Nos últimos tempos, um movimento por parte das fabricantes de veículos tem chamado a atenção, o aluguel de veículos pesados. Representantes de empresas que atuam primordialmente na locação de caminhões falaram sobre o crescente interesse e entrada das montadoras nesse mercado, também chamado de rental.
Montadoras entram no mercado de locação de caminhões
Em agosto deste ano, a Volkswagen anunciou o Truck Rental, programa de locação de caminhões novos. A empresa foi a primeira montadora a disponibilizar esse serviço, atraindo os clientes por meio de planos, manutenção, seguro e previsibilidade de preços. Em setembro foi a vez da Volvo Locadora, da fabricante com mesmo nome. Com isso, a montadora passou a oferecer aluguel de caminhões, ônibus e equipamentos de construção, trazendo também pacotes de vantagens.
Já a Scania aproveitou a Fenatran 2022, maior feira de transportes do Brasil, para divulgar sua iniciação nesse mercado por meio da criação da Scania Locação. As primeiras entregas de veículos das novas linhas EURO 6/ PROCONVE 8, dos off-roads e dos caminhões movidos à GNV (gás natural veicular) estão previstas para fevereiro de 2023.
O que tem levado a esse crescente interesse por esse nicho de mercado?
Fatores econômicos para aquisição de caminhões geram demanda por locação
De acordo com Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, a pandemia por Covid-19 influenciou no mercado. “Com a pandemia, muitas empresas encontraram dificuldades para crédito, optando pela locação”. Com isso, o serviço da empresa veio como medida para reduzir os custos operacionais dos transportadores.
De acordo com Silvio Munhoz, diretor-geral das Operações Comerciais da Scania no Brasil, a decisão da fabricante se deu em virtude da percepção da aceitação desse tipo de serviço no Brasil. A empresa então buscou referências no mercado europeu que já vive essa realidade da locação há mais de 30 anos e onde a Scania já tem 6 mil veículos alugados.
Mas a locação de veículos pesados não é um nicho novo no Brasil. Algumas empresas já têm atuação de longa data, como o Grupo Vamos, que está há 20 anos na área. O crescente interesse por montadoras, segundo o Diretor Executivo e Comercial, José Geraldo Franco Junior, já era esperado. Tendo em vista que o Brasil possui um mercado de locação muito aderente por questões econômicas que impactam na aquisição de caminhões e tornam o aluguel um serviço mais atrativo.
As taxas de juros para a aquisição de veículos e o preço dos caminhões são algumas delas. Esse último porque está atrelado à variabilidade da taxa de câmbio (relação de valores entre moedas de diferentes países). Ainda, segundo José Geraldo, países com maior estabilidade e disponibilidade de crédito, que ainda não é o caso no Brasil, têm uma boa parcela dos ativo alugado. “EUA têm mais de 25%, Europa cerca de 30% de mercado de ativos são locados. Então acho que Brasil está fadado a ter crescimento nesse mercado”, acrescenta.
Mercado em crescimento
Essa combinação de fatores econômicos fez com que lá atrás o Grupo Vamos enxergasse o ambiente mercadológico brasileiro como favorável para desenvolvimento do negócio. “A locação passa a ser mais uma forma de ter um ativo sem colocar capital empregado na compra desse ativo”.
Umberto Netto, da Divisão de Pesados do Unidas, explica que o Brasil vive um desafio logístico de escoamento da produção por ser um país com dimensões transcontinentais. Para ele, as montadoras têm buscado esse nicho porque o mercado rental ainda não consegue atender aos 70% do que existe de demanda por locação hoje, no que tange volume, qualidade e representatividade.
Por ser um serviço que agrega valor, gera economia e sustentabilidade, também traz atratividade para contratante e contratado. Ele prospecta um crescimento agressivo no mercado de alugueis de um modo geral entre 30 e 45% para próximos seis anos. Isso porque as empresas podem fazer esse comparativo das vantagens de alocar um equipamento e direcionar o capital que iria para uma aquisição em outros investimentos.
Especificamente sobre caminhões, José Geraldo, do Grupo Vamos, aponta que o aluguel corresponde a cerca de 1.5% do mercado de locações no Brasil. Ainda é pouco, afirma, mas com potencial de crescimento. A empresa possui hoje 40 mil ativos alugados (maquinário agrícola, caminhões, ônibus, equipamentos área industrial, entre outros). Até 2025 pretende chegar à marca de 100 mil ativos, sendo 70% desse portfólio somente de caminhões.
Competitividade
De acordo com Umberto, da Unidas, o crescimento desse mercado é necessário, mas a competitividade é acentuada, inclusive com relação a locação versus aquisição de caminhão. ‘Tem vindo bancos com taxas específicas, as montadoras com veículos por assinatura com opção de compra no final”.
Contudo, ele acredita em um pico entre 2023 e 2026 no movimento das montadoras nesse mercado de locação, seguido de um recuo. Ele justifica que as montadoras não têm o aluguel como principal negócio, já as locadoras são especializadas nesse tipo de serviço.
“As locadoras dedicam tempo recursos humanos, tecnológico para entregar o que tem de melhor, tanto na depreciação versus aplicação do equipamento, quanto embarcação de acessórios e gerenciamento da frota […] a gente entrega para o cliente o nosso histórico de experiência”, esclarece.
Wilson Lirmann, presidente do Grupo Volvo na América Latina declarou em coletiva na Fenatran 2022, que a intenção da montadora não é substituir a solução de vendas pela de locação. A ideia é expandir o portfólio apresentando novas opções de serviço.
O caminhoneiro autônomo é um público alvo para locação?
Um ponto importante é: para quem o serviço de locação é atrativo ou quem é o público alvo das empresas de locação? De acordo com José Geraldo, do Grupo Vamos, hoje, a maior parte das frotas geral de caminhões alugados das diversas empresas que rodam o Brasil é de pessoas jurídicas.
O Grupo Vamos tem 100% de atuação com esse públco. “A gente entende que existe esse mercado, mas ainda não temos um trabalho desenvolvido para atuar pessoa física, o caminhoneiro autônomo”, justifica José Geraldo. Com relação a Volvo, a gerente da Locadora, Marlus Reikdal, afirmou que o serviço é dirigido para vários tipos de operações de transporte e segmentos, inclusive para os autônomos.
No caso da Scania, o foco é nas empresas de cana, madeira e grãos, mas declarou estar aberta e conhecendo todos os públicos. Por hora, não existe um trabalho específico de captação dos autônomos, com serviço prestado conforme demanda, esclareceu a gerente responsável pela Scania Locação, Renata Campos.
Jaime Alves também conversou com executivos de Montadoras e Locadoras que falaram sobre as vantagens do aluguel de caminhões para empresas de transporte e logística. Assista a matéria que foi ao ar no Pé Na Estrada.
Por Jacqueline Maria da Silva com informações de release e entrevistas.