A cada dia que passa, a profissão de caminhoneiro se torna mais estressante. O aumento dos combustíveis, a defasagem do frete e a desvalorização da categoria, são apenas alguns dos motivos que vem desanimando os estradeiros ultimamente. E um dos principais problemas, é a insegurança no trecho que já era algo constante nas estradas brasileiras, mas vem aumentando de maneira alarmante nos últimos meses.
Os números de roubos segundo a PRF
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, houve um aumento de 25% nos casos de roubos de cargas em 2021, sendo Minas Gerais o estado com maior incidência de casos, com 214 relatos de furtos, seguido por Rio de Janeiro e Paraná, com 106 e 84 registros, respectivamente. Além disso, 57 das 128 pessoas detidas pelo crime, foram em território mineiro, o equivalente a 44% das prisões. Apenas os estados do Piauí, Mato Grosso do Sul, Acre, Amapá e Roraima, não registraram nenhum caso, segundo as informações cedidas pela PRF.
O estradeiro Ademir Bernardo Júnior, trabalha com o transporte de peças para montadoras, nunca sofreu qualquer tipo de furto, mas relatou um caso de roubo que aconteceu com o pai dele, que também é caminhoneiro:
“Não, nunca fui roubado na estrada, só o meu pai. Meu pai já foi, já roubaram carga, já roubaram caminhão, em Jacareí e em São Paulo. No roubo de Jacareí, procuramos o caminhão durante dois meses e depois o encontramos todo ‘depenado’. Nesse caso, ele foi até feito refém, levaram ele pro mato e deixaram ele amarrado lá […] Meu pai, que é autônomo, já tá pensando até em parar.”
O sofrimento dos autônomos
Como foi visto no relato anterior, quem sofre mais com o crescimento dos roubos são os caminhoneiros autônomos, que dependem do transporte de cargas para sobreviverem. Um outro estradeiro com quem conversamos, o Júnior Oliveira dos Santos, QRA Tonton, é autônomo e trabalha com o transporte de frutas pelo trecho. Ele nos relatou que felizmente nunca sofreu qualquer tentativa de assalto nas rodovias, mas não deixou de citar a insegurança encontrada no dia a dia, devida a falta de policiamento em algumas estradas:
“O roubo de cargas é uma coisa que não é fiscalizado, a gente não tem aquela fiscalização, entendeu? Nós somos cobrados, mas a fiscalização não é feita da maneira que deveria ser. Tem rodovia que andam a 300 quilômetros, por exemplo, e não há a fiscalização da polícia.”
De acordo com a Pesquisa realizada pela CNTA, “A Realidade do Caminhoneiro Autônomo em 2022”, 33,2% dos caminhoneiros autônomos atrelam a insegurança no trecho como a segunda maior dificuldade da profissão, sendo que 59,7% afirmam nunca se sentirem seguros nas rodovias brasileiras.
Além disso, cerca de 43,4% dos estradeiros afirmam já terem sofrido algum tipo de furto nas estradas. A pesquisa foi realizada com caminhoneiros em cinco cidades diferentes:
- Contagem (MG);
- Feira de Santana (BA);
- Paranaguá (PR);
- Porto de Santos (SP);
- São Paulo (SP).
Dentre os autônomos entrevistados, 79,9% apontaram a região do Porto de Santos, no litoral paulista, como a região mais insegura. O local que menos registrou furtos de cargas foi Feira de Santana com 79,0% dos caminhoneiros afirmando que nunca foram assaltados no trecho.
Ademir, o primeiro caminhoneiro com quem conversamos, cita a falta de apoio da Polícia Rodoviária Federal como um dos motivos para a crescente de casos:
“Na minha opinião é a falta de segurança, totalmente a falta de segurança. Assim, onde a gente poderia ter mais pontos de apoio, mais policiamento, a gente acaba não tendo nada. Temos que nos policiar para situações de divergências onde a PRF tá sempre em cima fiscalizando a gente, porém, muitas vezes, deixam a desejar na segurança do próprio cidadão.”
E de quem é a culpa segundo os estradeiros?
Com as informações passadas aos caminhoneiros, nós os questionamos sobre quem é ou quem são os grandes culpados pela alta dos roubos de cargas nas estradas e o que eles esperam que sejam feitos daqui pra frente visando uma diminuição nos números.
O estradeiro Antonio Édson Pereira, afirma que é necessário um combate a aqueles que incentivam a venda e compra das cargas roubadas no trecho:
“Só acabará quando combater a ponta que financia, a logística reversa que compra e revende os produtos roubados, às vezes mais baratos e até o cidadão de bem é enganado, adquirindo tais produtos oriundos de furtos e assim, sustentam o ciclo vicioso e perigoso para quem tá transportando.”
A “logística” citada pelo Antonio, já foi pauta de uma outra matéria aqui do Pé Na Estrada há alguns anos, quando falamos sobre o processo do roubo de cargas e como o planejamento utilizados pelos bandidos acabam se tornando algo mais eficiente do que o de muitas empresas. Clique aqui no link e confira.
O que a PRF vem fazendo para combater os casos?
Questionamos a Polícia Rodoviária Federal sobre o crescimento dos furtos no último ano e quais ações vêm sendo tomadas pela corporação para combater os roubos de cargas nas estradas brasileiras. Em nota, o órgão nos enviou alguns dados, que foram citados no início desta matéria, além de nos responder com as seguintes palavras:
“As estratégias de combate ao roubo de cargas são bastante variadas e suas utilizações variam de acordo com as características e modus operandi das quadrilhas que atuam numa determinada região.”
Veja Também: São Paulo e Rio de Janeiro representam quase 80% dos roubos de cargas no Brasil
Por Daniel Santana com informações da PRF e da Pesquisa CNTA – “A Realidade do Caminhoneiro Autônomo em 2022”