Se você ainda não se fez essa pergunta, saiba que nosso país pode sofrer, e muito, as consequências desse conflito entre Rússia e Ucrânia. Além da grave questão humanitária, a relação comercial de diversos países pode ficar abalada mediante uma guerra. Neste artigo, fizemos uma análise do ponto de vista econômico de como o conflito entre Rússia e Ucrânia prejudica os brasileiros.
Relação do Brasil com a Rússia
Importação é o processo de entrada de produtos e insumos em determinado país e exportação é tudo que um país comercializa para fora de seu território. Resumindo, tudo o que uma nação compra e vende de outras nações. No Brasil, os adubos e fertilizantes químicos ocuparam o primeiro lugar no ranking dos produtos importados em 2021, com 6,9% do total. Ou seja, a cada 100 itens trazidos para o Brasil, quase 7 foram dessa categoria.
Esses dados foram extraídos do ComexVis, a plataforma do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Governo Federal. Segundo o painel, em 2021, 23% de todo o adubo e fertilizante químico que entrou no Brasil era proveniente da Rússia. A Rússia, por sua vez, exportou para cá mais da metade do que produz em fertilizantes, 62%. Logo, o Brasil é um dos maiores compradores da potência.
Em contrapartida, o Brasil exportou para a Rússia 22% da soja plantada, 11% das carnes de aves e miudezas, 8% do açúcar e melado e 7,3% da carne bovina. Ou seja, uma boa parcela do que é produzido pelo agronegócio brasileiro. Dentre produtos mais exportados pelo Brasil, a soja, carne, açúcar e melaço, café, milho, tiveram maior destaque, e todos resultantes da agroindústria, segundo Carta Conjuntura do primeiro trimestre deste ano.
Como isso prejudica os brasileiros?
Os adubos e fertilizantes químicos são comumente utilizadas nas lavouras do Brasil, que também mantém a pecuária que faz uso dos grãos para a composição da ração animal que alimenta o gado. O agronegócio em 2021 foi um setor que cresceu quase 20% em valor nas exportações. Nesse sentido, o agronegócio pode sofrer as consequências da guerra, pois o Brasil ainda é muito dependente da Rússia para o uso dos adubos e fertilizantes químicos.
Com o desabastecimento desses insumos, pode haver diminuição ou perda de safras, o país poderá ter um saldo negativo na comercialização desses produtos para outros países, incluindo a própria Rússia, que neste momento sofre sanções de outros países e pode não conseguir disparar seus produtos para outros mercados do mundo ou comprar deles.
Agora, você pode estar se perguntando, como isso me afeta? Isso prejudica diretamente a população brasileira, pois a queda na produção agrícola e pecuária pode encarecer ainda mais os alimentos no Brasil, que já tem sofrido com a inflação em consequência do cenário pandêmico, e até diminuir a oferta dos alimentos de origem desse setor como grãos, carnes e açúcar.
Relação do Brasil com a Ucrânia
Embora a relação entre o Brasil e Ucrânia não seja tão de dependência como Brasil e Rússia, o país invadido também importa produtos brasileiros frutos do agronegócio como amendoim, açúcar, café e outros. O volume é menor, mas pode fazer diferença em um contexto geral.
Em termos de relevância, o Brasil exporta 11% do total de minério de ferro para a Ucrânia, em contrapartida, recebe 22% de produtos derivados industrializados. Com a Guerra, o Brasil pode perder essa fonte de renda das exportações e pode perder um dos fornecedores dos derivados do ferro. Eles são importantes para a construção civil e siderúrgica brasileira.
Além disso, a Ucrânia também destina 20% de seus polímeros de cloreto de vinila e oleofinas hidrogenadas, componentes também usados na construção civil, para o Brasil. Novamente, a guerra pode encarecer os produtos fabricados a partir desses itens, como imóveis e carros.
Como a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta o abastecimento de combustíveis?
A Rússia exporta para o Brasil 7,6% do que produz em combustíveis de petróleo e a guerra pode diminuir ou cessar essa fonte. Isso pode causar:
- Aumento nos preços do diesel e da gasolina;
- Diminuição no abastecimento nos postos e para a população;
Ouça mais sobre o preço do combustível aqui.
Relação do Brasil com os países da OTAN
No ranking dos 10 países que mais importam e exportam para o Brasil estão EUA, Espanha e Holanda, potências que também integram a Organização do Atlântico Norte (OTAN). Esse bloco firmou, logo após a guerra fria, o compromisso de se defender mutuamente de confrontos.
No decorrer do tempo, outros países entraram para a lista, e o convite recentemente foi estendido a Ucrânia, um dos fatores que motivou Vladimir Putin, presidente da Rússia, a iniciar os ataques à vizinha Ucrânia. Esse é um resumo muito simplista de toda a conjuntura da guerra, mas comentamos aqui para que você possa entender a indisposição que ocorre entre a Rússia e a OTAN e como podemos ser impactados por isso.
Dado esse contexto, o segundo produto que o Brasil mais importou em 2021, perdendo apenas para os adubos e fertilizantes, foram os óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos. Os EUA exportaram para o Brasil 19% de sua produção.
Essas substâncias são usadas nos processos industriais e para a pavimentação do asfalto, na construção civil e na destilação para a produção do diesel no Brasil. Logo, se esses países da Otan forem afetados com a guerra, os países com quem mantêm relações de comércio também sofrerão impactos, como é o caso do Brasil.
Relação do Brasil com a China
No dia 2 de março deste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma Assembleia Geral. A intenção foi reunir líderes dos países para votar uma resolução que condenasse a Rússia pela invasão a Ucrânia. A China se absteve da votação, ou seja, não se posicionou a favor ou contra a Rússia.
Hoje, a China é o país com a maior relação comercial com Brasil, com 31,1% de exportação do Brasil e 21,8% de importação para o Brasil em 2021. Além disso, é o segundo país que mais exporta adubos e fertilizantes para o Brasil (13,7%) e o que mais exporta mundialmente óleo bruto de petróleo ou de minerais betuminosos crus (46,6%) que já abordamos anteriormente.
Prejuízo para macroeconomia e para o bolso da população
Além de todos os impactos descritos anteriormente, sempre que existe uma diferença para menos entre o que sai e o que entra no nosso país, dizemos que existe um déficit na balança comercial. O problema é que essa situação causa um prejuízo na economia como um todo e quem paga a conta são os brasileiros.
Em uma matéria recente, especialistas apontaram que o agronegócio foi um dos responsáveis pelo aumento no Produto Interno Bruto (PIB) e consequentemente no saldo das contratações no setor de transporte rodoviário, cenário que não ocorria há 9 anos.
A guerra pode impactar em uma queda do PIB brasileiro, que quanto menor o valor, maior indicativo de que a economia do país não anda bem. Isso repercute em aspectos como geração de emprego, investimento no país e no repasse para serviços como saúde e educação.
Por Jacqueline Maria da Silva