segunda-feira, outubro 7, 2024

“Estamos sendo bem humilhados”, relata caminhoneira sobre Argentina

Coronavírus"Estamos sendo bem humilhados", relata caminhoneira sobre Argentina

Caminhões parados e caminhoneiros pedindo mais respeito. O cenário talvez te lembre a greve de caminhoneiros de 2018. Mas, dessa vez, o palco do momento é a Argentina. E mais: as reivindicações estão ligadas à pandemia do coronavírus. Não está fácil para os estradeiros que carregam por lá. Continue lendo que a gente te explica.

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Imagem: Arquivo pessoal

 

Greve de caminhoneiros na Argentina

Alegando maus tratos e discriminação com a categoria, caminhoneiros paralisaram atividades em várias partes do país. Um dos locais em que os motoristas ficaram parados foi a Aduana Argentina, onde a caminhoneira Geisieli de Deus e Silva também estava, com o marido. A estradeira trabalha com o companheiro revezando no volante, no transporte expresso.

Ela relatou o que viu no período em que ficou na Argentina, quando ainda acontecia a greve de caminhoneiros. “Chegamos lá num domingo, as 6h da manhã, saímos de lá as 20h de sábado”, ela conta. “A greve acabou as 17h mas só fomos liberados para sair a noite”.

Vários motoristas ficaram presos na fronteira sem conseguir voltar. A Paula Toco falou sobre isso lá no Youtube: clique aqui para assistir.

Geisieli conta que o reflexo da paralisação na Argentina ainda está acontecendo e chega à outros países. Segundo ela, alguns estradeiros não estão conseguindo ingressar no Porto Terrestre em Los Andes, no Chile, por conta desse reflexo.

O portal Los Andes também registrou uma paralisação de caminhoneiros, no dia 7 de junho, na praia de El Mostro, localizada em Uspallata, na Argentina, com motoristas argentinos e de outros países.

 

Maus tratos

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Imagem: Arquivo pessoal

“Estamos sendo bem humilhados na Argentina”, Geisieli desabafa. Ela explica que por causa da pandemia do coronavírus, motoristas não podem mais parar para tomar banho e são até mesmo impedidos de entrar em supermercados.

“Temos que esperar o comboio da polícia para seguir viagem. Só que ele demora as vezes 5 horas, até 8 horas”. Ela também relata que esse tratamento é mais severo para caminhoneiros que não são argentinos, como brasileiros, chilenos, uruguaios e bolivianos. “Estamos sendo muito mal tratados”.

“Não temos lugar para parar”

Lá na Argentina, antes do motorista retornar para casa, ele deve passar por um isolamento de 7 a 14 dias. “Se você é argentino e seu vizinho te denuncia para a polícia por você ser motorista de caminhão e estar em casa, a polícia vai até lá e te obriga a ficar de quarentena”, explica Geisieli.

“Antes tínhamos locais [de parada] nos pedágios, pois aqui o pedagio é diferente, você podia parar para descansar e comer, tomar banho, agora não pode mais. Se a policia te pegar, te expulsa dali”, conta a caminhoneira.

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Um vídeo circula em grupos de WhatsApp, em que caminhoneiros de várias nacionalidades são impedidos de entrar em supermercado argentino | Vídeo: arquivo pessoal

Ela também relata ter problemas por trabalhar com o marido, que também é motorista, no mesmo caminhão. “Nós sendo dois motoristas fichados na empresa, eles nos param e dizem que não é permitido dois condutores no mesmo caminhão”. Em alguns locais, como a fronteira Brasil Paraguai, a presença de ajudantes na cabine é proibida. No caso da Geisieli, nenhum dos dois é ajudante: os dois são motoristas e revezam a jornada.

 

Comparações

Já falamos por aqui sobre como caminhoneiros estão sendo tratados no trecho após o início da pandemia no Brasil. Recebemos relatos de que, até mesmo em restaurantes, é indicado que motoristas de caminhões fiquem em lugares separados dos outros clientes.

“O caminhoneiro sempre foi discriminado, mas agora piorou”, desabafa o estradeiro Sergio Burbelo. “É tipo a onça-pintada: todo mundo defende, mas ninguém quer chegar perto”, ele brinca.

Para Geisieli, comparando com a situação na Argentina, “o Brasil está um céu”. “No máximo medem nossa temperatura e pedem para não sair muito no caminhão. Mas nada de impedir a gente de tomar banho, de comer, de entrar nos lugares. No máximo evitar aglomerações”, ela conta.

No Chile, a estradeira acha que as precauções estão sendo justas. “Estão parando os carros pequenos. Com a gente [os caminhoneiros], eles tiram a temperatura e perguntam a rota. Mas não nos impedem de ir ao supermercado ou de parar, nada disso”.

 

Discriminação é crime

Na legislação brasileira, a Lei 7.716, que define crimes resultantes de preconceito, estabelece que, entre outras práticas, é crime:

“Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador”.

Além disso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, defende no artigo 7 que:

“Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”.

 

Por Pietra Alcântara

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