sexta-feira, novembro 22, 2024

O que o feirante e o caminhoneiro têm em comum?

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Já parou para prestar atenção nas feiras livres? Quem monta as barracas, quem transporta e descarrega a mercadoria? Na maioria das vezes, o próprio feirante. E aí, alguma semelhança com os estradeiros? Essas são algumas. Hoje, 25 de agosto, é o dia do feirante, por isso, resolvemos perguntar a esses comerciantes o que eles têm em comum com os caminhoneiros.

Caminhoneiro feirante ou feirante caminhoneiro?

Vai um caldo de cana aí?

O que combina com pastel de feira? Um copo de garapa no capricho. A garapa, nada mais é que o popular caldo de cana, bebida produzida na barraca de José Deremar Araújo, 64 anos, e o filho Felipe Cavalcanti, 24. Os garapeiros trabalham em feiras da zona sul de São Paulo, o pai, há 30 anos, o filho, há 10. 

De terça a domingo, José conduz seu HR repleto de pedaços de cana de açúcar que busca previamente em depósitos da região onde mora. Na traseira do utilitário, a máquina de moer cana e a barraca acoplada, tudo junto e misturado completa o comércio sobre quatro rodas. A metragem da barraca é contada à partir do carro, explica Felipe, que nesse caso precisa respeitar o 5X5 metros.

Além do fato de transportar a planta que dá origem a bebida tão apreciada, o que aproxima José dos caminhoneiros é a sua história. Quem o vê na barraca dirigido carro leve não imagina que o garapeiro já teve um caminhão e “puxou” cana no interior, antes de firmar como garapeiro. Foi por pouco tempo, afirma, mas vivenciou a experiência do trecho. 

A parte dianteira do utilitário adaptado como barraca de caldo de cana
O que o feirante e o caminhoneiro têm em comum?
O garapeiro José atendendo na barraca de caldo de cana

Lá vem o carro da fruta

O que o feirante e o caminhoneiro têm em comum?
Oséias é um feirante que pretende se tornar caminhoneiro

Oséias Vieira de Melo, 41 anos, mora na zona sul de São Paulo. Trabalha de quarta a domingo como feirante autônomo para uma empresa. Pela manhã faz a feira e a tarde vai buscar as frutas da feira do dia seguinte no depósito do patrão com um toco Mercedes 1113. Oséias é feirante autônomo há 22 anos, para essa empresa, há 15. O comerciante fala com orgulho do ofício que dá estudo aos filhos e sustento à família. 

O feirante não se considera feirante caminhoneiro, mas um feirante que será caminhoneiro. Isso porque tirou a CNH D não apenas para transportar as 5 toneladas de frutas, mas por amor à direção. Seu verdadeiro desejo é comprar o próprio caminhão e tornar-se estradeiro, começando com um bauzinho em trechos para o interior de São Paulo, explica.

O sonho não está distante e só não se realizou ainda pelo cenário econômico do país. “Teve um aumento no preço do diesel e dos veículos, aí dei uma recuada, mas com fé em Deus, no ano que vem estou querendo comprar”.

Olha o caminhão do peixe

Não é errado afirmar que “Por trás de toda feira sempre tem um caminhão”, ainda mais quando falamos da barraca do peixe. Da próxima vez, repare! Tem caminhão frigorificado exatamente atrás do feirante, como é o caso do Mercedes 1313 de Marcos Roberto, 49 anos, de Santo André/ SP.

Ele trabalha há 36 anos no ramo de pescados. Toda semana, vai ao Ceagesp com seu trucado buscar peixes para vender nos dois dias de feira que faz em regiões da capital paulista. Os cerca de 5 mil quilos de peixe fica dentro de caixas de isopor com gelo triturado, que são armazenadas no próprio baú com capacidade para 13 mil quilos. A quantidade é descarregada conforme a necessidade do dia.

O que o feirante e o caminhoneiro têm em comum?
Marcos mantém os peixes armazenados em seu caminhão trucado

Marcos explica com satisfação o trabalho de peixeiro feirante, e por que não dizer feirante caminhoneiro. “Eu costumo dizer que nós somos um pouco feirante, um pouco caminhoneiro, porque a gente tá com caminhão na estrada também, a gente viaja, não viagens longas como um caminhoneiro, mas a gente tá com uma máquina na mão”.

Enquanto José é do grupo dos feirantes que foram caminhoneiro, Oséias dos feirantes que serão, Marcos é dos feirantes que queriam ser, mas desistiram. “É um trabalho gostoso viajando, conhecendo lugares diferentes do país, então eu pensei há tempos atrás. Hoje, eu não largaria minha família em casa para passar uma semana fora”, aponta como um dos motivos que o fizeram não seguir com o sonho.

O que o feirante e o caminhoneiro têm em comum?
A equipe da barraca de peixe de Marcos e o caminhão ao fundo

Da horta pra feira livre 

Romeu Pires da Costa, 45 anos, é produtor e feirante de legumes e hortaliças há 30 anos. Tudo o que planta em seu sítio em Ibiúna, no interior de São Paulo, vai para as feiras da capital paulista. De todos os entrevistados, ele é o único que nunca foi e nem pensa em ser caminhoneiro. Contudo, seus relatos têm total relação com a profissão. Por exemplo, três vezes por semana, Romeu sai de sua cidade para fazer feiras em São Paulo, são quase duas horas de viagem por rodovias. 

feirante e caminhoneiro
O feirante transporta hortaliças de Ibiúna

Romeu também pretende mudar a categoria da CNH para D e com isso poder carregar mais que uma tonelada, peso que transporta atualmente em seu utilitário HR. A ideia é comprar um caminhão 3×4 futuramente e com isso ampliar o volume de vendas. Ele explica que existem feirantes que contratam caminhoneiros para levar a carga e as barracas, mas ser seu próprio carreteiro compensa mais. “Se mandar outra pessoa transportar minha mercadoria, não sobra nada [lucro]”. 

feirante caminhoneiro
Romeu e o irmão

Qual a semelhança entre o feirante e o caminhoneiro?

Além da CNH profissional, do trabalho de transportar, carregar e descarregar mercadoria, existem outros aspectos comuns entre os caminhoneiros e feirantes entrevistados. Um exemplo é a jornada de trabalho extensa, aponta Oséias, que passa 18 horas fora de casa. O pouco tempo com a família também é uma semelhança, de acordo com Romeu. 

Outro ponto relatado por todos os feirantes que conversamos é a dificuldade no trecho rodoviário e urbano, que incluem trânsito pesado e a condição do pavimento que interfere até com o veículo parado. Felipe e o pai, José, explicam que precisam colocar um calço para montar a barraca de caldo de cana em decorrência dos buracos e desníveis.

Além disso, tanto o feirante quanto o caminhoneiro sofrem com a demora e falta de assistência nas rodovias, aponta o peixeiro Marcos. Por isso, ele acredita que todo feirante tem uma essência de caminhoneiro “A gente tem que entender um pouco de mecânica, trocar um pneu quando fura, o óleo, saber um pouco da máquina que a gente trabalha também, o caminhão”, esclarece.

Transição de caminhoneiro para feirante

E não é só a essência do caminhoneiro que muitos feirantes carregam, mas também a vivência. Oséias explica que grande parte desses comerciantes já foram estradeiros e que acabaram migrando para a área pelas dificuldades enfrentadas nas estradas. “Passa dois três meses sem ver a família e muita gente não aguenta”, exemplifica.

Marcos afirma que a feira é um bom negócio, mas a despesa com manutenção do veículo e combustível tem sido alta e está atrapalhando a manutenção do comércio. “A gente tá aos trancos e barrancos. Eu fui fazer uma troca de pneu há dois meses e gastei 12 mil reais com seis pneus. […] O diesel tá sufocando a gente, porque há dois anos era 20% a 25% da despesa do meu negócio, hoje, 40% da minha venda vai para o óleo diesel”. 

O caminhão frigorificado de Marcos fica logo atrás da barraca de peixe

Sem caminhoneiro e sem feirante, não tem feira  

O movimento nas feiras livres começa logo cedo por volta das 6h da manhã, talvez bem mais cedo, com feirantes montando as barracas, descarregando as mercadorias dos veículos e organizando os produtos fresquinhos para expor ao público que logo vai chegar por ali.

Nos bastidores, ou seja, nas ruas ao redor ou por detrás das barracas, uma fila de caminhões toco, trucado, utilitários e até carro frigorificado estacionados que quase ninguém percebe que estão por lá. Pois é, são eles que transportam tudo que chega às feiras. Do pastel ao caldo de cana, da salada de folhas à salada de frutas, tudo vem do transporte. E quem dirige, um caminhoneiro ou o feirante? Na maioria das vezes o feirante como é o caso dos nossos entrevistados. 

Os carros que levam as mercadorias ficam estacionados nas ruas ao redor da feira

Por isso, em uma coisa eles concordam, sem o caminhoneiro não existiria feira. Para Felipe, o caminhoneiro é peça importante para o funcionamento do país, e o feirante depende dele para ter produtos frescos para oferecer na feira.   

Oséias classifica o transporte como a base de tudo e ressalta o valor do caminhoneiro. “Categoria importante que abastece o Brasil, o mundo inteiro, se não fosse ele, a gente não tinha as frutas aqui em São Paulo. Mas se não houvesse feirantes, haveria feira? Eis aí a maior das semelhanças, o caminhoneiro transporta pelo país para que o feirante possa levar à sua mesa.

Oséias fala a importância dos caminhoneiros para os feirantes

Por Jacqueline Maria da Silva

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