Caminhões movidos só com biodiesel chegam à Amaggi

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E se os caminhões pudessem rodar apenas com biodiesel, sem precisar do diesel fóssil, isso seria possível? A Amaggi empresa brasileira do agronegócio, estreou seu biodiesel 100% com uma frota de caminhões preparados para rodar com o combustível. 

Os veículos são Scania Super R500, nas trações 6×2 e 6×4, que rodam apenas com o B100. A iniciativa da Amaggi visa a descarbonização dos pesados por meio de uma fonte de energia limpa e sustentável. 

Como aconteceu o Projeto B100? 

A Amaggi é uma companhia especializada na produção agrícola de grãos, fibras e sementes e sempre teve os caminhões fazendo o transporte dentro das fazendas e para todo o Brasil. 

Reconhecendo que o agro é o setor que mais emite CO², o grupo pensou no que poderia ser feito para melhorar o cenário e aplicou práticas ESG (decisões que as empresas podem tomar para melhorar o meio ambiente). Com isso, em 2022, surgiu o Projeto B100.

Caminhões movidos só com biodiesel chegam à Amaggi
Foto: PNE / Biodiesel 100% / Bomba de combustível B100

Hoje o biodiesel no diesel está em 14% e já vem trazendo controvérsias sobre a qualidade na mistura. Agora, imagina rodar com um biodiesel puro, assunto até então totalmente inviável. Isso porque, seja no biodiesel de origem animal ou vegetal, muitos mecânicos relatam problemas na bomba de combustível e entupimento dos bicos injetores nos veículos pesados. 

Apesar de todos os desafios técnicos, a Amaggi, empresa do agro, seguiu em frente e desenvolveu um combustível a base de óleo de soja, ou seja, um biodiesel totalmente vegetal. A ideia de transição energética passou por alguns desafios como a autorização ambiental do Ibama e a regulamentação com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), além de, é claro, desmistificar o pensamento de que o biodiesel estraga a bomba injetora. 

Como esses caminhões funcionam com o B100?

Os caminhões Euro 6 movidos a B100 receberam algumas modificações como o catalisador, aneis de vedação dos tanques de combustível, válvulas resistentes, válvula limitadora de pressão (FOU), e um software para a detecção do tipo de combustível. Além da mudança da cor da tampa de combustível para identificação. 

A frota está com 103 caminhões da Scania R500 rodando apenas com o biodiesel produzido pela Amaggi. Desses, 102 puxam grãos de soja e milho e um é caminhão tanque, que transporta o B100. São 101 caminhões recém-chegados e 2 que estavam em testes desde agosto de 2023.

Os 2 caminhões que estavam em testes desde o ano passado tiveram troca de filtros a pedido da montadora, um rodou 57 mil km e o outro 55 nos dados da Amaggi dos últimos 3 meses. Já os recém-chegados vieram com as modificações necessárias para receber o B100, ainda não rodaram carregados, saíram da Scania e vieram diretamente para a fábrica de biodiesel 100%, da Amaggi, em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. 

Esse biodiesel puro não vai acabar com a bomba de combustível? 

Essa é uma questão que muitos indagam quando pensam no B14 e ainda mais no B100, porém segundo o Diretor de Desenvolvimento de Negócio da Scania, Marcelo Gallao, isso é um mito. O grande segredo para cuidar de motores que recebem biodiesel de qualquer quantidade é a manutenção e o uso de aditivos bactericidas. O biodiesel é um combustível que vem de materiais orgânicos e em contato com o oxigênio pode formar bactérias e fungos. 

Os cuidados já são um fato com o B14, como a troca de filtros e a drenagem do filtro racor (que separa a água) para não haver a formação de borras e o caminhoneiro ter que fazer a limpeza total do tanque ou passar por problemas mecânicos mais sérios. Embora os caminhões B100 saiam de fábrica com pequenas alterações, os cuidados com o combustível permanecem os mesmos.

Segundo Gallao, esses caminhões são projetados para rodar apenas com o B100, mas em uma eventualidade eles podem receber o diesel S10 para rodar por no máximo 2 mil km. A montadora entende que o B100 é um novo combustível e por isso o veículo recebe um software para identificar o diesel, embora o caminhão seja para rodar apenas com o biodiesel 100%, ele pode receber o S10 só em caso de emergência. 

E os caminhoneiros, o que acham da novidade?

De toda a frota da Amaggi, 14% dos caminhões são movidos a B100. O motorista de um desses caminhões é o Malsio de Araújo, ele está com um caminhão caçamba 6×4 que irá transportar grãos, ou seja, que irá fazer o trabalho pesado.

Caminhões movidos só com biodiesel chegam à Amaggi
Foto: PNE / Biodiesel 100% / Motorista Amaggi -Malsio de Araújo

Ele explica que o caminhão ainda não rodou carregado, mas que os cuidados são os mesmos que teria com o S10, não apresentou diferença no consumo e nem no seu desempenho. O caminhoneiro ainda diz se sentir feliz por participar de um projeto para um combustível que irá reduzir em 99% as emissões de CO² na atmosfera. 

“A diferença para o outro você não sente, é a mesma estabilidade, mesma pegada. Estamos com o caminhão há 10 dias, que pegamos em São Paulo, rodei com ele 2.100 km vazio. O consumo está ótimo, mas não temos uma base ainda porque viemos sem lona e colocamos ela em Cuiabá, por isso não temos uma precisão certa de carregado e vazio… Foi bom receber a proposta de dirigir um veículo 100% a biodiesel, isso é um benefício para nós mesmos e a nossa família futuramente, a gente fica muito feliz porque estará ajudando o meio ambiente e nós mesmos.”

Segundo Ricardo Tomczy, responsável pelas Relações Institucionais da Amaggi, os caminhões não terão tanta diferença de consumo mesmo comparado ao S10. Apesar do B100 ter uma eficiência energética menor, ele será mais barato no mercado. Ele arrisca dizer que a diferença de preço hoje seria de -9% comparado ao litro do diesel, embora os dados possam modificar devido aos preços variarem todos os dias. 

Em outras palavras, o B100 pode ter um consumo a mais de 3 ou 4%, mas isso será compensado pelo preço menor que terá no mercado. Então, mesmo que o consumo aumente, comparado ao B100, a opção do biodiesel não tem tanta diferença de custo. Além dessa vantagem, o frotista irá ajudar o meio ambiente reduzindo a quase zero essas emissões de carbono. 

Quando o B100 estará no mercado? 

A Amaggi está em projeto piloto após os testes em 2 caminhões e agora a frota de mais de 100 unidades. A empresa também está testando o B100 em 21 máquinas agrícolas John Deere na Fazenda Sete Lagoas, Diamantino (MT), e 7 máquinas da marca na fazenda Itamarati, Campo Novo do Parecis (MT), divididas entre verdes e amarelas. A diferença é que na fazenda Sete Lagoas todo o maquinário é movido a B100, já na Itamarati existem mais máquinas operando com o diesel S10. 

Caminhões movidos só com biodiesel chegam à Amaggi
Foto: PNE / Biodiesel 100% / Máquinas Agrícolas B100

A companhia do agro está iniciando os testes na nova frota agora, então o biodiesel será apenas para consumo interno, além das máquinas e caminhões, também foram feitos testes fluviais. Segundo a Amaggi, eles estão trabalhando para expandir o projeto para exportação também e logo irão divulgar dados da rodagem desses caminhões B100. 

A Scania diz ter novos clientes interessados nos caminhões a biodiesel 100%, e quer aproveitar essa parceria para explorar o comércio desse novo produto que pode revolucionar a descarbonização dos pesados, comparado aos produtos que tem disponível como os elétricos, os caminhões movidos a GNV e a hidrogênio. 

Veja também: Volvo planeja caminhão movido a hidrogênio, com base no próprio seis cilindros

Por Thaís Corrêa

 

Filha de caminhoneiro, recém-formada em jornalismo, resolveu usar a comunicação para manter a classe bem informada e, com isso, formar novas gerações de motoristas profissionais cada vez melhores para o futuro do país.

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