Vida de estradeiro também é sinônimo de correria no trecho. Entre um frete e outro, será que sobra espaço para autocuidado? “O que a gente faz é acordar de manhã, escovar os dentes e sair para o trecho”, relata José Romildo Costa, o Bida, de Guarulhos. Pois é sobre higiene bucal que queremos falar, um desafio para quem roda por aí. O Pé Na Estrada conversou com estradeiros e com uma especialista que deu dicas de cuidado com a saúde bucal.  

Infraestrutura compromete os cuidados com a saúde bucal dos estradeiros?

Erick Lopes de Souza, de São Paulo, afirma que consegue fazer higiene bucal em 90% das vezes que está no trecho, mesmo em tiro longo. Isso porque ele para em postos de combustíveis credenciados pela empresa onde trabalha e com isso pode usar o banheiro para fazer uma boa escovação.

Para outros caminhoneiros entrevistados o cenário é diferente. Eles apontam que a infraestrutura dos locais de parada acaba impactando em uma boa saúde bucal. “A gente para aqui e tem [banheiro e água], chega no outro não tem”, descreve José Romildo.

“Horrível, não tem como fazer não [higiene bucal], tem posto que não tem nem banheiro ou não tem nem água para escovar os dentes. Se tem, precisa pagar pra usar o banheiro”, reclama Eduardo Pires, de Itapevi, São Paulo. 

Os pontos de parada gratuitos fornecidos pelas concessionárias começam a aparecer, mas o que fazer quando o tempo ou a infraestrutura não contribuem para o autocuidado?

Dicas para manter a saúde bucal no trecho 

Sem local adequado, o jeito é fazer a higiene no caminhão ou improvisar. José Romildo tenta fazer ao menos duas escovações diárias em horários viáveis, geralmente pela manhã e outra quando para tomar banho. Eduardo mantém o corote (reservatório para líquidos) cheio de água para enxaguar a boca no caminhão mesmo. 

O ideal é escovar os dentes a cada refeição, no caso do caminhoneiro, nas paradas para alimentação, explica Ayumi Tamura Ogava, odontóloga do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), de Itumbiara, Goiás. Com isso, é possível diminuir as chances de aparecimento de cárie, doença infeciosa que destrói o dente. E o que ela mais detecta nos atendimentos odontológicos do SEST SENAT de Intubiara são problemas relacionados a falta de higienização.

“Durante o período diurno, a gente entende que é muito corrido para os caminhoneiros”, aponta a especialista que compreende que a higiene bucal é imprescindível, mas reconhece as dificuldades de quem está no trecho. Ayumy aponta duas dicas que podem ajudar os estradeiros:

• Carregar um enxaguante bucal ou uma garrafinha de água no caminhão. O estradeiro deve fazer bochecho de pelo menos um minuto após as refeições, com água é o mais recomendável. 
• Não passar palito de dente, pois machuca a gengiva. Se possível, usar fio dental após alimentação.

Lembrando que essas ações não substituem uma boa escovação, é só um famoso quebra galho para tirar os restos dos alimentos que causam adoecimento dos dentes. 

Prevenir é a chave para uma boa saúde bucal 

Segundo contam os estradeiros, existe também a dificuldade em conseguir passar em uma consulta com o especialista na área por estarem no trecho a maior parte do tempo. “Faz dois anos que não vou ao dentista”, confessa José Romildo 

De acordo com Ayumy, muitos estradeiros aparecem nas consultas quando estão com alguma dor. Nesse caso, segundo a profissional, com necessidade de fazer um canal dentário (procedimento indicado para cárie em processo avançado com danos a poupa do dente) e algumas vezes até a extração do dente. “A gente orienta buscar [um especialista] antes”, indica.

SEST SENAT oferece atendimento odontológico

Algumas unidades do SEST SENAT oferecem atendimento odontológico gratuito para trabalhadores do transporte. No site da instituição é possível agendar um horário em diversos locais do Brasil. Com isso, você pode escolher uma que fique no percurso de sua viagem. Uma vantagem é que ao iniciar o tratamento, o histórico de atendimento fica disponível para qualquer unidade do país. Isso facilita que você possa dar continuidade com outros profissionais onde estiver. 

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Por Jacqueline Maria da Silva