descerem a quase zero, mas a Mercedes-Benz aposta na melhora do setor de ônibus e acredita que a chegada dos veículos elétricos vai trazer mudança na lógica de comercialização desse produto.
Desafios e oportunidades
“A pandemia foi o maior desafio da história do ônibus, mas 2022 deve ser melhor”, é o que afirma Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.
Desafios
Walter aponta que o ano ainda traz desafios, como o aumento de custos. Só o diesel subiu 100% em relação a janeiro de 2021. O preço do aço aumentou 125% no mesmo período. Isso sem contar todos os outros aumentos, como pneus e peças no geral. Além disso, o mercado ainda enfrenta escassez de semicondutores. Aliás, segundo o executivo, não é apenas uma falta de semicondutores, é um descompasso geral e mundial na cadeia logística. Tanto é que, mesmo com diversos pedidos, o poder de entrega das empresas está aquém do necessário.
Outro fator que pesa no resultado é a taxa de juros, que era de 2% em janeiro do ano passado e agora já está em 13,25% ao ano. Isso encarece os financiamentos e acaba sendo um dificultador. Além disso, a disponibilidade de crédito no mercado ainda está baixa. E para completar, a pandemia ainda não acabou, então a demanda de passageiros ainda está menor que em 2019.
Oportunidades
Apesar desses fatores, Walter vê vários pontos de oportunidade para o setor. Um deles é a chegada do Euro 6 ano que vem. Com isso, muitos empresários acabam antecipando as compras para esse ano para ainda pegarem a tecnologia antiga.
Outro fator é que estamos em ano de eleição. Em anos assim, vê-se maior renovação das frotas públicas. Além dos programas do governo, a chegada das empresas de ônibus de baixo custo e o aumento do valor para viagens aéreas leva mais gente a viajar de ônibus, o que aumenta a demanda por veículos rodoviários.
Considerando-se todos os itens abordados acima, Walter acredita que o mercado de ônibus deve fechar o ano, no mínimo, com 17 mil unidades vendidas. Entretanto, se as questões logísticas forem resolvidas e as montadoras puderem produzir mais, aí o ano pode fechar com vendas de até 21 mil unidades, algo próximo ao alcançado em 2019, antes da pandemia.
O futuro é elétrico
A Mercedes-Benz também aposta na eletrificação como futuro para o mercado de ônibus. Entretanto, afirma que, com a chegada desses veículos, muda-se toda a lógica de vendas, compras e uso da frota. Isso porque a montadora entende que não poderá entregar mais apenas o produto, será necessário entregar também as condições de rodagem.
Por exemplo, a marca precisará estudar com o cliente que tamanho de frota ele necessitará, que estrutura de recarregamento será utilizada. Outro estudo é, esse veículo vai andar de dia e carregar de noite ou carregar pela tarde, quando a tarifa de energia é menor, é mais viável?
A Volkswagen Caminhões e Ônibus também já tinha citado essa mudança de ecossistema, mas a Mercedes-Benz aponta também a necessidade de mão de obra especializada para a manutenção desses veículos, que será muito diferente da existente hoje, que mexe como motores a combustão.
Por exemplo, existem muitos circuitos de alta tensão em veículos elétricos. Mexer nesses circuitos é muito mais delicado e pode ser mais perigoso para o mecânico. Aliás, muito se fala sobre o motorista precisar acompanhar a evolução da tecnologia. Aqui se vê que o mecânico também precisará fazer o mesmo.
Ônibus elétrico já é realidade?
A Mercedes-Benz vai atuar no mercado de ônibus elétrico no Brasil com modelo eO500U, que recebeu R$ 100 milhões de investimentos e chega ao Brasil na configuração Padron, 4×2, piso baixo e com autonomia de até 250km no modelo com 4 packs de bateria. Ele vem equipado com dois motores elétricos acoplados ao eixo traseiro, 350 cavalos e pode ser expandido para 6 packs, subindo a autonomia para 300km.
Para atender demandas específicas e fora desse padrão, a Mercedes-Benz vai atuar em parceria com a Eletra. A montadora, inclusive, já entregou diversos chassis para a parceira, que está fazendo a eletrificação. Em seguida, esses veículos vão para a encarroçadora, para depois chegarem ao mercado.
Até novembro deste ano, 10 unidades devem começar a rodar em Salvador. O BRT que liga o ABC paulista a São Paulo deve receber mais 94 unidades, mas ainda sem prazo definido. Ao todo, a Mercedes-Benz vê oportunidade para mais de 3 mil ônibus elétricos no País, distribuídos conforme os mapas abaixo.
Segundo os executivos da montadora, o custo de aquisição de um ônibus elétrico deve ser entre 3 e 3,5 vezes maior que o equivalente a diesel. Entretanto, o custo operacional é menor, o que deve equiparar os dois veículos ao longo dos anos de uso.
A Mercedes-Benz deve revelar mais informações sobre o produto na LatBus, que acontece de 9 a 11 de agosto em São Paulo.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.