Rodar com fé eu vou… – Histórias de quem corta o trecho em busca de milagres

As estradas do Brasil possuem uma mística em suas curvas, onde surgem uma infinidade de histórias. São milhares de vidas que diariamente transportam de tudo um pouco para o país não parar. Devido aos perigos encontrados no trecho, as manifestações de fé nas estradas são um grande motivo de conforto e esperança para os motoristas.

Certamente, você já deve ter visto acessórios, pinturas, adesivos, artefatos, entre outros objetos nos caminhões, simbolizando a fé dos estradeiros. Neste dia 25 de julho, dia de São Cristóvão, padroeiro dos viajantes e, por associação, padroeiro dos caminhoneiros, trazemos histórias de pessoas que cruzam as estradas em busca de milagres e de dias melhores.

Eliseu – “Pode ter certeza que é uma força maior que me move”

Eliseu - “Pode ter certeza que é uma força maior que me move”
Imagem: PNE

Eliseu Sommerfeld, morador de Horizontina, no Rio Grande do Sul, é um praticante assíduo da fé. Ele afirma que nada seria possível sem a crença em algo maior, pois é ela que o faz levantar todos os dias e colocar o pé na estrada. Evangélico, ele frequenta a Igreja Assembleia de Deus e sempre que pode, está no templo:

“Quando tenho tempo, vou à igreja. Tem que agradecer a Deus pela vida que a gente tem, só ele que cuida da gente. Sem Deus, não somos nada e eu costumo orar no trecho, tenho sempre minha Bíblia comigo.”

O estradeiro trabalha no transporte de Câmara Fria e afirma que já passou por diversas situações perigosas nas estradas. Ao questionarmos se ele já testemunhou um milagre durante suas viagens, o condutor diz que muitos não entendem o conceito de um milagre, pois, para ele, viver já “é uma verdadeira bênção”:

“É complicado você falar sobre milagre porque muita gente não entende, o dom da vida é um milagre. Mas comigo, já passei em trechos onde desci uma serra sem freio. Então é ação de Deus né? Proteger você pra descer a serra sem sofrer nenhum acidente, nem dano material. É importante que o ser humano cuide da vida espiritual.”

Antônio – “Ando nas estradas sempre pedindo a proteção de Deus”

Natural de São Luís Gonzaga, cidade do noroeste gaúcho, Antônio Veron trabalha no transporte de Peças Automotivas nas regiões sul e sudeste, além de países do Mercosul. Ao encontrarmos com ele em um pátio na região da Régis Bittencourt, chamou-nos a atenção o fato de o caminhão estar decorado com diversas imagens ligadas ao catolicismo, mesmo o motorista sendo evangélico.

Antônio afirma que não vê problema algum nisso e que, para ele, o mais importante é a fé, independentemente da religião:

“Sou evangélico. Tem um terço aqui no caminhão de outro motorista, mas eu deixei, Deus é o mesmo e a gente sempre precisa dele. Tem que ter Deus no coração. Sempre quando chego das viagens, pego a família e vou pra igreja.”

Antônio - “Ando nas estradas sempre pedindo a proteção de Deus”
Imagem: PNE

Ele ainda afirma que para rodar pelo trecho é necessário ter fé na estrada, pois a lida diária não é para qualquer um:

“A importância da fé na minha vida é muito grande. Pra proteção nessas estradas desse mundo velho que não é pra qualquer um não, a gente anda pra levar o sustento pra casa, pra família. Deus é o que me move, é só por Deus mesmo.”

Noemi e Sérgio – “A fé move o dia a dia do estradeiro”

Noemi e Sérgio - “A fé move o dia a dia do estradeiro”
Imagem: PNE

O casal Sérgio Borré e Noemi Borré segue junto no trecho em busca de melhores condições. Sérgio é caminhoneiro autônomo e Noemi o acompanha nos desafios diários da estrada. Curiosamente, eles são de São Paulo das Missões, uma das cidades gaúchas onde, entre os séculos XVII e XVIII, aconteceram as reduções jesuíticas dos Guarani, chamadas Missões.

Atuantes na igreja desde pequenos, os dois têm em Nossa Senhora Aparecida uma razão diária para acreditar em forças maiores durante a jornada:

“A gente frequenta a católica, nascemos, crescemos, nos batizamos, fizemos crisma. Toda a vida na católica e temos Nossa Senhora Aparecida como santa de devoção. E com certeza, a fé é fundamental na estrada. Nós temos que apegar muito na fé. Se depender do ser humano é cada qual pra si e Deus por todos né?”

Por ser autônomo, Sérgio cita que tudo é mais difícil, mas não há motivos para perder a esperança de que as coisas possam melhorar, pois ele confia que, com fé, tudo pode mudar:

“O autônomo com certeza tem que ter a fé dobrada. Dá pra viver? Dá. A gente vai se defendendo. De você sair procurando frete se torna mais difícil, aí a gente corre atrás de algumas cooperativas pra ficar um pouco melhor. O autônomo como particular consegue o que as empresas não pegam, praticamente as sobras. Eu acredito que possa melhorar, vamos ter fé né? Pro autônomo sempre foi difícil.”

A fé em melhorias para a categoria

Os estradeiros também citaram a fé em dias melhores para a categoria. Eliseu, por exemplo, afirma que as pessoas precisam parar de colocar fé demais nas “promessas do ser humano”:

“Também tenho fé em melhorias na classe, pode ter certeza. O problema hoje é que o povo bota fé no ser humano, na política, no trabalho. Trabalho é importante, mas você não tem que botar fé no trabalho, mas sim em Deus. Na política você precisa de pessoas que cuidem do país, do estado, do município, porém o povo infelizmente é corrompido. Mas tenho fé que tudo pode mudar.”

A fé em melhorias para a categoria
Imagem: PNE

“A fé move o dia a dia do estradeiro. Tudo que a gente faz, a gente pede a Deus que dê forças, coragem, que ajude a gente né? Então, queira ou não queira, a gente sempre tem esse pensamento positivo que o ‘velhinho’ lá de cima ajude a gente, que Nossa Senhora Aparecida guie a gente. Então, ele não deixa de ser uma força que a gente bote fé naquilo, que vai melhorar. Todo mundo vem passando por obstáculos como rodovia, frete, infraestrutura né, mas vamos torcer pra que isso recomece e dê certo tudo de novo.”, complementam Noeli e Sérgio.

A força de crer em algo maior

A força de crer em algo maior
Imagem: PNE

Todos os condutores com quem conversamos afirmam que são movidos pela fé e, segundo eles, é a crença em uma força maior que os mantém de pé. Em meio a um ambiente considerado hostil por muitos, além das inúmeras dificuldades diárias, os estradeiros não perdem a esperança de que algo possa mudar em suas vidas.

No desafiante ambiente das estradas, acreditar em algo move boa parte dos estradeiros e os faz buscar dias melhores para si e para suas famílias. Para eles, é preciso ter muita fé na estrada, para viver e rodar neste país.

Por Daniel Santana

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