“Barra de chocolate é um real. Barra de chocolate é um real.”
“Na minha mão é mais barato. Na minha mão é mais barato.”
Cena frequente nos trens das grandes cidades, principalmente no Rio de Janeiro, os produtos vendidos nos vagões percorrem um caminho violento, porém rápido, para chegarem até ali. Se voltarmos o filme, vamos ver que tudo começou com um caminhoneiro com uma arma apontada para a cabeça e, a partir dali, a logística do roubo de cargas mostra toda sua eficiência.
O roubo de cargas no Brasil
O fenômeno não é novo. Desde a década de 1990 que os motoristas começaram a realmente se preocupar com sua segurança na estrada em relação ao roubo de caminhões e cargas. Mas a situação piorou muito nos últimos anos, quando o tráfico de drogas viu no roubo de cargas uma atividade lucrativa e menos arriscada.
O problema cresceu tanto que é notícia constante na mídia. Aqui mesmo no Pé na Estrada já mostramos como o Brasil é mais perigoso para cargas que países em guerra, como a Ucrânia por exemplo. Todo dia chegam relatos de caminhoneiros que foram vítimas, ficaram sob mira de armas e depois ainda ficaram bloqueados pela gerenciadora por conta do ocorrido.
Só em 2016, segundo a Firjan, foram mais de 22 mil ocorrências, um aumento de 22% em relação a 2015. Os roubos geraram um prejuízo de R$ 1,4 bilhão no ano. Sem falar no prejuízo humano dos que passam pelo trauma de estarem ao volante no momento da ação. Mas o que chama atenção agora é a eficiência.
A logística do roubo de cargas
Todo caminhoneiro conhece a realidade de carga e descarga no Brasil. Você chega com o horário agendado e mesmo assim passa horas, dias e às vezes até semanas aguardando a sua vez de carregar ou descarregar. Muitas vezes ainda precisa pagar um taxa de descarregamento, seja lá o que for isso.
No mundo do crime essa demora não existe. É claro que eles também não precisam respeitar lei nenhuma de segurança ou condições de trabalho e armazenamento, mas segundo série especial de reportagens do EXTRA (que nós recomendamos a leitura), a logística do roubo é bastante eficiente, pelo menos no Rio de Janeiro.
Os funcionários dos próprios fabricantes “dão a letra”, ou seja, dão as informações sobre as cargas. Em seguida, um “gerente do roubo de cargas” decide, autoriza e organiza a ação. Depois que o caminhão é roubado, ele vai para um local pré-determinado em uma favela, onde moradores do entorno, que recebem até R$ 50 para ajudar no descarregamento, já estão aguardando. Após o rápido descarregamento a carga vai para grandes, médios e pequenos receptores. Pouco tempo depois as mercadorias já estão sendo vendidas nos trens da capital carioca. Ás vezes o tempo entre o roubo e o comércio no vagão não chega a duas horas.
Acesse a matéria do Extra para entender com detalhes o funcionamento do esquema.
– Rio sem carga: carga roubada é vendida no trem até duas horas após o crime
– Facções já têm gerentes de roubo de carga e faturamento superior ao tráfico de drogas
Quem compra também é responsável
Transita na Câmara uma proposta para cassar o registro (CNPJ) de comércios em todo o Brasil que forem pegos vendendo mercadorias fruto de roubo. A medida já está valendo no estado de São Paulo.
Mas além do comércio, existe a pessoa que compra esse produto para uso próprio, como quem compra no trem. Algo que já falamos antes e que a população precisa entender é que só existe quem rouba porque existe quem compra. Não adianta falar que não sabia ou que a origem não é problema seu. Quando um produto é vendido muito abaixo do preço de mercado, fica claro que algo está errado, pois a conta não fecha. Quem compra produto roubado também está colocando a arma na cabeça do caminhoneiro.
Por Paula Toco
Jornalista especializada em transporte comercial há mais de 15 anos.
Repórter do programa Pé na Estrada na TV (hoje no SBT) e coapresentadora do programa no Rádio (hoje na Massa FM). Mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (Instagram + Tik Tok) onde fala de segurança e legislação de trânsito. Autora do livro “E se eles sumirem?” e palestrante de segurança no trânsito.
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[…] Muitas vezes, cargas são saqueadas para serem revendidas. Neste caso, além da receptação, comprar um produto sabendo que ele é resultado de um saque também é crime. Segundo o artigo 180 do Código Penal, “adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime” é crime, com pena um a quatro anos de reclusão e multa. Saiba mais na matéria Logística do roubo de cargas é mais eficiente que de muitas empresas. […]
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