O mês de outubro fechou com 11.047 unidades de caminhões vendidas no Brasil. Os dados foram apresentados no dia de hoje pela Anfavea. O mês fechou com queda de 5% em relação a setembro, entretanto, com crescimento de quase 40% em relação a outubro de 2020. Na soma dos meses do ano, 2021 já mostra crescimento de 50,4%, com 106.320 unidades vendidas agora contra 70.697 no ano passado. Todavia, esse ritmo acelerado de vendas em caminhões não se repete para outros segmentos do mercado automotivo.
Ritmo de vendas de caminhões acelerado
Desde o começo do ano, o mercado de caminhões tem apresentado esse ritmo acelerado de vendas. As filas das montadoras para veículos zero km vão até o ano que vem. Neste mês de outubro, contudo, as vendas foram levemente abaixo das realizadas em setembro. Porém, o mês teve um dia útil a menos. A média diária de vendas de caminhões ficou em 553 em setembro e 552 em outubro, ou seja, a queda de 5% não preocupa a indústria.
Mês passado foi o melhor outubro para caminhões desde 2014. A soma do ano também é a melhor desde 2014, com crescimento em todos os segmentos. Contudo, a Anfavea destaca dois setores que ganharam força durante a pandemia e que devem seguir em tendência maior de alta, os comerciais e caminhões leves e os pesados.
Os comerciais e caminhões leves cresceram com o aumento das compras pela internet e, consequentemente, aumento da necessidade de entregas porta a porta. Já segmento de pesados cresceu com o bom momento do agronegócio. Essa faixa já responde por mais de 50% do mercado de caminhões acima de 3,5 toneladas.
Ameaças ao setor
Apesar do bom momento, dois fatores podem impactar negativamente a produção e, por consequência, a venda de caminhões: a falta de semicondutores e a paralisação no Porto de Santos.
A falta de semicondutores já é um problema conhecido há meses. Embora ainda não tenha afetado o setor, essa falta preocupa as montadoras. Como o mercado de caminhões tem uma demanda muito menor que o de carros, as marcas têm conseguido negociar com fornecedores e manter a produção. No entanto, como a distribuição desses componentes ainda deve demorar para se normalizar, o sinal de alerta fica aceso.
Outra questão é a manifestação no Porto de Santos. Há uma semana caminhoneiros autônomos estão parados no porto pedindo por melhores fretes. A mobilização já dificulta o descarregamento de navios e, dessa forma, o transporte dessas peças para as montadoras. Os efeitos aparecem não apenas no mercado de caminhões, mas também em ônibus, carros e máquinas agrícolas.
Mercado de ônibus sofre em outubro
Geralmente mais afetado, o segmento de ônibus sofreu um baque maior em outubro. A queda em relação a outubro passado foi de 37%, com 905 unidades vendidas agora x 1.436 em 2020. Esse foi o pior outubro para o segmento desde 2017. Contudo, no acumulado do ano, o saldo de vendas é positivo em 3,8%. São 11.812 unidades vendidas em 2021 x 11.265 em 2020.
A expectativa é de que as atividades pré-pandemia sejam retomadas aos poucos. Isso deve trazer também uma recuperação gradual para o setor. No caso do transporte de passageiros, essa recuperação deve vir acompanhada de pressão por soluções menos poluentes.
Veículos sustentáveis
O mundo está cada vez mais preocupado com as metas de melhoria da qualidade do ar e sustentabilidade nos negócios. Nesse cenário, têm crescido as vendas de veículos elétricos e a gás no segmento de pesados. Em 2019, foram 76 veículos desse tipo comercializados no Brasil. Em 2020, esse número cresceu para 86 unidades. Agora, em 2021, o número saltou para 224 unidades, sendo 67 de veículos a gás e 157 de elétricos. Isso representa 0,2% do mercado de ônibus e caminhões.
Já para automóveis e comerciais leves os números são muito maiores, saltando de 1 para 1,7% do total em 2021. Já são 26.940 veículos elétricos ou híbridos.
A falta de semicondutores
A falta de semicondutores continua afetando o mercado como um todo, não apenas no Brasil. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a indústria global de veículos deixou de produzir entre 10 e 12 milhões de unidades este ano pela falta da peça. E, enquanto antes se pensava que o problema estaria resolvido no segundo semestre do ano que vem, agora espera-se que a normalização só ocorra em 2023. Com isso, a indústria global ainda deve deixar de produzir 5 milhões de veículos em 2022.
Ainda segundo Luiz Carlos, o ideal seria que o Brasil investisse em uma indústria nacional de semicondutores, já que eles não são usados apenas no setor automotivo e sim em diversas outras indústrias, como celulares e outros eletrônicos.
“Temos um Plano Safra. Agora precisamos ter um Plano Indústria”, afirma o presidente da Anfavea.
Contudo, Luiz Carlos esclarece que montar esse tipo de indústria não é algo para o curto prazo. Seriam necessários de 2 a 3 anos e mais de 1 bilhão de euros ou dólares de investimento. Logo, é algo que precisa ser estudado e incentivado pelo governo. Ele acredita ainda que isso, além de outras medidas do governo para diminuir o chamado “custo Brasil”, poderiam trazer maior competitividade para nossa indústria, gerar mais empregos e aumentar as exportações.
Exportações
As exportações cresceram em outubro em relação a setembro. Contudo, quando falamos em unidades exportadas, o mercado retraiu em 14,6% em relação a outubro de 2020. No acumulado do ano o saldo é positivo em 26,8%. Com o aumento do dólar, mesmo com queda numérica, o faturamento foi maior. A receita com as vendas externas cresceu 5,2% em relação a setembro, 24,2% em relação a outubro de 2020 e quase 46% no acumulado do ano.
Embora o real desvalorizado faça crescer a receita vinda da exportação, a cotação alta do dólar impacta diretamente no preço de diversas matérias-primas usadas na montagem dos veículos, como o próprio semicondutor. Ainda segundo o presidente da Anfavea, essa receita vinda da exportação não é suficiente para equilibrar a conta.
Buscar esse balanço seria mais uma vantagem de termos um “Plano Indústria”, de acordo com Luiz Carlos. Com aumento da competitividade, teríamos um aumento de exportações, que, por sua vez, seria uma proteção em épocas de desvalorização de nossa moeda.
Perspectivas futuras
A Anfavea ainda espera crescimento da indústria de automotores para 2021, porém, em níveis muito mais baixos do que foi projetado no início do ano.
Além disso, a associação se mostra preocupada com 2022. Segundo as perspectivas do mercado, o PIB deve ficar estável ou até negativo, juros devem ser mais altos, taxa Selic deve subir e o desemprego deve aumentar.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.