O aumento da violência e dos roubos de cargas no Rio de Janeiro acaba elevando os custos das transportadoras com sistemas de rastreamento, seguros e escolta. Algumas chegam a cobrar uma “taxa de emergência”, a Taxa de Emergência Excepcional (Emex), fixada em R$ 10 por fração de 100 kg, mais um percentual do valor da carga (entre 0,3% e 1%) – como já falamos por aqui.
Transportadoras cobram taxa de emergência, de R$ 10 a cada 100 kg, mais percentual do valor da carga: negócio de risco Mas, mesmo elevando os fretes, há casos de empresas que optaram por não ter mais filiais no Estado. Outras fecharam as portas de vez. Segundo o Sindicato das Empresas de Carga e Logística do Rio (Sindicarga), cerca de 40 empresas de médio e pequeno portes que atuavam no Rio de Janeiro faliram em 2017. Isso significa que o setor encolheu 13%, ante o universo anterior de 320 transportadoras.
Prejuízo do aumento nos roubos de carga
Os roubos de cargas no Rio de Janeiro bateu recorde no ano passado, com aumento de 7,3% no estado. Passou de 9.874 ocorrências em 2016 para 10.599 em 2017, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Foram quase 30 roubos por dia. Mais de um por hora.
“O roubo de cargas triplicou nos últimos três anos no Rio de Janeiro. O Estado ultrapassou São Paulo e se tornou o campeão em roubos de cargas no país”, disse o presidente da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga), Eduardo Rebuzzi, da entidade que reúne cinco sindicatos de transporte de cargas.
Segundo estimativas da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o roubo de cargas no Rio em 2017 provocou um prejuízo de R$ 607,1 milhões.
Rebuzzi disse que o aumento dos roubos de carga no Rio de Janeiro coincide com a política de ocupação de áreas na capital por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). “O tráfego de drogas foi afetado e buscou outras formas de financiar as atividades ilegais. Daí voltou-se para o roubo da carga, que não gera um clamor público. Eles buscam mercadoria que tenha giro, que tenha liquidez. Isso vai de eletroeletrônico a alimentos, como frango. Tivemos associados que tiveram cinco caminhões de frango roubados em uma semana”, contou.
Consequências
O aumento dos roubos de cargas provocou aumento de custos para as empresas, disse o presidente da Fetranscarga, citando despesas com rastreamento, seguros e escolta. “Algumas empresas passaram a cobrar uma taxa por emergências excepcionais”, disse Rebuzzi, referindo-se à Taxa de Emergência Excepcional (Emex), fixada em R$ 10 por fração de 100 quilos, mais um percentual do valor da carga (entre 0,3% e 1%). Essa taxa é cobrada sobre o valor do frete.
A Fetranscarga afirma que algumas empresas fecharam filiais no Rio e outras tentam evitar o Estado nas rotas que precisam fazer para o transporte de cargas. “Se o custo operacional sobe, a capacidade de investimento cai. O roubo de cargas tira investimentos e empregos do Rio e empurra mais gente para a marginalidade”, disse Rebuzzi.
Esse quadro levou seguradoras a reajustarem demasiadamente os preços ou mesmo a cortarem oferta de apólices para as transportadoras, disse Venâncio Moura, diretor de Segurança do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga). Segundo ele, cerca de um terço das empresas já não têm seguro, ou porque o custo ficou muito alto ou porque simplesmente a seguradora não quer mais renovar a apólice.
As empresas de segurança, contratadas pela transportadoras para responder ao aumento da violência, também reportam maiores gastos para enfrentar o problema. “Nosso grau de dificuldade medido em [número de] casos de ataques a carros-forte e escoltas aumentou cerca de 30% nos últimos dois anos”, diz Autair Iuga, vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist) e presidente do Sindicato das Empresas de Escolta do Estado de São Paulo.
[Segundo ele, muitas empresas de segurança preferem simplesmente não atuar em alguns segmentos, como o de transporte de cigarros, por exemplo. “Ninguém quer pegar esse tipo de serviço”, disse Iuga, também presidente do Grupo Macor, com atuações nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “O Rio está um caos. Com a intervenção, esperamos alguma melhora”, disse o vicepresidente da Fenavist.
Diante desse cenário, os setores de transporte de cargas e de segurança privada que atuam no Rio de Janeiro defendem a intervenção federal na área de segurança pública no Estado. O presidente da Fetranscarga disse que o setor apoia a intervenção federal, mas alerta para o risco que a operação envolve. “Chegou em um nível em que não vemos outro caminho. O problema é que trata-se de uma resposta final. Se não tiver sucesso, o futuro será muito complicado”, afirmou Rebuzzi.
Adaptado de Valor Econômico