Sabe aquela história de que a corda sempre estoura do lado do mais fraco. Pois é, as transportadoras de maior renome estão buscando o biometano como forma de entregar soluções energéticas mais sustentáveis aos principais clientes. Tudo isso para a corda não estourar.
Mas lógico que por trás do discurso há aquela história de iniciativa da própria transportadora de querer adotar uma proposta amiga do ambiente.
Afinal, tudo depende da vontade do embarcador, do transportador e do fornecedor do biometano.
Transportadoras buscam biometano
O modelo de abastecimento já está criado e o gás, proveniente de aterros ou de dejetos da agricultura, chega aos pátios das transportadoras por meio de dutos ou de cilindros.
Como há situações em que o biometano se mistura ao GNV (Gás Natural Veicular), a diferença é que um é totalmente sustentável e o outro não, é possível ter uma ideia do tamanho do negócio.
Modelo de biometano é exclusivo às transportadoras
No Brasil, por exemplo, existem mais de 1.750 postos de combustíveis que comercializam GNV. Desses, 356 estão instalados em São Paulo. A frota do país é de mais de 311 mil veículos convertidos.
Porém, apesar dessa amostra, é possível dizer que os modelos com cilindros amarelos não estão na mão de autônomos, mas sim, apenas, de trasportadoras.
É importante destacar que o GNV pode gerar uma economia em relação ao diesel em torno de 15%. Mas a autonomia é bem menor, em média 350 quilômetros contra quase mil.
Qual o preço de um caminhão biometano?
Um caminhão zero a GNV de fábrica pode custar quase o dobro, dependendo a situação. Sem revelar os preços oficiais, pois as montadoras alegam que cada contrato tem um valor, a Scania disse em nota que o valor é similar.
Porém, a Tabela Fipe, considerada o principal índice para a negociação de veículos do país, comprova o preço mais alto para aquisição do GNV.
Um Scania G-460 6×2 GNC tem um preço médio de R$ 1.200.000 contra R$ 1 milhão. Uma diferença de 16%.
Cenário do biometano no Brasil
Para Renata Isfer, Presidente da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o país está evoluindo, mas ainda há muito espaço para o biometano crescer.
“A gente vive um momento de sinergia entre, principalmente, as empresas que tem frota e as empresas que lidam com logística de gás, em ter, em adquirir os caminhões, e, ao mesmo tempo, viabilizar o abastecimento”, acrescenta.
Ela faz uma referência com a história de quem deve vir primeiro, o ovo ou a galinha? “O autônomo vai comprar um caminhão sem ter onde abastecer, sem saber se vai chegar ao seu destino, conseguindo abastecer e voltar para sua origem?”.
E também defende ao mesmo tempo que o dono do posto não tem incentivo, nem clientes que justifiquem a instalação do biometano para atender à pequena demanda.
“O biometano está tão em voga, porque de uma hora para outra, as pessoas viram que você tem todos os lados dessa equação com o mesmo interesse. Então, começaram essas pontas a se conectar ao invés de ficar um correndo atrás do outro num círculo que não vai, de repente está todo mundo conversando”, finaliza Renata.
Jomed adotou o biometano e usa em 10% da frota
A Jomed, Transporte & Logística, inaugurou um ponto de abastecimento de biometano dentro da unidade de Guarulhos (SP).
Agora, 20 dos 200 caminhões, conseguem abastecer no ponto com biometano fornecido pela Ultragaz.
As duas carretas ficam estacionadas e o abastecimento passa por conexões até chegar a pressão final. A capacidade de armazenamento é de 6.000 m³, uma média de 30 abastecimentos.
Quanto tempo demora para abastecer?
O tempo de recarga do gás é de cerca de 20 minutos e a autonomia é de um pouco mais de 300 quilômetros. Vale dizer que nem sempre os caminhões acabam chegando de cilindro vazio.
Como a transportadora têm filiais em outros Estados, o abastecimento fica controlado. Outra característica é que as rotas desses veículos são fixas, ou seja, do cliente para o galpão e do Centro de Distribuição para a transportadora.
Ultragaz e Jomed não revelam o valor da parceria por nada, alegam ser um contrato sigiloso.
GNV é bom para quem dirige?
Para o motorista instrutor, Eduardo Chaga, a principal diferença do GNV em relação ao diesel é o silêncio: “Não parece, mas a viagem se torna menos cansativa”.
De qualquer forma, há limitações. Chaga diz que existem algumas regiões que a empresa não consegue atender por conta da ausência de postos disponíveis.
“Nossas rotas são determinadas, onde não arrisca ocorrer um pane seca”, finaliza ele.
Reiter Log também tem biometano
A Reiter Log, empresa de logística, uma das pioneiras em sustentabilidade, também anunciou a inauguração de um ponto em Barueri (SP).
Agora, além de São Paulo, a empresa tem pontos de abastecimento de biometano em outras três filiais: Nova Santa Rita (RS), Quatro Barras (PR) e Itapecerica da Serra (SP).
A empresa gaúcha também se destaca pelo empreendimento de R$ 120 milhões, resultado de uma joint venture entre Estancia Del Sur, empresa agropecuária do grupo, e a Geo Biogás & Carbon, formando a Geo Del Sur.
A nova usina utilizará resíduos orgânicos provenientes da produção agropecuária da própria estância Del Sur como matéria-prima para geração de biometano para caminhões 100% a gás da própria compahia.
Biometano como modelo sustentável
Yuri Schmitke, presidente da Associação Brasileira de Energia de Resíduos (Abren) explica que o Brasil tem um aproveitamento de apenas 3% do potencial de biogás e do biometano.
Ele reforça que a maior capacidade do país está no campo, na agricultura e agroindústria, e não nos aterros ou lixões.
O executivo ilustra que o Brasil tem um “pré-sal caipira”, acrescentando que falta uma infraestrutura nacional para transporte a gás.
“A gente precisa criar esses corredores verdes com vários postos e abastecimento de GNV para atendimento. Na Europa, por exemplo, há mais de 1.600 plantas de biometano, enquanto no Brasil, não existem mais do que 20”.
BNDES pode financiar caminhões limpos
Outro incentivo é o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, conhecido como Fundo Clima, uma linha de financiamento operada pelo BNDES para apoiar a aquisição de veículos que contribuam para a redução de emissões, como caminhões e ônibus movidos a gás natural, biometano, eletricidade ou outras fontes limpas.
Portanto, com tantas dúvidas ainda, é impossível cravar qual a melhor solução sustentável. Você tem que olhar o seu implemento, o tipo de carga que você usa e o percurso que você vai fazer para saber, aí, sim, ver se o GNV é a melhor solução para o começo da sua transição energética.
Jornalista especializado em veículos e apaixonado por motores desde criança. Começou a carreira em 2000, como repórter, nas revistas Carro e Motociclismo. Atuou por mais de 10 anos em assessorias de imprensa ligadas ao mundo motor. Foi editor do Portal WebMotors e repórter do Estado de S.Paulo. Hoje, trabalha como repórter e editor no Portal Pé na Estrada.