O ano, 1979. O lugar, uma rede, em cima do trio elétrico. Foi lá que dona Rita de Cássia Pereira sentiu o raiar do dia enquanto aguardava o bloco entrar na avenida. Quando o sol bateu no rosto, veio a inspiração para o nome da empresa “Sol Nascente”. Ela deu o nome, mas o inventor dos veículos festivos, que hoje são o ganha pão da família, foi o marido, Juvenal Pereira. O mecânico e motorista está a mais de 40 carnavais na estrada. Isso porque, ele produz, aluga e dirige trios elétricos em eventos de todo o Brasil. Conheça a história dessa família!
O primeiro carnaval e a ideia de fazer trios elétricos
Pioneiro nesse ramo, Juvenal conta que veio da Bahia para São Paulo na década de 70 para trabalhar como mecânico. Por volta de 1977, foi ao feriado de carnaval de rua da avenida Tiradentes. Por lá, não viu trio elétrico, o que chamou sua atenção. Na época, inventou uma peça de veículos e resolveu testá-la produzindo um trio elétrico no cavalo mecânico de um Chevrolet C60, o primeiro em carreta da região.
A peça vendeu muito bem, tanto que ele entrou em parceria com uma grande montadora. Em paralelo, o primeiro trio, Sol Nascente 1, fez tanto sucesso que se tornou uma referência e inspiração para elaboração de outros carros, inclusive os alegóricos, usados em desfiles, garante.
O sol nasceu alto para essa família e o trio os levou longe, pois com o veículo conseguiram grandes contratos para fazer carnavais e caravanas para uma famosa empresa de alimentícios da época, e assim ficou por 25 anos. A instituição acabou pedindo a construção de veículos semelhantes para anunciar outros produtos. Foi assim que o mecânico elaborou mais 5 trios, usando caminhões tocos, cavalos mecânicos e até um chassi de ônibus, preparado como uma casa sobre quatro rodas.
Mais tarde, Juvenal vendeu e ficou com um toco e uma carreta puxada por um Mercedes-Benz 1934, conhecida como Teresona. A conjunto foi construído para a inauguração do Parque da Xuxa, em 2000, mas hoje desfila nos blocos de ruas de São Paulo. O inventor, como gosta de se intitular, criou seus modelos de trios em uma época em que não havia nem legislação, mas prestando atenção às configurações da cidade para poder circular sem riscos de acidentes.
Ouça o podcast em que Juvenal fala como são produzidos trio elétricos.
Mais de 40 carnavais na estrada
Juvenal está literalmente há mais de 40 carnavais na estrada, para ser exato, 44. Hoje, ele só faz blocos no carnaval em São Paulo, mas como todo bom estradeiro, viajou com a família por diversos estados do Brasil, pois seus trios foram sempre muito requisitados. E não somente para bloquinhos, também para Parada Gay, publicidade, comícios, manifestações, festivais e até inauguração de vias, como a avenida Goiás, no mesmo estado.
Juvenal fez questão de tirar a Carteira Nacional de Habilitação E para dirigir os veículos com combinação pelas estradas até os locais de bloco e dentro dos blocos. Mais tarde o filho, Juvenal Junior, passou a montar as carretas também e a dirigir como o pai.
As filhas, Cristiane e Viviane, e a esposa, Rita, possuem habilitação categoria D, ou seja, que podem dirigir os trios, porém os feitos em chassi de caminhão. Os três filhos seguiram pelo mesmo caminho e já crescidos passaram a tocar a empresa junto com o pai. Cada um faz um pouco de tudo para manter Sol Nascente de pé.
Porque conduzir uma empresa como essa, que vive de eventos sazonais, também não é fácil. Viviane, que administra e organiza a agenda, tem uma baita trabalheira para conseguir contratos. Um veículo dessa proporção custa em torno de R$ 6 milhões para ser montado, mas o retorno pode demorar um pouco, já que o preço médio do aluguel gira em torno de R$ 25 mil.
E mais ainda, colocar os trios na rua. Isso porque para trafegar, no trajeto até os locais, no estacionamento do veículo e na circulação dentro de blocos, são necessárias diversas licenças e autorizações específicas. São muitas curiosidades sobre trios elétricos (assista nesse reels).
“Puxando o trio”: os desafio do caminhoneiro de trios elétricos
Dirigir trios elétricos não é pra qualquer um não, é por isso que alguns lugares pedem até formação, como Salvador, de acordo com Juvenal. Ele fez o curso e hoje passa esses ensinamentos aos caminhoneiros que dirigem seus trios. A família afirma que nunca passou por nenhum perrengue dentro do bloco.
Segundo Juvenal, o pai, não é possível se divertir em cima do trio, já que a atenção e toda voltada para o movimento das pessoas que seguem o veículo e na segurança desse pessoal. Para o filho, Juvenal Jr, o próprio movimento com as pessoas em cima do trio e a música animam o motorista, mas não pode tirar a mão do volante.
Agora, mais difícil que dirigir um caminhão na estrada, é puxar o trio no meio da multidão, garantem. O percurso por locais mais estreitos, o volume de pessoas sobre o trio, que as vezes ultrapassa 53 toneladas de peso bruto total combinado, foliões ao lado, e a velocidade de 5 quilômetros por horas sem dar tranco são desafiantes.
Enquanto o caminhoneiro leva o alimento, a roupa, o medicamento, o caminhoneiro de trio elétrico leva alegria e diversão. Sem o motorista, sequer teria o trio, por isso, eles são peças imprescindíveis para que o carnaval de rua dê certo. São eles, que literalmente puxam o bloco.
Assista também ao programa Pé Na Estrada que tem a matéria que conta a história da Sol Nascente
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Por Jacqueline Maria da Silva com fotos de arquivo pessoal da família.