A 27ª Agrishow ocorreu entre os dias 25 e 29 de abril em Ribeirão Preto. Após dois anos sem o evento devido a pandemia por Covid-19, as montadoras Mercedes-Benz e Scania aproveitaram para apresentar seus veículos voltados para agronegócio. Ambas deram destaque aos caminhões autônomos nível 2 direcionados ao setor sucroalcooleiro.
Mercedes-Benz traz portfólio após dois anos sem Agrishow
Dentre os produtos do portfólio, foram citados os caminhões da linha Atego para aplicações severas on road e off road para suporte na produção agrícola. Mas o destaque foi dado à linha Axor, que segundo executivos da montadora é um dos mais vendidos para o transporte de grãos, cana e madeira.
O Axor 3131 com direção autônoma nível 2, que roda sozinho, mas tendo suporte de um motorista para o caso de eventualidade, vendeu 400 unidades do ano passado para cá. Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas e Marketing declarou que Mercedes-Benz está preparando esse veículo para que ele seja 100% autônomo para rodar em um ambiente confinado.
Segundo o próprio Leoncini, um caminhão como esse é de grande valia para o segmento agro pelo suporte que ele oferece. Contudo, é um baita desafio devido a adaptação dos sensores às situações como presença de palha, poeira, entre outros.
Scania apresenta seu modelo autônomo para setor sucroalcooleiro
A Scania levou para a feira a nova geração de caminhões off road, os veículos a gás comprimido e liquefeito e o pacote de soluções de manutenção e conectividade. Destaque para o Scania R540 6X4, carro chefe de vendas do setor, principalmente para transporte de grãos. “Trouxe 20% de economia e eficiência energética com relação à série anterior”, relata Fabrício Vieira, gerente de Vendas de Soluções Off Road da Scania do Brasil.
Foi apresentado também na feira o G540 10X4, lançado em 2021, usado para mineração e com aplicações para o agronegócio. Seu irmão, o G540 6×4 se consolidou no setor sucroalcooleiro e aumentou a presença no segmento florestal e de madeira.
A grande novidade da Scania para a Agrishow foi o caminhão autônomo para transbordo, o P280 8X4. O veículo está em fase final de testes em usinas do interior de São Paulo e a intensão é que já esteja disponível para venda na Fenatran deste ano.
O modelo possui georreferenciamento e conectividade com caminhões do entorno e com máquinas agrícolas como a colhedeira. Possuirá também versões a diesel, Gás Natural Veicular e Biometano.
A relação das fabricantes com o Agronegócio
Para as duas montadoras o agronegócio representa um mercado significativo. Scania com cerca de 40% e Mercedes-Benz com 45% do total de veículos comercializados.
No caso da Mercedes, esse volume tem relação com o grande suporte ao ciclo da cana, sobretudo o apoio ao transporte do etanol e do açúcar. “No Brasil, o transporte de etanol é 100% em cima de caminhão diretamente vindo do fabricante, porque nós não temos dutos nenhum no país”. Roberto Leoncini, destacou que outros setores do agrobusiness estão em crescimento, como o madeireiro e a mineração, e a empresa analisa outras oportunidades no mercado do agro.
A Scania, que também é forte no setor sucroalcooleiro e pretende ampliar sua participação em 2022, sobretudo no mercado florestal, por meio da venda de planos de manutenção desenvolvidos especificamente para os segmentos da cana e madeira. “Havia deficiência para entregar soluções para esses tipos de segmentos”, justifica Fabrício Vieira.
A falta dos semicondutores e o fornecimento de caminhões para agronegócio
Tanto Roberto Leoncini, da Mercedes-Benz quanto Fabricio Vieira, da Scania lembraram que a falta de componentes atrapalhou a produção. “Ficamos 50 dias parados entre dezembro e fevereiro deste ano porque não havia componentes para produzir seus caminhões”, explica Fabricio Vieira.
Dos mais de 1500 caminhões off road vendidos para o agro, apenas 1007 foram entregues por conta da crise. Leoncini destacou ainda que a empresa entregou no ano passado caminhões com pneus faltantes, mas teve o apoio de fornecedores que supriram o componente. Para não perder o slot de produção, avançou em volume de veículos que serão completados com a chegada de peças.
A Scania pretende manter a meta estabelecida para 2022, mas admitem a dificuldade na entrega de veículos e soluções para o primeiro semestre. Com isso, a intenção é entregar 30% do volume de produção no primeiro semestre e 70% no segundo.
Agronegócio e investimentos em veículos sustentáveis
Segundo a Scania foram mais de 600 caminhões a gás comprimido, liquefeito e biometano vendidos desde abril de 2020 com resultados satisfatórios na economia de combustíveis para o setor sucroalcooleiro. “Chegamos a um custo operacional aproximadamente 16% menor para solução a gás nas operações com cana de açúcar”.
A economia poderia ser ainda maior com o biometano, afirma Paulo Gianezini, que reforçou com base na Biogás, que o Brasil tem o maior potencial de produção desse combustível no mundo. Fabrício aponta que o gás terá demanda mesmo com a chegada de outras tecnologias sustentáveis, tais como a eletrificação e o óleo de hidrogênio. No entanto, hoje, o gás é a alternativa mais viável, sobretudo pela infraestrutura oferecida pelo Brasil.
“A tecnologia [eletrificação e óleo] já está desenvolvida, principalmente para veículos urbanos que trabalham dentro da cidade com uma distância menor. Para ser viável comercialmente no Brasil vai depender muito mais do que o país tem a ofertar do que a gente tem para oferecer”, complementa.
Roberto Leoncini, da Mercedes-Benz, concorda que existe uma demanda e pressão pelos combustíveis alternativos em contrapartida à uma infraestrutura que não acompanha essa solicitação do mercado. Ele reforça que existe no portfólio da montadora a opção elétrica, uma solução adotada no hemisfério norte e na Europa, mas que precisa ser estudada para o Brasil. Logo, a Mercedes avalia qual a solução mais interessante economicamente para seus clientes, sobretudo pensando em longas distâncias.
Por hora, a montadora possui uma parceria com a Volvo para o desenvolvimento de células de hidrogênio, que poderia fabricar um hidrogênio 100% verde a partir da energia eólica, do etanol e da água, confirma Leocini.
Contudo, os desafios ainda são muitos, principalmente na questão da logística de abastecimento dos veículos que não saem do campo “O caminhão de transbordo, que vai na rodovia e volta vai ter pontos de abastecimento, mas um caminhão que fica 100% do tempo no campo, é mais complicado porque você não consegue fazer um abastecimento remoto de gás no campo”, exemplifica.
Por Jacqueline Maria da Silva