6 animais silvestres morrem atropelados por dia na BR 262

Uma pesquisa publicada pelo Instituto Homem Pantaneiro aponta que seis animais silvestres morrem atropelados diariamente na BR 262, estrada que cruza o Pantanal de Mato Grosso do Sul. A estimativa dos pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) é que, entre reportados e não reportados, o número possa chegar a 3 mil mortes por ano.

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As espécies mais atingidas são répteis, mamíferos, aves e anfíbios, que acabam se adaptando à existência da estrada, e incorporando o trecho em sua área, de acordo com seus hábitos em diferentes épocas do ano. Há 18 anos pesquisas são realizadas na região pantaneira para diminuir os acidentes na rodovia, mas os resultados são alarmantes: os números são praticamente os mesmos.

O mais recente estudo foi publicado em 2017 pelo pesquisador Arnaud Desbiez, do Instituto de Pesquisa de Animais Silvestres (ICAS). A conclusão, após anos e anos de monitoramento e pesquisa, é que a evolução na redução desses acidentes foi mínima.

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Tamanduá fêmea atropelada junto com o filhote na BR 262 | Imagem: Julio César de Souza

Arnaud coordena o projeto Bandeiras e Rodovias, que desde 2017 monitorou 50 mil quilômetros de rodovias em MS. Nesse período, foram encontrados mais de seis mil animais atropelados na rodovia, segundo o pesquisador.

 

Atropelamentos ameaçam espécies

Uma pesquisa do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) aponta que o atropelamento é um dos fatores que mais fortemente ameaça a fauna brasileira: “São 475 milhões de animais mortos nas estradas do Brasil todos os anos, uma taxa maior que a do próprio desmatamento”, afirma o coronel Ângelo Rabelo, que trabalha no Pantanal há mais de 30 anos.

 

Espécies mais atingidas

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Jaguatirica atrpelada na BR 262 | Imagem: Julio César de Souza

O pesquisador Julio César de Souza, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, explica que os hábitos dos animais tem relação direta com sua presença na rodovia, e a taxa de mortalidade de cada espécie:

  • Na época da cheia muitas capivaras, usam a estrada como refúgio seco, porque o Pantanal alaga;
  • No período de seca, os peixes aparecem em pequenas áreas alagadas, e os jacarés vêm atraídos pela abundância de alimento, são animais lentos em terra firme;
  • No alto a mesma coisa, tuiuiús e outras aves fazem seus ninhos perto da estrada, e gaviões e urubus vivem no entorno por conta das carcaças;
  • À noite, os insetos são atraídos pelos faróis dos carros e quando mortos, soltam um cheiro que atrai o tamanduá, que também é lento e tem a visão ruim;
  • Da mesma forma sapos, cobras e pequenos mamíferos cruzam a rodovia e, por serem pequenos e difíceis de visualizar, são vítimas certeiras dos veículos;
  • Também onças, jaguatirica se outros felinos que até são velozes, mas não tem chance alguma diante de um carro em alta velocidade.

Assista: Animais silvestres atravessando a pista

 

O que poderia ser feito?

Algumas propostas para diminuir o número de atropelamentos já estão em estudo pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT/MS). Entre elas, há a tela de contenção, medida que foi objeto de estudo de Julio César nos EUA.

 

  • Aumentar número de radares

O Instituto Homem Pantaneiro diz que a instalação dos radares, a única solução aplicada até o momento, diminuiu a incidência de atropelamentos nas regiões consideradas dos trechos mais críticos, mas “transferiu” o problema.

“Diminuiu 100% a mortalidade onde tem radar e aumentou 100% na área de vazio, onde não tem controle”, afirma Rabelo.

No mês de outubro, o Ibama aplicou uma multa de R$ 8 milhões ao DNIT por não instalar redutores de velocidade na região. O DNIT/MS afirmou por meio de nota que “pretende ampliar o número de controladores de velocidade no trecho em questão, porém, aguarda disponibilização de recursos financeiros”.

 

  • Instalação de telas de contenção

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Telas de contenção instaladas em autoestrada na Flórida são exemplo de solução para rodovias com trânsito de animais silvestres no Brasil | Imagem: Julio César de Souza

O estudo realizado por Julio César, em parceria com o pesquisador Scott H. Markwith, aponta uma alternativa que funcionou na região: a instalação de telas de contenção ao longo dos locais que concentram maior número de indivíduos.

Segundo Rabelo, do IHP, a proposta das telas de contenção e adaptação das pontes foi entregue recentemente ao órgão responsável pela estrada: “Nós fizemos uma proposta para o DNIT. A instalação da tela, infelizmente, entra em um cenário de inviabilidade econômica”, conta.

Sobre a viabilidade desse projeto, o DNIT/MS informou por meio de nota que a instalação das cercas estão, de fato, em estudo:

“Encontra-se em fase de elaboração de edital, processo para cumprimento de condicionantes ambientais do IBAMA, que prevê a instalação de cercas de proteção em pontos pré-definidos pelo IBAMA. Tal contratação está prevista na LOA/2019.”

Com base nos resultados que apurou na Califórnia, Julio César garante que as telas reduzem de 70% a 90% as mortes de animais em rodovias.

Segundo Rabelo, o manejo da vegetação é uma alternativa que já vem sendo testada com o apoio de produtores rurais da região. O Pantanal é uma área em que a criação de gado é tradicional, e a travessia dos animais é feita, também, pela rodovia.

 

  • Aparelhos que emitem sinais sonoros para alertar animais

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Tamanduá, uma vítima constante de atropelamentos no pantanal | Imagem: Projeto Bandeiras e Rodovias/Divulgação

Uma proposta que o IHP estuda é a instalação de aparelhos que funcionam como uma buzina, distante o suficiente para possibilitar a fuga, mesmo dos animais mais lentos:

“É uma espécie de radar que detecta quando um veículo vem a mais de 50km por hora, a uma certa distância, e emite um sinal sonoro que alerta os animais para espantá-los da rodovia”, explica Rabelo.

Sobre a possibilidade de instalação desses aparelhos, o DNIT/MS comunicou em nota que o órgão não tem conhecimento da proposta de instalação de aparelhos com emissão de sinal sonoro”.

 

  • Monitoramento da rodovia

Um documento do IHP entregue ao DNIT/MS propõe o monitoramento da BR-262 durante dois anos para observar os hábitos dos animais em diferentes épocas, no trecho mais crítico, entre o Km 616 e o Km 683. O monitoramento será uma ferramenta essencial já que a 262 cruza não só o bioma Pantanal, mas também o Cerrado.

“Existem variações espaciais e temporais nos atropelamentos, devido às estações e variações de temperatura. É preciso utilizar a tecnologia para entender esses hábitos, e investir. Acabar com a falta de interesse do poder público, falta de compromisso dos gestores da estrada. A preservação começa aí”, ressalta Arnaud.

No início de 2019, o Projeto Bandeiras e Rodovias vai realizar uma perícia na região para definir medidas de mitigação recomendadas. “Uma ação efetiva para diminuir o número de acidentes salvaria muitas vidas, de animais silvestres e motoristas”, destaca.

 

E você parceiro, o que acha que poderia ser feito para diminuir a morte de animais silvestres na BR 262?

 

Adaptado de Portal G1

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