Em meio a tanta tecnologia na Agrishow 2022, encontramos uma exposição que resgata a história do campo por meio de tratores antigos. “Memórias do Campo” reuniu um acervo com 15 peças aberto a visitas, onde colecionadores puderam expor suas máquinas.
“É muito interessante colecionar tratores porque ele remete muito ao passado da Agricultura, aos nossos antepassados e todo sacrifício que foi chegar até a tecnologia que temos hoje”, comenta o educador financeiro José Vignoli, 60 anos, de São Paulo.
Mas não apenas os colecionadores que se interessaram pelos veículos. Bastava ligar o motor de algum dos tratores para que uma multidão curiosa se reunisse em frente ao espaço. “O maior movimento aqui é quando eu funciono os tratores porque eles fazem barulhos esquisitos que não tem nada a ver com os barulhos de hoje”, explica João dos Anjos Duarte, conhecido como João Trator.
João, 52 anos, é mecânico especialista em tratores e foi o responsável por reunir os itens expostos, grande parte deles restaurados em sua oficina na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. “Nasci dentro da oficina, meu perfume é gasolina”, brinca.
A exposição na Agrishow teve sua primeira amostra na feira em 2018, com modelos de tratores diferentes do disponíveis na edição de 2022. Embora a ideia pareça inusitada, João relata que existem outros museus de tratores e até eventos específicos com a temática.
“Em São Carlos temos uma festa tradicional que chama tratorada. Em Orlândia e Holambra existem museus de tratores e tem muita coleção particular em São Paulo e Paraná. Como os amantes de carro antigo, tem os amantes de tratores antigos e com a Agrishow isso tende a se expandir e ficar cada vez com acesso mais fácil ao público”, acrescenta.
Memórias do campo: Exposição de tratores antigos na Agrishow 2022
Para compor o acervo foram escolhidos modelos lançados entre 1950 e 1960 de colecionadores da região. Entre os modelos estavam o Lanz Bulldog D8501 (1951) e um Ford 8BR (1962), considerado o mais novo do acervo. De acordo com João, os veículos fabricados a partir desse ano já não são considerados como antigos.
As “relíquias” da exposição foram os chamados “testa quente”, com motores ligados com fogo e que necessitam de ao menos 15 minutos para começar a funcionar. “A gente costuma falar que a mecânica é bem atrasada. Hoje você aperta o botão e o trator já está trabalhando”, explica João.
Para o mecânico, a tecnologia trouxe facilidade para as pessoas por meio dos sistemas de monitoramento e localização, como GPS e sobretudo pelo conforto, aspectos que também trouxeram maior produtividade no campo. Ainda assim, ele revela que possui dois tratores antigos que utiliza para o plantio em seu sitio em São Carlos, e para fazer suas romarias.
“A gente faz aquela Romaria para Aparecida do Norte que dá 540 km por terra. Os colecionadores se juntam e a gente vai para Aparecida de trator”.
Um deles estava exposto na feira, o Ursus, 1959 que ele descreve como quase um veículo de Guerra. Proveniente da Polônia, foi produzido com ferro e materiais pesados e exigia muita força braçal para dar partida. Assim como os demais tratores antigos o combustível podia ser desde óleo diesel até óleo queimado.
João explica que o acervo é um berço de tratores e que ajuda a conscientizar as pessoas sobre as dificuldades de antes com relação ao trabalho no campo. “Tem que ver e valorizar o que nossos pais fizeram para poder produzir alimento”.
A exposição ocorreu entre os dias 25 e 29 de abril apenas para apreciação, o que não evitou a oferta de pessoas interessadas em adquirir os tratores. João que permaneceu orientando os visitantes diz que aproveitou a oportunidade para fazer a sua propaganda.
“Quando algum colecionador vir aqui no estande e quiser comprar eu entrego o meu cartão porque eu tenho tratores para vender e posso pegar também o serviço de quem já tem um trator desse para eu restaurar”, conclui.
Conheça também o acervo de caminhões antigos que conta a trajetória de uma família.
Por Jacqueline Maria da Silva