O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, rebateu nessa quinta-feira, 04, a fala do presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Carlos von Doellinger, que defendia a desindustrialização no Brasil, e mostrou a importância do setor automotivo no cenário nacional.
Na entrevista dada ao Valor Econômico em janeiro, Doellinger sugeriu que o país priorize setores como agronegócio, mineração e energia por apresentarem vantagens competitivas em relação à outras potências mundiais.
O fechamento de algumas fábricas do setor automotivo nos últimos meses levantou discussões sobre a viabilidade de incentivar esse segmento no Brasil, na suposição de que a indústria automotiva seria uma das mais protegidas do país e que não gerava os devidos retornos à sociedade.
Estudos da Anfavea, com base em dados oficiais da Receita Federal do Brasil (RFB), revelam o contrário. O setor alega sofrer com alta carga tributária, de 44% sobre o preço do automóvel, o dobro praticado na maioria dos países da Europa, Japão e EUA.
Além disso, segundo os últimos dados divulgados pela RFB, o setor automotivo não representou mais do que 2% de toda a desoneração fiscal realizada pelo governo federal. Entende-se por desoneração a redução de impostos por conta de políticas setoriais ou regionais de estímulo à industrialização ou a investimentos em produto e desenvolvimento, conhecido como P&D.
Mesmo diante desse cenário, o setor automotivo se destaca entre os demais setores, como podemos ver no gráfico abaixo:
O gráfico mostra que entre 2011 e 2017, o segmento automotivo, que faz parte da Indústria da Transformação, apresentou relação de retorno acima da média, com R$11,1 arrecadados para cada 1 desonerado pelo governo.
“O setor automotivo é o que mais arrecada, o que mais gera empregos e o que mais puxa o PIB (Produto Interno Bruto) do país”, disse Moraes, durante coletiva de imprensa.
Um dos exemplos de retorno da indústria de veículos automotores à sociedade vem do investimento feito no programa Inovar-Auto (2013 – 2017), que melhorou a economia em até R$7 bilhões por ano de combustível nos veículos nacionais. Também podemos destacar a redução das emissões de CO2 em 2 milhões de toneladas por ano, equivalente ao plantio de 14 milhões de árvores.
Em 2015, o Brasil entrou no top 10 mundial de países que mais investem em P&D no setor automotivo. Sem contar que o aumento do padrão tecnológico proporcionou um aumento de competitividade internacional, acesso a novos mercados e contribuiu para elevar as exportações de 443 mil (2012) para 766 mil unidades (2017).
Segundo o último anuário de 2020 da Anfavea, os autoveículos, composto por automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, faturaram, aproximadamente, 54 bilhões de dólares em 2018. No mesmo ano, foram exportados mais de 47 mil caminhões e ônibus.
Para melhorar a indústria automotiva, Moraes defendeu a redução do custo Brasil que, segundo ele, inclui sistema tributário com alta tarifação para o setor, leis ultrapassadas e excesso de burocracia. A Anfavea já apresentou diversas propostas ao governo para resolver essas questões.
Países desenvolvidos como Japão e EUA, além de terem bons níveis de educação, renda e uma boa expectativa de vida, possuem um alto grau de industrialização. A ideia de deixar a indústria nacional em segundo plano é duramente criticada por Moraes:
“É um crime se cogitar a desindustrialização do nosso país, nos relegando à condição de colônia fornecedora de matérias primas e de produtos primários. Isso é prova de profundo desconhecimento. Precisamos crescer rápido, gerar riquezas e empregos. Sorte do país que detém um setor automotivo robusto como o Brasil”, finaliza o presidente da entidade.
Por Wellington Nascimento