segunda-feira, novembro 25, 2024
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Policiais militares do Paraná cobravam propina para liberar cargas apreendidas

Policiais militares do Paraná cobravam propina para liberar cargas apreendidas

Uma investigação feita pelo Ministério Público Estadual e pela Corregedoria da Polícia Militar (PM) revelaram um esquema de cobrança de propina feita por policiais militares do Paraná para liberação de cargas e desvio de mercadorias apreendidas. A reportagem foi feita pelo programa Fantástico, da Rede Globo.

No total, 30 policiais rodoviários estaduais do Paraná foram presos em duas operações entre junho e julho por suspeita de ajudar contrabandistas vindos do Paraguai. A maioria dos guardas trabalhava na base da polícia do município de Cruzeiro do Oeste.

De acordo com a apuração dos órgãos, o valor da propina pedida pelos policiais rodoviários do Paraná para liberar as cargas contrabandeadas chegava a R$ 200 mil. Os contrabandistas que pagassem o valor, estavam liberados.

No estado, há outros exemplos recentes de corrupção entre policiais rodoviários. Em 2018, guardas foram flagrados recebendo propina na PR-182. Para ver a matéria, clique aqui.

Policiais do Paraná cobravam propina para liberar cargas apreendidas. A maioria trabalhava no município de Cruzeiro do Oeste
Rodovia João Jorge Saad, Cruzeiro do Oeste, PR – Fonte: Google Maps

Como funcionava o esquema?

O Ministério Público do Paraná e a Corregedoria da PM, através de escutas telefônicas e ambientais, apontaram que o capitão Rodrigo dos Santos Pereira, comandante da 4ª companhia da Polícia Rodoviária do Paraná, recebia pagamentos mensais para encobrir o esquema de corrupção de seus comandados.

Para não levantar suspeitas, os policiais preenchiam boletins de ocorrência de forma incompleta, não informando os detalhes dos produtos apreendidos. Confira a descrição do áudio obtido pelos órgãos na investigação:

Cabo: “Não pode pôr o lugar onde foi apreendido, nome, placa, nada. O negócio que o capitão mandou no grupo, vê no grupo do Cruzeiro. Só o tipo de mercadoria”.

Como no boletim não havia a quantidade de produtos apreendidos, os policiais apresentavam apenas uma pequena parte à Receita Federal.

“Geralmente, eles se apropriavam, em tese, dos objetos mais valiosos e entregavam o resto para a Receita Federal”, comenta Diogo de Araújo Lima, promotor do Gepatria (Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa), ao Fantástico.

Ainda para não levantar suspeitas, os envolvidos no esquema escondiam as mercadorias desviadas dentro dos próprios carros, que ficavam estacionados no fundo da base da Polícia Rodoviária Estadual em Cruzeiro do Oeste.

Propina de cargas e comercialização dos produtos apreendidos praticada pelos policiais

Segundo a investigação, o grupo de policiais mantinha um esquema de propina que variava de acordo com o tamanho do veículo e do que era transportado. Quem pagava, era liberado. Em uma das negociações gravadas entre policiais e contrabandista, o valor da propina chegou a R$ 200 mil para que uma carga de cigarros fosse liberada.

Sargento: É, véi, é duzentos mil pra tirar.

Contrabandista: Rapaz, pra falar a verdade pra você, eu estou com vinte conto, ali.

Sargento: Não, cento e cinquenta conto. Você pode trazer aqui e já leva o caminhão. Se não, eu vou encaminhar e não quero nem conversa com ninguém.

E já vai me deixar setenta e cinco agora e os outros setenta e cinco você vai trazer na segunda-feira. Pode ficar ruim pra você. Se não trazer, meu irmão, você pode comprar um aviãozinho pra passar.

Além disso, dois policiais chegaram a abrir uma loja de celulares nas redes sociais, chamada Techmix Celulares, para comercializar os produtos eletrônicos apreendidos. Os preços repassados aos comerciantes estavam abaixo do preço de mercado.

De acordo com os investigadores, o principal comprador era o vereador do município de Campo Mourão, Sidinei Ronaldo Ribeiro, conhecido como Tucano. Ele foi preso na operação, mas conseguiu um Habeas Corpus (instrumento processual que dá liberdade a alguém) e está livre até o momento. No entanto, a sua loja foi fechada.

De acordo com o balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre 2003 e 2020, o Paraná é o estado com o maior número de apreensões de cigarros, com 48 mil maços. O estado também é o segundo em apreensões de maconha e o terceiro em veículos recuperados.

Top 3 apreensões de cigarros por estado por policiais rodoviários federais
Os 3 estados com o maior número de apreensões de cigarros entre 2003 e 2020 – Fonte: PRF

Clique aqui para ver os números completos do balanço da PRF sobre o combate à criminalidade.

Julgamento

A investigação ainda suspeita de que os policiais envolvidos no esquema tenham faturado até R$ 10 milhões de reais em propinas e com a venda das mercadorias apreendidas. Se forem condenados, podem pegar até 30 anos de prisão. Todos os envolvidos, com exceção do vereador Ribeiro, estão presos.

 

Por Wellington Nascimento com informações do Fantástico

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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