Há muito tempo que a equipe do Pé na Estrada recebe reclamações de caminhoneiros relatando de fraudes de exames toxicológicos. Alguns afirmam que seus exames deram positivos sem nunca terem chegado perto de substâncias ilícitas, outros denunciam que é fácil comprar um laudo negativo. Os laboratórios sempre negaram essas possibilidades. Entretanto, no último domingo, 10 de novembro, o Fantástico veiculou uma reportagem mostrando como a polícia civil descobriu um esquema de fraudes nos exames toxicológicos para caminhoneiros.
O problema
O exame toxicológico obrigatório para motoristas profissionais, de caminhões e ônibus, surgiu exatamente para combater um problema crescente nas estradas brasileiras, o aumento do uso de substâncias como cocaína, rebite e outras para que o motorista aguentasse longas jornadas de trabalho.
A prática estava, e ainda está, tão difundida que, empresas pouco honestas, entregavam para seus motoristas a nota fiscal da carga juntamente com uma cartela de rebite. Há uns 2 meses recebemos uma reclamação de um caminhoneiro que mostra bem a situação. O motorista afirmou que, além de entregar a cartela de rebite, o chefe ainda queria descontar o valor da droga do salário dele. Ele perguntava se isso estava de acordo com a lei.
A fraude
O exame utiliza cabelos, pelos ou unhas dos motoristas. Esse material mostra se eles consumiram alguma substância proibida nos último três ou seis meses. Na teoria, e segundo diversos laboratórios ouvidos por nossa equipe ao longo dos últimos anos, não haveria forma de fraudar o exame, pois o envelope com o material é selado e só aberto em laboratório.
Mas a reportagem do Fantástico do último domingo mostrou que, não só é possível, como existe todo um esquema para fraudar esses exames. Até cabelos de crianças no lugar do material do motorista em questão as empresas utilizam.
A investigação começou com a prisão de um homem por furto de carga no Paraná. Ele entregou que fraudava o exame. A partir daí, a polícia civil começou a investigar e descobriu que o esquema envolvia dois pontos de coleta no Paraná, uma autoescola em São Paulo e outra em Santa Catarina.
A investigação comprovou mais de 40 fraudes. Os Detrans dos respectivos estados afirmaram à Rede Globo que as CNHs envolvidas no esquema serão canceladas. A polícia prendeu oito suspeitos.
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.