O preço do diesel nas alturas, fretes que não acompanham, riscos nas rodovias e a falta de valorização profissional, essas são algumas reclamações de quem percorre o trecho. Hoje é o Dia do Caminhoneiro em vários estados, mas a categoria não tem muito o que comemorar no momento. As eleições estão logo aí e é hora de decidir os próximos quatro anos de uma gestão que pode contribuir com a vida do estradeiro. Perguntamos então para profissionais da área: E aí, o que os caminhoneiros esperam do próximo governo?
Os problemas do trecho segundo os caminhoneiros
Infraestrutura
Daniel Gonsalves Rodrigues, o Danielzinho, 38 anos, queixa-se da falta de pontos de parada nos trechos entre São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, locais que percorre. “Deveria ter um a cada 100 quilômetros, pelo menos, já ajudaria bastante”, sugere.
“Eu trabalho desde 2017 com caminhão, eu nunca vi um, só entro em posto pago, ou que a empresa abastece”, confirma Jessé Albertasse, o Novato, 31, que mora no Rio de Janeiro, mas roda por todo Brasil.
Esse não é o único problema das rodovias, afirma ele, tem também a má iluminação e sinalização, falta de conectividade, condição do asfalto, falta de acostamento e duplicação, sobretudo nas rodovias do centro-oeste, norte e nordeste. “A mesma estrada que eu passava há ’40 anos’, tá do mesmo jeito”, expõe.
De acordo com o catarinense Roberto Carlos Alves, o Beto, Labareda, 41, a falta de infraestrutura afeta diretamente o salário dos caminhoneiros contratados, pois qualquer evento no caminhão por conta da precariedade da estrada e falta de segurança é descontado da folha de pagamento do funcionário.
“A empresa não tem como tirar o custo do pneu, da manutenção do caminhão. Como ela faz? Apertando o salário, apertando as diárias, comissões, essas coisas, que fazem o salário melhor” desabafa Beto.
Condições de trabalho
Para os caminhoneiros contratados, como Danielzinho, Jessé e Beto Labareda, os baixos salários não acompanham a inflação. A comissão sofre descontos porque também é avaliada pelo desempenho do motorista, e o trabalhador que passa um dia sem trabalhar por um carro quebrado, por exemplo, não alcança a meta. Resultado é bolso mais vazio no fim do mês, contam.
Eles atribuem os “abusos” por parte da empesa às brechas nas leis trabalhistas, com isso as transportadoras agem em prol da sua manutenção nas condições atuais, mas acabam prejudicando os caminhoneiros. “A gente trabalha como se tivesse alugando o caminhão da transportadora, como se fosse um sócio e não um empregado”, complementa Daniel.
Um exemplo da brecha na lei, segundo Beto, é que a comissão adquirida por eles vai para a folha de pagamento, como se fosse o salário, mas é um benefício, que acaba sendo descontado nos impostos do governo. “A gente não pode taxar um funcionário pela folha de pagamento e sim pelo que recebe na carteira”, reclama.
A lei trabalhista também não favorece o caminhoneiro autônomo, de acordo com Paulo Henrique Ferreira da Silva, 36 anos, o Chocolate Chofer, de Sergipe. Ele cita o desvio de funções nas empresas, falta de valorização profissional, a falta de pagamento pelas horas extras e diárias baixas que não permitem sequer uma boa alimentação, explica ele.
O desrespeito pela categoria também é frequente nos processos seletivos, devido à falta de regulação. “A gente gasta dinheiro de passagem, de alimentação e para fazer exames admissionais, desentera o dinheiro de outras coisas, e a empresa manda WhatsApp dizendo que foi suspensa a contratação. Isso mexe com o psicológico do caminhoneiro”, desabafa.
O problema do preço do diesel
“Rodar com o diesel do preço que tá para trabalhador autônomo, tá difícil”, conclui Paulo Henrique. Não é uma opinião isolada. Todos os entrevistados trouxeram o preço do diesel como um dos vilões do momento na vida do caminhoneiro. “Um óleo diesel a R$7,50 ou R$8…deveria estar R$ 3,50, isso é uma crueldade com o povo”, comenta Beto.
Beto e Jessé entendem que o transporte é um dos responsáveis por acelerar e desacelerar a economia do país. Por isso eles questionam a política de preços da Petrobras, que se baseia no mercado externo e é afetada pelo valor do dólar. “O dólar tá em alta, e o Brasil estagnado”, acrescenta Jessé.
Dá pra mudar o cenário na urna, caminhoneiro?
Uma pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), de maio de 2022, com mais de 2 mil pessoas de diversos estados, mostrou que pelo menos 4 em cada 10 pessoas entrevistadas possuem uma avaliação negativa da gestão do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Uma média de 6 a cada 10 avaliam áreas de atuação do governo federal como pior do que o esperado por elas (saúde, segurança; combate a corrupção; educação; meio ambiente; emprego e renda; e benefício aos mais pobres)
Cerca de três em cada dez pessoas acharam a gestão dos governadores de seus estados negativa (ruim ou péssima). Mais de 50% das pessoas que participaram da pesquisa não se recordam em quem votaram para senador, deputado federal e deputado estadual. Mais de 68% também não acompanham o trabalho ou sabe o que os políticos que ocupam estes cargos na atual gestão têm feito.
Esse último dado é um dos mais significativos, uma vez que as eleições atuais serão para 5 categorias: Deputado Estadual e Federal, Senador, Governador e Presidente da República. Em muitos casos, se atribui maior importância aos dois últimos postos. Contudo, Senadores e Deputados têm como função criar, alterar e votar as leis. Eles é que deveriam representar os interesses da população nas cadeiras do Congresso
Para os caminhoneiros entrevistados, existe pouca representatividade da categoria no Congresso e Senado e os que deveriam ter um olhar para o transporte não estão agindo a favor do setor. É importante pesquisar antecipadamente os candidatos.
“Vejo se o cara já tem cargo público, se fez algo e o que foi feito. Precisa fazer uma pesquisa prévia e pensar menos com emoção, porque nem todo mundo que fala que vai ajuda o caminhoneiro, ajuda”, declara Jessé.
“Eu tento ser bastante antenado nessas coisas, assisto jornal, vejo notícias em relação a divulgação de campanha política e quando o cara toca no nome da categoria, para estar informado e não ser passado para trás”, relata Paulo Henrique.
“Meu candidato já tá certo, é o que mais olhou para os caminhoneiros hoje, que tá dando mais suporte para os caminhoneiros, quem sabe no próximo mandato ele vai dar um suporte maior pra gente”, afirma Danielzinho.
Para Beto Labareda tem como critério de escolha o carácter do candidato, que não atenda a interesses próprios. “Toda lei que é feita ou votada já é deixada uma brecha para que eles possam fazer desvio de dinheiro”.
Afinal, o que os caminhoneiros esperam do próximo governo?
Para o caminhoneiro Beto Labareda uma das primeiras ações do novo governo é ajustar a condição financeira do país, que consequentemente afetará positivamente a categoria. Jessé acrescenta a necessidade de reajuste do salário que acompanhe a alta do diesel e alerta para a escassez de profissionais na área e o fim dos autônomos se não houver esse olhar para a categoria pelos próximos governante.
“Eu mesmo já pensei várias vezes em largar a estrada. Aqui na rodagem tá tendo uma demanda de profissionais enorme, gente vendendo o caminhão, abrindo loja, fazendo outra coisa pra abandonar a estrada, exemplifica.
Daniel espera que os governantes escolhidos cumpram suas promessas de campanhas, e exemplifica com a questão dos pontos de paradas que estão previstos em contratos de concessão. Além disso, relata a necessidade de fiscalizações adequadas na estrada que não acarretem descontos desnecessários para o estradeiro. “Tudo que o guarda faz nas estradas, implica direto no salário do motorista”.
Nesse sentido, Jessé alerta que é preciso acompanhar se as propostas do governo atual serão levadas adiante, como bolsa caminhoneiro e o programa Renovar, e se saírem do papel, quais os reais efeitos na vida do caminhoneiro.
Um alerta importante para quem sonha em ter o próprio caminhão, como Paulo Henrique. O motorista aguarda que a próxima gestão crie mecanismos de facilitação de crédito para aquisição de veículos com juros acessíveis.
Com tantos desafios, os entrevistados acreditam em uma futura gestão mais preocupada com o setor transporte, sobretudo com os caminhoneiros. “Eu espero dos políticos que entendam que o transporte rege tudo, um transporte que não custa caro, automaticamente vai refletir na mesa”, conclui Beto Labareda.
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Por Jacqueline Maria da Silva
Espera que se crie uma lei, onde o piso salarial do caminhoneiro seja um salário compatível com a categoria, onde ele possa trabalhar com carteira assinada, e que receba este salário sem trabalhar por comissão, muitas empresas assinam a carteira colocam lá o salário fictício mas o profissional não recebe aquele salário, só recebe a comissão.. Por cada viagem.
Se tiver uma lei onde o motorista tenha apoio do governo, e ele ao entrar numa empresa seja registrado com um salário digno e a empresa tenha obrigatoriedade por lei de pagar o salário, e sendo proibida de contratar por comissão.. Será uma benção para os motoristas.
Um salário digno hoje pelo tamanho e importância da função.
No mínimo ( 15.000,00.) quinze mil reais
É um salário de bom tamanho..
Obg.