Semana passada, a empresa Chinesa XCMG apresentou o E7-49T, seu primeiro cavalo mecânico 100% elétrico do Brasil, lançado na Agrishow 2023. O caminhão é importado da China, possui autonomia de 150 km e peso bruto total combinado de 49 toneladas. O modelo de cavalo mecânico permite dois tipos diferentes de carregamento de bateria:
- DC (Corrente Contínua) de carregamento rápido, dependendo da infraestrutura, em pouco mais de uma hora;
- Swapping, que é um conjunto de pack de baterias substituíveis. No modelo E7-49T, as células de bateria estão concentradas em um conjunto único, instalado atrás da cabine. Essa “caixa” permite a troca de um conjunto de baterias por outro carregada em cerca de 6 minutos, com auxílio de uma empilhadeira simples.
O cavalo mecânico será comercializado por R$ 1.3 milhão. O custo será alto porque a bateria corresponde a 50% do valor do veículo. “Por ser uma bateria Swapping, ela tem todo sistema térmico, toda parte de gestão, distribuição de energia, é todo interligado nesse sistema, é uma bateria viva”, detalha Rodrigo Giglia, Engenheiro de Performance dos Equipamentos Elétricos da XCMG.
Segundo o especialista, os custos são equivalentes quando compara-se os elétricos da XCMG aos caminhões movidos a diesel da tecnologia PROCONVE P8/ EURO 6, que tem gasto com Arla, por exemplo. Já o pay back, que seria o custo de retorno, ou seja, em quanto tempo ele se pagagaria, é atingido em 3 anos, afirma o engenheiro.
Breve histórico sobre veículos chineses no Brasil
O ano de 2012 foi um período de grande volume de vendas de veículos de carga no Brasil, mesma época em que os caminhões chineses começaram a surgir por aqui. A Sinotruk foi uma das fabricantes chinesas que tentou entrar no mercado nacional. O Trucão chegou a entrevistar, em 2013, um caminhoneiro com um cargueiro da marca em Feira de Santana, que comprou o veículo porque saia mais em conta.
Em 2014, a Shacman prometeu a construção de uma fábrica no interior de São Paulo, que nunca saiu do papel. Os caminhões chineses eram atrativos pelo preço, mas infelizmente, o barato saiu caro para quem adquiriu. Isso porque com a crise de 2014 e 2015, algumas fábricas acabaram saindo do Brasil, incluindo as duas chinesas citadas acima.
Quem comprou caminhão Chinês acabou ficando sem assistência por um longo período. Tanto que em 2018, o repórter Jaime Alves encontrou um estradeiro que comprou um caminhão Sinotruc, mas que estava impedido de trabalhar, pois o veículo estava quebrado e ele não conseguia encontrar serviço especializado no conserto do modelo.
Em 2019, a Shacman voltou a importar para o Brasil caminhões movidos a gás natural veicular em parceria com o governo de Sergipe. Parece também, como citamos no início da reportagem, que modelos de outras marcas têm sido vistos por aí.
O Pé Na Estrada resolveu apurar essa informação para entender se de fato existe esse retorno de fabricantes ao mercado brasileiro e, se sim, como está ocorrendo e qual a expectativa de comercialização dos caminhões no Brasil.
Caminhões chineses circulam pelo Brasil desde de 2022
Desde início do ano, sites que falam sobre transporte de carga têm noticiado a presença de caminhões chineses no Brasil. O Estradão publicou o flagra de um leitor de um caminhão elétrico da XCMG sendo transportado na rodovia imigrantes, em São Paulo.
Dias depois, um vídeo circulou nas redes sobre um acidente envolvendo veículos da mesma marca no Porto de Santos. Já a Agência Transporta Brasil divulgou que a Transportadora Binotto adotou caminhões Sinotruck em sua frota.
O Pé Na Estrada já havia conversado com representante da Jac Motors na Fenatran 2022, que relatou já ter duas mil unidades de seu pesado elétrico de 18 toneladas rodando no Brasil. A empresa estuda a possibilidade de trazer ao país o de 24 toneladas, mas não deu detalhes.
Os caminhões chineses estão voltando para o Brasil?
Sinotruk
Conversamos com um representante da Binotto para saber mais detalhes sobre os veículos adquiridos da Sinotruck. Segundo a fonte, duas unidades dos modelos A5 e A7 rodam pela empresa. Tratam-se de versões mais novas da marca que foram adquiridos em 2021.
Segundo a transportadora, a compra foi mediada por um ex-funcionário da Sinotruck, que ofereceu a oportunidade de trazer caminhões mais baratos diretamente da China e importou apenas as unidades negociadas com a Binotto.
De acordo com essa fonte, a fabricante não cogitou retorno ao mercado brasileiro e só o faria se houvesse investidores nacionais interessados na importação ou linha de montagem. Com relação aos problemas com manutenção e disponibilidade de peças, o representante da Binotto acredita que não ocorrerá, pois o motor é do veículo é Man, também fabricado no Brasil.
Foton
Em seu site, a empresa fala sobre a entrada no mercado brasileiro em 2010 importando veículos de 3.5 a 10 toneladas. E que agora já são produzidos no Brasil, nas linhas MiniTruck e CityTRuck, com índice de nacionalização de 65% e chegando a 11 toneladas.
Tentamos contato com a Foton e os representantes da assessoria, porém não tivemos retorno. Com isso, não pudemos averiguar como tem sido a atuação da fabricante no Brasil e suas perspectivas de mercado.
Shacman
O Pé Na Estrada tentou falar com a empresa por meio dos contatos no site oficial das fábricas dos EUA e China, mas não houve sucesso.
XCMG
Quando notícias sobre os caminhões chineses da XCMG foram publicadas, o Pé Na Estrada entrou em contato com a montadora para entrevista. Na época, a empresa havia trazido para o Brasil dois modelos de caminhões pesados elétricos de seu portfólio, um cavalo mecânico rígido 8X4 e um de tração.
Na ocasião, afirmou que a demanda por estes modelos estava crescente, que 120 unidades de cada modelo haviam sido negociadas e destinadas à mineração e logística. Porém, não deu detalhe sobre quem seriam as empresas com quem negociou e as projeções para 2023.
Em nota, a XCMG justificou que não poderia fornecer mais dados por serem estratégicos da empresa. Ainda afirmou que estava treinando e certificando mão de obra para apoiar o suporte de pós-venda e capacitar grandes operadores logísticos que possuem frota e manutenção própria. “Os veículos chegam semi prontos do Brasil e aqui passam por um processo de homologação e “tropicalização”, revelaram em nota.
Ainda em março, o Blog Caminhoneiro noticiou a chegada de 55 caminhões 100% elétricos dessa mesma marca no Porto de São Francisco do Sul de outro modelo, XGA4252 com tração 6X4. Checamos essa informação com a própria montadora chinesa, que negou a chegada dos caminhões na época.
Hitech Eletric investe nos leves
Desde 2017, a Hitech Eletric importava caminhões de marca própria, fabricados na China. Foram cerca de 200 unidades até 2022, adaptados à legislação brasileira para uso nacional. No início desse ano, a empresa anunciou a inauguração de uma fábrica em Campo Largo, Paraná, para montagem de veículos leves (utilitário e VUC) destinados ao transporte urbano de mercadorias.
Com a planta, a Hitech tem uma expectativa de fabricar 50 veículos dos modelos por mês e chegar a mil unidades em 12 meses. O primeiro e segundo lote saíram em março deste ano. A opção por criar uma marca de elétricos 100% brasileira foi para diminuir o custo do produto, aumentar a disponibilidade e oferecer facilitações no pós-venda.
Modelos dos leves
O utilitário da Hitech seria comparado no mercado nacional à Fiorino com capacidade de 400kg. O Ecotruck é um caminhão VUC com caçamba com capacidade para 1200 kg e o Ecocargo sua versão com baú. Todos os modelos carregam em tomada 110/220 com um tempo estimado de até 5 horas. Possuem 200 quilômetros de autonomia e não dependem de eletropostos.
O utilitário com baú e o VUC custam na faixa de 120 a 140 mil, podendo chegar, no caso do VUC, a 180 mil caso queira dobrar a autonomia, incluindo nele duas baterias. Segundo o representante, não existe um modelo elétrico que compete diretamente em preço, por isso o custo de saída pode parecer alto.
No entanto, a longo prazo chega a ser 10 vezes mais econômico que movido à combustão devido ao custo operacional, de manutenção e energia elétrica, e IPVA que são menores no elétrico. A empresa possui parceria com fornecedores locais, centros automotivos, mais mil oficinas no Brasil e com a Weg, fabricante de bateria, sendo esta a marca usada em seus veículos.
“O cliente quer comprar e quer ter segurança que vai ter fornecedores no mercado, que vai ter peças, que vai ter reposição, no caso um acidente”, declara Rodrigo Contrin, CEO da marca. Segundo Contrin, não existe pretensão de investir em caminhões elétricos pesados como fez a Jac e a XCMG.
Caminhões pesados chineses estão voltando?
A partir desse levantamento podemos dizer que as fabricantes não estão voltando, e sim, que algumas montadoras estão apostando no mercado brasileiro com os veículos chineses, por hora, em aplicações leves, urbanas e de curta distância.
Por Jacqueline Maria da Silva