Ônibus da década de 70 vira herança de família

Qual era sua brincadeira preferida na infância? Muitos estradeiros poderiam dizer que era dirigir carrinhos em miniatura. Carlos Henrique Rocha Reis, 7 anos, gosta bastante de seus veículos de brincadeira, mas o preferido é o de verdade: um Mercedes-Benz Monobloco 362 fabricado em 1977, presente do pai. No entanto, essa relíquia pertenceu primeiro ao avô. Conheça a história do ônibus da década de 70 que se tornou herança de família. 

Ônibus da década de 70 vira herança de família
Carlos Henrique já tem roupinha de motorista

Ônibus herança atravessou três gerações

O avô, José Carlos

A história do “ônibus herança” não existira sem o José Carlos dos Reis de 64 anos de Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele começou no ramo do transporte de passageiros em 1978 e, quatro anos depois, fundou a própria empresa de ônibus, a Centauro Turismo, que promove viagens para todo o Brasil.

O monobloco 1977 foi um dos primeiros com os quais ele trabalhou, mas ao longo do tempo José foi renovando sua frota e não sobrou nenhum do modelo. Por isso, ele resolveu ir atrás de uma unidade semelhante para guardar como relíquia. Ele encontrou um idêntico, com pouco tempo de uso e que precisava de poucos reparos e nenhum restauro.

O veículo original, que completa 20 anos com a família, não é usado para trabalho. O ônibus só sai da garagem por um bom motivo, como participar de exposições, eventos e competições. “Com esse ônibus aqui, a gente já foi em vários encontros, Águas de Lindóia, Brasília, São Paulo, sempre que tem a gente tá indo, pra expor”. E quando sai: “Toda hora é um tirando foto, buzinando, uma farra, pessoal acha muito legal”, afirma.

Para mantê-lo com aparência de novo, o ônibus herança é guardado debaixo de uma coberta, protegido do sol e da chuva. “A gente tá sempre dando um ‘grauzinho’, um toque de elegância. Tem que cuidar porque ele não pode com sereno e nem com chuva, senão enferruja […] hoje os carros são de alumínio, plástico, esse a maioria é ferro”, explica. 

Para José, o veículo é muito especial porque, além da sensação de nostalgia, a direção é macia e confortável. Essa relíquia de família, cheia de memórias afetivas, foi presenteada ao filho mais velho, Jefferson. “Desde pequeno, tá na estrada junto comigo, cresceu junto na empresa, hoje ele faz parte da dela”, conta José sobre os motivos de ter presenteado o primogênito. 

Ônibus da década de 70 vira herança de família
Família veio de Belo Horizonte para expor o veículo na festa de 19 anos do Pé Na Estrada na TV

O filho, Jefferson

Jefferson Henrique dos Reis, 34 anos, é filho de José Carlos e pai de Carlos Henrique, sendo assim, o segundo proprietário do Mercedes-Benz, pelo qual tem um enorme carinho. “Esse ônibus é especial porque desde os três anos, de quando tenho memória, eu tenho lembranças de andar em um modelo idêntico a esse”, esclarece. 

O rapaz começou como motorista de ônibus aos 21 anos e atualmente dirige o setor de manutenção da empresa de turismo do pai. Foi ele que levou o Mercedes ao evento de 19 anos do Pé Na Estrada, onde concorreu na categoria de “+ da hora” entre os antigos. Embora a família não tenha ganhado nesse dia, Jefferson destaca que já receberam diversas premiações com o veículo. “Todas importantes, pelo reconhecimento”, afirma José Carlos.

Jefferson conta que toda sua vida foi dentro de transporte e que, assim como acompanhava o pai, agora tem o filho como companhia nas viagens. Tendo o bagageiro como dormitório, o jovem afirma que a vida de estradeiro é uma verdadeira escola. “Tudo que eu aprendi hoje tanto como experiência de vida quanto profissional foi no meio da estrada”. 

Segundo ele, o ônibus é a herança de gerações, mas o legado da família é a paixão pelas estradas. É um caminho natural que já identifica em seu filho. “Isso meio que tá no sangue, não precisa a gente ensinar, vem dele mesmo, eu não forço ele a nada, é o gosto dele e ele vai seguindo”, complementa. 

Ônibus da década de 70 vira herança de família

O neto, Carlos Henrique

Carlos Henrique sequer tem idade para obter a CNH e tampouco começar a dirigir. Apesar disso, mesmo sendo quase do tamanho do volante do próprio ônibus, ele demostra que o amor pela estrada pode vir de berço. O garoto representa a terceira geração da família que pretende seguir a vida na estrada. “O papai me ensinou a ter essa paixão”, revela.

Ele viaja com o pai desde os dois anos de idade, “[Já fui] para muitos lugares”, declara. Sem boleia, ele tira suas sonecas no apoio do fundo do ônibus de passeio. Quando recebeu o Mercedes do pai, ficou muito feliz, conta, porém sabe que ainda vai demorar para dirigi-lo. Pergunto se está ansioso por isso. Ele prontamente responde que sim. 

Parece que ele já está preparado, já que desfila com roupinha de mini motorista feita pela avó Maria Conceição Reis. “A vovó também fez o crachá”, mostra feliz o detalhe. “Desde de pequenininho falei ‘ah vou fazer a roupa’, desde de dois anos ele tem uniforme”, acrescenta ela. 

Ônibus da década de 70 vira herança de família
As três gerações reunidas no ônibus

Avó, grande incentivadora 

Conceição relata que sempre achou a profissão de motorista linda e até chegou a dirigir um ônibus. “A sensação é muito boa, mas não quis seguir a profissão”. Quando conheceu seu marido, ele ainda não era motorista. No entanto, ao longo dos 41 anos juntos, nunca deixou de acompanhá-lo em suas viagens.

Desde o início, quando ele fazia as entregas com uma Kombi, até o momento em que começou a fazer excursões turísticas, Conceição esteve presente nos bastidores, mas desempenhando papel como protagonista ao incentivar a paixão que foi transmitida de geração para geração.

Inicialmente, ela levava os filhos juntos. “Eles [filhos] foram criados dentro do ônibus, tomavam banho de torneira no meio da estrada. Uma vida muito gostosa que tenho saudade”, descreve com doçura. Agora, por meio de pequenos gestos, ela incentiva o neto a seguir a vida na estrada. 

Veja o depoimento dos familiares no vídeo abaixo. 

Por Jacqueline Maria da Silva. 

1 COMENTÁRIO

  1. parabéns pelo neto que gosta de ônibus antigos
    a vó tem que ensina o neto gostar de coisa boas de verdade
    eu gosto muito de ônibus antigos de verdade

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